XV Bienal Internacional do Livro do Ceará realiza palestra para internas do sistema prisional
9 de abril de 2025 - 17:23 #Ceará #internas #palestra #SAP #sistema prisional #XV Bienal do Livro
Natasha Ribeiro Bezerra - Ascom SAP - Texto e fotos
A Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização (SAP), em parceria com a XV Bienal Internacional do Livro do Ceará, promoveu uma palestra com a escritora Nina Rizzi sobre o tema “O que pode a escrita?”, destinada às internas da Unidade Prisional Feminina Desembargadora Auri Moura Costa (UPF).
A atividade fez parte do Bienal Adentro Ceará, um projeto de extensão da Bienal que leva literatura e arte a comunidades de diversos contextos, incluindo aquelas privadas de liberdade, promovendo a inclusão cultural fora dos limites do Centro de Eventos do Ceará.
A cerimônia de abertura contou com a presença de diversas autoridades, incluindo representantes da Secretaria da Educação do Estado do Ceará (Seduc), que integram a equipe da EEFM Aloísio Leo Arlindo Lorscheider, a primeira instituição do Estado do Ceará dedicada exclusivamente à educação nas unidades prisionais da região metropolitana de Fortaleza. Durante o evento, o grupo musical “Acordes para a Vida”, formado por internas da unidade prisional e regido pelo maestro Gladson Carvalho, encantou os convidados com uma apresentação musical.
Logo após, internas participantes do projeto “Livro Aberto” prestaram uma homenagem à escritora Nina Rizzi, lendo trechos de seus poemas e livros. Durante a palestra, Nina compartilhou sua trajetória pessoal e literária, destacando a importância de acreditar em si mesma e ressaltando o poder libertador da escrita e da leitura.
A diretora da Unidade Prisional Feminina Desembargadora Auri Moura Costa (UPF), Socorro Matias, fala que a Bienal é uma oportunidade única para as internas, um evento que simboliza a renovação e a ressignificação de suas vidas. “É um momento muito importante, especialmente para as internas, que têm a chance de mudar suas trajetórias. Com quase 30 anos de experiência no sistema penitenciário, vejo a evolução constante, principalmente entre as mulheres, que, apesar das dificuldades, buscam a mudança. O trabalho da Secretaria de Ressocialização tem sido essencial nesse processo, e a maior prova disso são as próprias internas, que, com suas histórias, mostram a verdadeira transformação”, afirma.
O professor da EEFM Aloísio Leo Arlindo Lorscheider, que ensina na Unidade Prisional Feminina Desembargadora Auri Moura Costa (UPF), Narcelio Fernandes, fala sobre a importância da leitura. “A leitura é fundamental para a autoestima, que pode ser positiva ou negativa. Espero que, através dela, vocês desenvolvam uma autoestima positiva, além de estimular a criatividade e a sociabilidade. A leitura nos permite viajar, sonhar e alcançar nossos objetivos. Os livros oferecem infinitas possibilidades, como a chance de estudar a distância e conquistar o sucesso profissional”, disse.
A palestrante e escritora, Nina Rizzi, se emociona ao falar da experiência. “Estou muito grata e emocionada com tudo o que vivi aqui. Ouvir as histórias e os poemas de outras mulheres, ver a música e as apresentações, foi incrível. Agradeço ao projeto Livro Aberto, que não só auxilia na remissão da pena, mas também na remissão da vida, oferecendo novas perspectivas e caminhos. Fico feliz de ter feito parte desse momento e tenho certeza de que essas mulheres irão seguir transformadas, criando e produzindo. Só tenho a agradecer a todos que acreditam na mudança e possibilitam que essas mulheres se sintam dignas e capazes”, concluiu.
A interna da Unidade Prisional Feminina Desembargadora Auri Moura Costa (UPF), Maria Vladina Carneiro, agradece a oportunidade. “Participar deste momento da Bienal foi uma experiência gratificante. A leitura é fundamental para nós, pois, apesar de estarmos presos fisicamente, nossa mente está livre. Esse evento me mostrou que aqui não é um fim, mas uma vírgula para recomeçar uma nova história”, atenta.
Projeto “Livro Aberto”
O projeto Livro Aberto visa a ressocialização e o desenvolvimento pessoal e educacional de pessoas privadas de liberdade, por meio da leitura de obras literárias que trazem diversas reflexões sobre temáticas sociais e, ainda, pode remir quatro dias de pena a cada leitura trabalhada.
O interno escolhe, a cada mês, uma obra literária dentre os títulos selecionados para a leitura. O participante tem o prazo de 21 a 30 dias para apresentar o relatório de leitura ou resenha. O relatório deve ser elaborado de forma individual, presencial, em local adequado.
A resenha que atingir a nota igual ou superior a 6,0 é aprovada pela Secretaria de Educação do Estado do Ceará (Seduc). Depois, é levado para a vara judicial para ser avaliado sobre a redução da pena. Ao final de 12 obras lidas e avaliadas, ele terá a possibilidade de remir 48 dias no prazo de 12 meses da pena.
EEFM Aloísio Leo Arlindo Lorscheider
A EEFM Aloísio Leo Arlindo Lorscheider é a primeira unidade do Estado do Ceará designada para atender, exclusivamente, à demanda de educação nas unidades prisionais da região metropolitana de Fortaleza.
O estabelecimento de ensino faz parte da estrutura organizacional da Secretaria da Educação do Estado do Ceará e tem como objetivo coordenar as ações pedagógicas, administrativas e financeiras desenvolvidas no contexto de escolarização no sistema penitenciário cearense, com oferta em diferentes níveis de ensino da educação básica, na modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A oferta educacional é realizada em doze unidades prisionais da Região Metropolitana de Fortaleza, localizadas nos municípios de Itaitinga, Aquiraz, Pacatuba e Caucaia. O corpo docente é composto por 106 professores, atendendo cerca de 2.500 internos, distribuídos em 146 turmas, abrangendo desde a alfabetização até os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Além das atividades escolares, a instituição também gerencia o projeto Livro Aberto, que conta com a participação de aproximadamente 10.000 internos, inscritos no programa de remição de pena pela leitura.
Doação de Livros
Para a doação de livros às bibliotecas das unidades prisionais, é preciso que as obras estejam em bom estado de conservação e que sejam de literatura brasileira (clássico, romances e modernos), literatura estrangeira, bestsellers, autoajuda e religiosos. A entrega dos livros pode ser feita na sede da Coispe (Av. Heráclito Graça, 600) ou através do telefone (85) 3101-7718.