Idade como barreira: os desafios da recolocação profissional após os 50 anos
15 de abril de 2025 - 11:51 ##Emprego #Profissional #Inclusão #Caged #SET
Ascom SET - Texto
Guilherme Freire - Ascom SET - Fotos
Em um cenário de constantes transformações no mercado de trabalho, a inclusão de profissionais acima de 50 anos ainda apresenta um panorama desafiador para quem pertence a esse grupo etário. Apesar dos indicadores revelarem um aumento nas admissões nos últimos anos, para essas pessoas, o caminho para a formalização e a permanência no emprego ainda esbarra em muitos obstáculos.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho (CAGED), demonstram que, em 2023, no Ceará, foram registradas 38.090 admissões de pessoas com mais de 50 anos, indicando uma leve recuperação em relação a anos anteriores. Em 2024, esse número subiu para 42.184, sinalizando uma maior abertura do mercado para a inserção desses profissionais, no entanto, apesar dos esforços de inclusão, ainda existem barreiras significativas que precisam ser superadas.
No setor informal, de acordo com Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD Contínua), nos últimos dois anos houve um leve crescimento do número de ocupações de pessoas 50+. No último trimestre de 2023, por exemplo, o registro chegou a 270.814, passando a 326.860 no mesmo período, em 2024.
Superar preconceitos, valorizar a experiência
Os desafios enfrentados pelos 50+ são multifacetados. Um dos principais obstáculos vem da ideia de que profissionais mais velhos são menos adaptáveis às novas tecnologias e dinâmicas de trabalho. Para o secretário do Trabalho, Vladyson Viana, diante de um panorama de envelhecimento populacional, é fundamental que as empresas e o mercado de trabalho como um todo, reconheçam e valorizem o potencial da mão de obra 50+. “Ignorar o potencial dessa parcela da população seria não apenas um erro estratégico, mas também uma perda significativa de capital humano. O valor desses profissionais vai além da simples experiência técnica, ele se manifesta em uma maior estabilidade emocional, senso de responsabilidade e a capacidade de lidar com situações complexas com serenidade”. De acordo com o secretário, essas competências representam um diferencial importante, seja em ambientes de trabalho dinâmicos e sob pressão, ou na mentoria de equipes mais jovens quando da necessidade da tomada de decisões estratégicas.
Alternativas para a inclusão
É importante ressaltar ainda, o crescente ingresso das pessoas nessa faixa de idade no empreendedorismo. Seja por necessidade ou por desejo de autonomia financeira, muitos profissionais 50+ estão utilizando sua experiência e rede de contatos para iniciar seus próprios negócios, criando novas oportunidades de trabalho.
Nesse aspecto, as políticas públicas de incentivo ao empreendedorismo por meio da oferta de crédito produtivo, são alternativas que asseguram a inclusão desse segmento populacional, com geração de ocupação e renda. Além disso, as parcerias com empresas para a captação de ofertas e intermediação para vagas de emprego também são estratégias importantes para o enfrentamento do etarismo e a ampliação das oportunidades.
Segundo dados da Base de Gestão de Intermediação de Mão de Obra do Ministério do Trabalho (BGIMO), nos últimos dois anos, cerca de 5 mil trabalhadores acima de 50 anos foram inseridos nas vagas de emprego intermediadas pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT/Sine). O órgão é o braço operacional da Secretaria do Trabalho no que compete a ações para a geração de emprego e renda no estado, por meio do sistema público de emprego.
Para o presidente do IDT/Sine, Raimundo Angelo, os indicadores ainda são modestos, mas há um esforço do órgão no sentido de ampliar as oportunidades para todos. “Além de facilitar o acesso ao mercado formal, nós também apoiamos o profissional autônomo, intermediando e assegurando contratos de prestação de serviços, com segurança e confiabilidade para ambas as partes. Em 2024, por exemplo, metade dos profissionais que foram encaminhados para algum serviço tinham idade entre 50 a 65 anos e isso nos desafia a transformar essas relações de trabalho em inserções estáveis e cada vez mais satisfatórias”, ressalta.
Experiência que Inspira: profissionais 50+ mostram força no mercado formal
“É importante se qualificar e manter a saúde em pé”
José Pereira Filho, ou simplesmente “Seu Pereira”, como é conhecido na empresa onde trabalha, atuou por 20 anos no setor informal, até conseguir o atual emprego como mecânico de máquinas industriais, na Companhia de Alimentos do Nordeste (Cialne). Aos 66 anos de idade, ele comemora a oportunidade ressaltando, entre outros, a importância do registro em carteira para completar o tempo de requerer a aposentadoria. Contudo, não pretende parar.
“Eu tenho muito conhecimento em parte elétrica e mecânica de máquinas, foi essa experiência que me ajudou a conseguir a minha colocação. Meu principal desafio antes do emprego era me manter e manter a minha família. Meu conselho para os que ainda estão em busca de um lugar no mercado é não desistir. Eu nunca desisti, sempre persisti. É importante se qualificar e manter a saúde em pé. Hoje, na minha área, a gente tem muito mais o que aprender do que ensinar, porque as coisas mudaram muito e é uma mudança constante”, ressalta.
40 anos de experiência, orgulho e gratidão
Neste ano, Luiz Diniz, 76 anos, motorista, completou quatro décadas de atuação em um único emprego, também na Cialne. Aos 76 anos, a sua trajetória permeia a história da própria empresa, acumulando uma bagagem de muitas vivências, orgulho e gratidão pelas oportunidades conquistadas.
“Estou muito satisfeito, graças a Deus! Se o tempo voltasse, eu faria de novo o mesmo que eu fiz. Formei meus filhos através desse trabalho, tenho muita gratidão por esse emprego. Entrei aqui com 36 anos, e passei por vários setores, sempre trabalhei e trabalho para dar o melhor. Sempre que eu assumia um setor, na minha opinião, aquilo era meu, então eu tinha que fazer como se fosse para mim. Hoje eu posso dizer que eu ponho a cabeça no meu travesseiro e durmo tranquilo. Pra mim aqui é como se fosse a minha segunda família. É importante também fazer amizades. Eu tenho 76 anos e não tenho nenhum inimigo na vida, eu tenho o carinho maior do mundo pelos meus colegas”.
A diversidade como princípio de gestão
Segundo a gerente de Gente & Gestão da Cialne, Socorro Viana, a empresa estrutura seu modo de gestão a partir de uma visão sistêmica que compreende a importância da diversidade dentro de um contexto sócio, profissional e cultural da organização. “Para a gente a idade não faz diferença. Se o profissional tem a competência que é requerida para o cargo, tem a qualificação, não importa idade, raça, sexo ou orientação sexual. A gente faz processos seletivos analisando aspectos comportamentais dos candidatos, competências pessoais que vão casar com os valores da empresa, o nosso objetivo é fazer com que as pessoas entrem e permaneçam conosco o máximo de tempo possível”, explica.
Conforme registros da última sondagem do fluxo geracional do quadro, a empresa possui 24,49% de colaboradores nas faixas classificatórias da geração Baby Boomens (60 anos ou mais) e geração X (44 a 59 anos), embora os funcionários com idade entre 23 a 43 anos (geração Y) ainda ocupem o podium dos postos de trabalho na corporação, com 51,90 das admissões.
“Temos acompanhado o percentual geracional da companhia até para manter essa diversidade. Se tem a qualificação, quer trabalhar, tem a experiência, de fato nós não levamos em consideração a idade, nós já contratamos um diretor que tinha 78 anos. Aqueles que se aposentam e querem continuar, continuam conosco”, explica a gerente.