Com quase 500 obras, Pinacoteca do Ceará abre exposição “Existências paralelas – acervo em (des)construção” no sábado (17)

12 de maio de 2025 - 11:01 #

Texto e foto: Ascom Pinacoteca

A mostra discute os modos de constituir um museu público a partir do conceito de vizinhança. Lisette Lagnado, José Eduardo Ferreira Santos e Yuri Firmeza assinam a curadoria, que é compartilhada com territórios e instituições de diferentes regiões do Ceará

A Pinacoteca do Ceará, museu da Rede de Equipamentos e Espaços Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), gerido em parceria com o Instituto Mirante, abre no sábado, 17 de maio, uma das maiores exposições já realizadas pela instituição. Lançando uma discussão sobre os modos de constituir um museu público sob a perspectiva do conceito de vizinhança, ”Existências paralelas – acervo em (des)construção” reúne 484 obras de 63 artistas cearenses de projeção local e nacional, populares e contemporâneos, históricos e desconhecidos.

Os curadores Lisette Lagnado, José Eduardo Ferreira Santos e Yuri Firmeza assinam a exposição, que tem curadoria compartilhada com pesquisadores e lideranças de territórios e comunidades de diferentes regiões do Ceará: Débora Soares e Ismael Gutemberg, do Núcleo de Patrimônio Cultural do Moura Brasil (Nupac); Diêgo di Paula, Acervo Mucuripe; Dona Toinha, Quilombo Água Preta, em Tururu; Paula Machado, Minimuseu Firmeza, no bairro Mondubim; e Tercio Araripe, Grupo Uirapuru Orquestra de Barro, de Moita Redonda.

A programação de abertura, com parceria da Estação das Artes, inicia com uma concentração às 16h30 na Praça do Muriçoca, do bairro Moura Brasil, no entorno da Pinacoteca. O bloco “A Turma do Mamão”, organizado há décadas por moradores do local, conduzirá o cortejo em direção ao museu a partir das 17h, quando a exposição será aberta à visitação. A solenidade de abertura, às 17h30, será seguida de uma roda de samba com o Grupo + Melanina. O acesso é gratuito e haverá acessibilidade em Libras.

Para além de uma história da arte do Ceará

Iniciada em novembro de 2023, a pesquisa que gera “Existências paralelas – acervo em (des)construção” partiu do acervo e da missão da Pinacoteca do Ceará, inaugurada em dezembro de 2022, para salvaguardar, preservar, pesquisar e difundir parte da coleção de arte do Governo do Estado. No entanto, a mostra não se propõe a contar a história da arte cearense. Ao contrário, a exposição convida à reflexão crítica sobre a formação e identidade de uma coleção pública que pode ir além da representação de um Estado, seu povo e seus artistas – incluindo aqueles que não nasceram, mas foram forjados aqui – evidenciando potencialidades, lacunas e memórias desse acervo.

Ao longo de quase dois anos de pesquisa e pelo menos três grandes viagens entre Fortaleza e Cariri, a curadoria encontrou artistas, pesquisadores, instituições de arte particulares e públicas, galerias, mestras e mestres das artes, assim como espaços de memória, museus comunitários e museus orgânicos que evidenciam a amplitude e a diversidade da produção artística do Ceará. Um mergulho que se traduz no volume de obras e na variedade de linguagens presentes em “Existências paralelas – acervo em (des)construção”. São pinturas, desenhos, gravuras, xilogravuras, documentos, esculturas, fotografias, técnicas mistas, tapeçarias, bordados e vídeos dispostos em cinco núcleos: Modos de produção e circulação; Moderno popular; Formas votivas e celebrações; Memórias territoriais; e Miscelânea documental.

Com destaque para a produção das mulheres, entre os trabalhos que integram a exposição convivem fotopinturas de Telma Saraiva, bordados e mandalas de Nice Firmeza, pinturas de Heloysa Juaçaba, “máscaras’ de cerâmica da Mestra Ciça (Família Cândido), a arte politizada de Mestre Stênio Diniz, esculturas em madeira de Mestre Manoel Graciano, diversas peças de Efrain Almeida, pinturas de Zé Tarcísio, Roberto Galvão e Barrica, além de obras relevantes de nomes contemporâneos como Leonilson, Julia Debasse, Linga Acácio, Paula Siebra e Trojany. Um recorte que, segundo a curadoria, coloca em diálogo diversas poéticas numa tessitura de autorias, estilos e técnicas que rompem com as classificações em torno das artes.

Curadoria compartilhada em uma exposição experimental

Exposição experimental e em processo, “Existências paralelas – acervo em (des)construção” trabalha com um conceito de curadoria compartilhada que não se restringe à ideia de “curar junto”. A equipe inicial é formada pela pesquisadora, escritora, crítica de arte e curadora Lisette Lagnado, reconhecida pelas proposições curatoriais coletivas e experimentais realizadas no Brasil e em outros países; por José Eduardo Ferreira Santos, professor e pesquisador baiano que atua no Acervo da Laje, projeto em Salvador (BA) que tem deslocado dos cânones hegemônicos o debate sobre a constituição de acervos e coleções de arte; e pelo artista, professor, curador e morador de Fortaleza, Yuri Firmeza, cujas experiência e participação nas artes locais e nacionais foram fundamentais para a pesquisa e os encontros que ampliaram a curadoria.

Protagonistas e territórios de várias partes do Ceará não são meramente retratados nos trabalhos em exibição, mas permeiam toda a exposição, em especial no núcleo “Memórias territoriais”. A partir do diálogo da curadoria compartilhada, propõe-se uma exposição sempre em processo, mesmo após sua abertura. Ao longo do período que ficará em cartaz, até 17 de novembro de 2025, novas obras e diferentes artistas deverão ser incorporados à exposição, assim como outros trabalhos devolvidos aos seus locais de origem.

Desenhada junto ao arquiteto Tiago Guimarães, com inspiração no mobiliário que costuma compor uma reserva técnica de museu, tais como grandes trainéis, mesas, estantes e mapotecas, a expografia é sensível a essas transformações da própria exposição sugeridas pela curadoria.

Sobre a Pinacoteca do Ceará

Inaugurada em dezembro de 2022 pelo Governo do Ceará, a Pinacoteca do Ceará tem a missão de salvaguardar, preservar, pesquisar e difundir a coleção artística da instituição, sendo espaço de ações formativas com artistas, comunidade escolar, famílias, movimentos sociais, organizações não governamentais e demais profissionais do campo das artes e da cultura. Trata-se de um espaço de experimentação, pesquisa e reflexão para promover o diálogo entre arte e educação a partir de práticas artísticas. Desde a abertura, o museu já recebeu mais de 217 mil visitantes.

Serviço

Programação de abertura da exposição “Existências Paralelas – Acervo em (des)construção”

Quando: Sábado, 17 de maio de 2025
16h30 – Cortejo com Bloco “A Turma do Mamão”. Concentração na Praça do Muriçoca (R. Padre Mororó, s/n – Moura Brasil, Fortaleza)
17h – Abertura do pavilhão expositivo
18h – Apresentação do Grupo “Mais Melanina” no Pátio da Pinacoteca
Acesso gratuito | Evento com acessibilidade em Libras | Classificação indicativa: Livre

> A Pinacoteca do Ceará dispõe dos seguintes recursos de acessibilidade: audiodescrição, abafadores de ruídos, videoguias em Libras, cadeira de rodas, intérpretes de Libras e peças táteis.