Leite humano: unidades da Rede Sesa recebem doação do alimento que salva vidas
14 de maio de 2025 - 14:21 #aleitamento materno #amamentação #doação de leite #leite humano
:Kelly Garcia - Ascom Sesa - Texto
Acervo Pessoal - Fotos
Leticia Maria - Infografia
A enfermeira e consultora de amamentação Doelam Coelho sonhava em poder doar seu leite
A doação de leite humano, conhecido como “padrão-ouro” para bebês, por suas propriedades únicas, principalmente para aqueles em recuperação, é celebrada na próxima segunda-feira (19), dia mundial em alusão ao ato. Em cada um dos cinco bancos de leite rede da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), as doações ajudam na nutrição de bebês internados, seja nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal ou nos berçários. Cada litro de leite doado pode atender até dez recém-nascidos.
Para salvar vidas de bebês prematuros, cada mililitro faz diferença. A enfermeira e consultora de amamentação Doelam Coelho sentiu na pele a força dessa afirmação. Mãe de Caio, hoje com 20 anos, e de Ruan, de quatro meses, a enfermeira viu de perto a luta dos bebês prematuros pela vida. “Meu filho mais velho foi prematuro e, naquela época, eu não sabia como fazer para aumentar minha produção de leite. Dessa forma, precisei amamentar e dar a fórmula, assim como contar com a solidariedade de outras mães, porque minha produção não era suficiente. Mais adiante, como enfermeira, atuei em várias UTI Neonatais e sonhava em poder doar meu leite, caso engravidasse de novo”, recorda.
Na gestação de Ruan, Doelam Coelho já dispunha de muita informação, até por ser consultora de amamentação. No entanto, teve dificuldades. “Meu leite não desceu logo e dei a fórmula nos primeiros dias. No entanto, meu bebê não se deu e sentiu muitas cólicas. Pela profissão, me cobrava muito e fiquei frustrada nesse primeiro momento”.
A enfermeira continuou tentando e, aos poucos, conseguiu aumentar a produção de leite. “Percebi que, na madrugada, minha produção era maior. Então, passei a me dedicar mais nesse horário. Comecei coletando 20 ou 30 ml em cada mamada e foi muito gratificante quando consegui encher meu primeiro pote de 300 ml”, diz.
A enfermeira continuou tentando e, aos poucos, conseguiu aumentar a produção de leite
A cada vez que doa para o Hospital Geral de Fortaleza (HGF), um dos locais da rede Sesa que recebem o precioso líquido, Doelam Coelho diz imaginar o nome e o rostinho das crianças que serão beneficiadas. “Eu fico imaginando qual será o recém-nascido que receberá o meu leite. Será a Lara, o Mateus, a Clara? Falo isso porque sei da rotina de uma UTI Neonatal. Mando junto com meu leite, todo o carinho e amor para cada um, mesmo sem saber quem são”, fala emocionada.
A consultora de amamentação também destaca o cuidado da equipe, ao realizar a coleta. “O pessoal do hospital tem o maior zelo e traz os potes, as etiquetas, as touquinhas e até as máscaras. É um trabalho muito bonito. Foi lá que iniciei minha formação”.
Temor que se transformou em solidariedade
Por ser mãe de primeira viagem, a desenvolvedora de software Luiza Bomfim, 30, temeu não produzir leite suficiente para o seu bebê, Bernardo, hoje com oito meses. Para que isso não acontecesse, muniu-se do máximo de informações possíveis durante a gestação.
Foi dessa forma que soube sobre a possibilidade da doação de leite, o que se concretizou, para surpresa dela, porque em vez de ter dificuldades para amamentar, ela produziu uma quantidade de leite bem maior do que a necessidade do filho. “Eu tenho hiperlactação, que é uma condição em que tenho muito mais leite do que meu bebê precisa. Quando o leite desceu, no terceiro dia depois do parto, soube por uma prima que eu poderia doar para o HGF e foi o que comecei a fazer”.
Em algumas semanas, a desenvolvedora de software chegou a doar 12 recipientes com leite para o hospital. “Nos primeiros meses, nem precisava retirar leite. Bastava colocar o coletor no outro seio enquanto amamentava. Como hoje o Bernardo está na introdução alimentar, precisei retirar meu leite, até para diminuir o desconforto nos seios. Por conta do excesso de produção, cheguei a ter dutos entupidos”, explica.
Para Luiza Bomfim, doar leite é muito recompensador. “Muitas mães não conseguem ter leite para amamentar seus filhos e muitos desses bebês beneficiados com a doação são prematuros e permanecem internados. É bom saber que estou ajudando a salvar vidas”.
Alimento “padrão-ouro”
O leite materno é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um alimento “padrão-ouro” por trazer inúmeros benefícios para a saúde e o desenvolvimento dos bebês, especialmente os prematuros.
Segundo o neonatologista do Hospital Geral Waldemar Alcântara (HGWA), Luiz de Moraes, o leite humano tem uma composição única e específica para cada bebê. “Cada mãe produz o leite que o seu bebê precisa. Essa composição vai mudando com o tempo, conforme ele vai crescendo. O alimento fortalece o vínculo afetivo, a imunidade, a saúde bucal e previne doenças até a idade adulta, como tem revelado pesquisas recentes”.
Para os bebês prematuros, o líquido pode acelerar a alta das unidades hospitalares. “O leite humano ajuda os prematuros a vencerem os desafios do período de internamento e facilita o ganho de peso e o desenvolvimento mais rápido dele, o que ajuda a ter uma alta mais precoce”
O neonatologista também destaca que cada gota de leite doada conta. “Inicialmente, os prematuros recebem um mililitro de leite humano. Dessa forma, cada gota de colostro doada faz a diferença. Outro benefício é que, com a doação, as mães passam a produzir mais leite e isso gera um círculo virtuoso de produção e doação”.
Onde posso doar?
O Banco de Leite Humano (BLH) é responsável por coletar a produção de leite nas residências, além de selecionar, classificar, processar, pasteurizar e fazer o controle de qualidade e distribuir nas unidades que precisam do serviço, por meio dos postos de coleta. Em Fortaleza, Existem BLH no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), no Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC) e no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias). Já no interior, há um BLH no Hospital Regional Norte (HRN), em Sobral.
Já os postos de coleta, fazem a coleta do leite, enviam para os bancos e, posteriormente, fazem a distribuição com os bebês que precisam naquela unidade, como é o caso do posto do Hospital Geral Dr. Waldemar Alcântara (HGWA) e do Hospital Regional do Sertão Central (HRSC) em Quixeramobim. Ambos orientam as mães sobre a forma adequada de coletarem o alimento.
De acordo com a coordenadora do Banco de Leite Humano do Hospital Geral Dr. Cesar Cals (HGCC), Rejane Santana, a distribuição do leite se dá por níveis de prioridade. “Os primeiros a receber são os prematuros e bebês de baixo peso. Em seguida, os que têm alguma infecção ou imunodeficiência. Por isso, é tão importante doar, para que todos os bebês que precisam possam ter acesso ao leite humano, o que só é possível com um bom estoque”, ressalta.
A gestora orienta que qualquer mulher pode ser doadora de leite, desde que esteja saudável. “Qualquer mulher que esteja amamentando pode ser doadora de leite humano. Para confirmar sua situação de saúde, basta enviar os exames solicitados e responder a um breve questionário. Os bancos e postos de coleta dão todas as orientações, seja por telefone ou presencialmente”.