CeArt leva roupas e acessórios produzidos por artesãos cearenses para as passarelas do Dragão Fashion 2025
16 de maio de 2025 - 15:35 #artesãos #Ceart #Dragão Fashion 2025 #Roupas e acessórios #SPS
Sheyla Castelo Branco - Ascom SPS - Texto
Mariana Parente - Foto
Unir moda e artesanato é uma missão desafiadora e que traz novas perspectivas sobre o fazer ancestral de homens e mulheres que encontraram no artesanato sua identidade, renda e um modo de estar no mundo, de se expressar através de linhas, formas e cores. A convite da Central de Artesanato do Ceará (CeArt), equipamento do Governo do Estado coordenado pela Secretaria da Proteção Social (SPS), artesãos cearenses produziram peças para o Dragão Fashion deste ano. Para conhecer um pouco da história de alguns deles, fomos da Região Metropolitana de Fortaleza, em Maranguape, ao litoral, no município de Beberibe, descendo ainda até o Vale do Jaguaribe, a terra do filé.
Em Beberibe, litoral norte do Ceará, dona Aila Fernandes, 61, produz artesanato em labirinto, uma técnica que consiste em desfiar fios em tecido para criar padrões decorativos. Ágil, Aila tece flores, borboletas, peixinhos e tudo mais que vier à cabeça. “Aprendi cedo a bordar em labirinto. Minha mãe fazia esse trabalho para ajudar com as despesas da nossa casa porque só com a pesca meu pai não conseguia sustentar a família. Foi observando minha mãe que criei esse amor pelo labirinto e consegui também passar esse saber para minha filha, Jaila”.
Aila cresceu perto do mar e assim como a prainha do Canto Verde, ela resiste e mantém viva a tradição do labirinto. Referência para outras mulheres da sua comunidade, a artesã conta que já realizou muitas oficinas dentro e fora da sua comunidade. “Não quero que o labirinto acabe nunca e também quero ver meu povo prosperar, ter o que comer, conseguir comprar uma coisinha para casa, e isso o labirinto pode fazer. Foi através dele que muitas mulheres aqui da prainha do Canto verde melhoraram a renda de suas casa”, conta dona Aila, feliz pelo legado que vem construindo em Beberibe.
“Estou muito feliz que este ano fui convidada pela CeArt para produzir duas peças para o desfile do Dragão Fashion. Fiz um macacão com as costas toda trabalhada no labirinto e um babado de um vestido”, explica Aila, que fala com muito orgulho do seu artesanato e da lojinha que está construindo para vender as peças produzidas por ela, pela filha e por outras artesãs da prainha do Canto Verde.
O legado do bordado a mão
Benedita Áurea de Sales, 72, mostrou o mesmo orgulho e emoção que Aila ao falar do seu trabalho com o bordado a mão. “É uma vocação mesmo. Gosto de ensinar e de ver como esse trabalho transforma a vida das pessoas. Desde os oito anos que faço bordados. Em casa, minha mãe já trabalhava com fios e tecidos, e com richelieu, então desde cedo fui dominando várias técnicas, mas o bordado a mão é um xodó pra mim. Gosto muito dessa técnica e quero deixar um legado em Maranguape porque essa arte não pode nunca morrer com a gente, ela tem que passar para outras gerações”, ressalta dona Benedita, que produz desde peças de vestuários até capas de almofadas, sousplats, toalhas de bandejas e muito mais.
Benedita produziu um vestido, uma saia e uma blusa para o DFB, ela explica que utilizou em suas peças os pontos corrente, corda e mesclado, além do ponto rococó, que é uma coisa “antiguinha e muito gostosa de fazer”. “Estou muito realizada de poder levar meu trabalho para as passarelas desse evento tão grande e tão importante. Isto é um sonho realizado”, lembra a artesã, que atualmente trabalha com um grupo de mais de 12 mulheres produzindo tanto para a CeArt, quanto para clientes de todo o Brasil.
“O filé é nossa história, nossa cultura”
Depois de passar pelo labirinto e pelo bordado a mão, descemos até o Vale do Jaguaribe para conhecer a história por trás das peças feitas em filé para o DFB 2025. Chegamos à casa da Carolina Sousa, 37, que fez um macacão de filé em tons terrosos com cru para levar às passarelas do evento. “Essa é uma peça exclusiva para esse desfile, feita com a técnica artesanal do filé. Foram 48 dias criando e passando a linha de um lado para o outro para chegar nesse resultado. Não existe preço para essa peça porque ela é uma memória viva de que a minha arte, a minha identidade está chegando em lugares que eu nunca antes tinha pensado que poderia entrar”, conta Carolina, emocionada.
“O filé é algo que vai além de tudo pra mim, algo maior do que eu sou hoje e do que eu posso ser amanhã. Um legado que eu sei que vou deixar para as próximas gerações. Não me vejo de nenhuma forma fazendo outra coisa da vida que não seja meu artesanato. Sou filha de agricultores e já passei muita dificuldade na minha vida, mas o filé foi meu arrimo, um forte onde eu entendi que podia me ancorar e agora estou colhendo os frutos de muitos anos de trabalho e dedicação ao filé”, pontua a artesã, que fala com encantamento não só do seu artesanato, mas também do Rio Jaguaribe, da sua cidade e de tudo que a inspira em suas criações. Carolina faz parte da Associação de Artesãs Nascer do Sol.
Mais adiante, na localidade de Feiticeiro, Victor Alan, 26, e os pais Raimundo Nunes, 54, e Maria Alves, 48, tecem com linhas coloridas e agulhas, tudo que um dia foi só um sonho. “Criamos quatro peças para o DFB, duas jaquetas, um vestido e uma calça. Produzimos tudo em dois meses e em alguns minutos essas peças estarão sob os holofotes, sendo vistas por tanta gente, isso nos enche de orgulho porque o filé é nossa história, nossa cultura. Em Jaguaribe o filé é uma tradição que passa de geração a geração e ver isso ganhando o mundo e sendo visto por tanta gente nos dá esperança de que essa técnica vai perdurar no tempo”, frisa Victor Alan, que junto com os pais conduz a Associação dos Artesãos do Sítio Ipueiras, Curral Novo e Córrego das Pedras (IARTE), que existe desde 2013, e produz peças por encomenda para a CeArt e estados de todo o Brasil.
Jade Romero, vice-governadora e secretária da Proteção Social, destaca que o artesanato traz nossa identidade e a representação da nossa cultura, mas, sobretudo, ele é geração de economia e renda. “Este trabalho do Governo do Estado de levar artesãos e artesãs a eventos como o Dragão Fashion Brasil, dentre outros eventos, tanto nacionais, quanto internacionais é uma forma de ampliar a visibilidade e, consequentemente, os canais de comercialização para os produtos, sejam por meio da CeArt seja na venda direta. O que buscamos é dar as condições para que eles tenham produtos de qualidade, competitivos e, com isso, garantam seu sustento e a manutenção de saberes que atravessam gerações e contam nossa história”, reitera Jade Romero.
Na 26ª edição do DFB Festival, a CeArt participa com um desfile de 25 looks, além de dois espaços de exposição e venda do artesanato.