Pesquisa inédita revela os hábitos culturais dos moradores de Fortaleza

16 de maio de 2025 - 14:54 # # # #

Ascom Bece - texto
Thiago Matine - foto

Em Fortaleza, festas juninas são mais frequentadas do que Carnaval: 24% dos que afirmaram ter ido a festas populares nos 12 meses anteriores à pesquisa foram a festas juninas, contra 13% que participaram de atividades relacionadas ao Carnaval; Forró reina absoluto na preferência da cidade: 39% dos moradores citam o estilo musical como preferido — mais do que o dobro da média das capitais (16%); Fortaleza é a capital mais fã de receitas com arroz e feijão: metade dos entrevistados (49%) considera essa combinação como o prato típico da cidade, citando principalmente baião de dois; Estudo contou com 19.500 entrevistas presenciais em todas as 26 capitais e no Distrito Federal;

Na última quinta-feira (15), a Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), espaço da Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará, gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar, recebeu o Seminário Cultura nas Capitais, que apresentou os dados sobre os hábitos culturais da população de Fortaleza.

Forró e festa junina estão em destaque entre as preferências culturais dos moradores de Fortaleza, segundo dados inéditos da pesquisa Cultura nas Capitais, maior levantamento sobre o tema já produzido no Brasil, que analisou o comportamento dos moradores das 26 capitais brasileiras e do Distrito Federal. Os números mostram que a população de Fortaleza demonstra alto interesse em cultura, mas enfrenta desafios no acesso e na consolidação de referências culturais claras. A capital cearense teve queda em todas as 12 atividades culturais analisadas nas duas edições da pesquisa (2017 e 2024), com destaque negativo para dança, cinema e bibliotecas, que caíram cerca de 10 pontos percentuais.

Fortaleza lidera, entre as capitais, em interesse por teatro, com 56% dos moradores dando nota 8 ou mais (em uma escala de 0 a 10) quando perguntados sobre a vontade de frequentar espetáculos. O mesmo ocorre com apresentações de dança (48%), ao lado de Belém e Maceió. É também a capital brasileira com maior público potencial para shows (29%) e para teatro (41%), além de figurar entre as maiores em dança (31%). Público potencial é aquele que não foi às atividades, mas demonstrou alto interesse em ir.

Mesmo com acesso abaixo da média da pesquisa em quase todas as atividades culturais, a cidade se destaca regionalmente. Fortaleza é a capital do Nordeste com mais acesso a eventos literários (22%), além de ser uma das capitais nordestinas com maior frequência a cinemas (42%, junto com Salvador, abaixo do Recife) e a museus (19%, ao lado de Aracaju e João Pessoa). Entre os visitantes desses espaços, Fortaleza é a capital onde mais pessoas costumam ir acompanhadas pelo cônjuge (28%, frente a 20% da média nacional).

Forró e baião de dois lideram preferências musicais e gastronômicas

Na trilha sonora do cotidiano, o forró reina absoluto: depois de Teresina e João Pessoa, Fortaleza é a cidade onde mais pessoas citam o gênero como favorito (39%, contra 16% da média nacional). A capital cearense também lidera no gosto por música romântica (12%), mas aparece entre as capitais com menor preferência por pagode (11%).

Após o forró, os estilos musicais que aparecem como preferidos em Fortaleza são gospel (28%) e sertanejo (27%), em empate técnico. Na sequência, surgem MPB (23%), pop (18%) e rock (14%).

Cultura nas Capitais também investigou como as pessoas ouvem música. Em Fortaleza, o aparelho que aparece em primeiro lugar para ouvir música é o celular, com 84% das respostas, contra 66% do som portátil e 54% do rádio. Em relação aos aplicativos mais usados para essa atividade, o YouTube lidera na capital cearense com 64%, contra 43% do Spotify e 23% do TikTok.

Na culinária, quase metade dos entrevistados (49%) associa a identidade gastronômica da cidade a pratos com arroz e feijão, sendo o baião de dois o mais citado (38%), reforçando o elo entre cultura e tradição no cotidiano fortalezense.

Força em turismo cultural, mas população ainda sabe pouco sobre opções locais

A pesquisa revelou também que entrevistados de 13 outras capitais citaram museus ou exposições de Fortaleza como os últimos que visitaram, evidenciando o papel da cidade no turismo cultural. Por outro lado, moradores da própria capital mencionaram 22 museus ou exposições de fora como os últimos visitados, indicando um fluxo relevante de interesse externo e interno.

Apesar da vitalidade cultural, Fortaleza tem altos índices de indefinição quando se trata de ícones locais: 44% dos entrevistados não souberam indicar o espaço cultural que mais frequentam, e 43% não apontaram qual é o evento mais importante da cidade — sinalizando uma lacuna a ser trabalhada.

Na avaliação do que deve compor uma programação cultural, Fortaleza se mostra a capital mais sensível a temas sociais contemporâneos: 73% acham importante que os eventos abordem questões de gênero e orientação sexual (contra 64% da média da pesquisa), e 91% consideram essencial a presença de temas ligados à acessibilidade (a média das capitais é de 84%).

“A pesquisa confirmou riquezas já bem conhecidas da cultura em Fortaleza, como a força do forró e das festas juninas. E, embora tenha apontado que a cidade fica abaixo da média das capitais em muitas atividades, revela também que há um grande público potencial a ser conquistado, especialmente para shows e apresentações de teatro. Vale a pena os produtores culturais e o setor público olharem essas áreas com atenção”, afirmou o coordenador da pesquisa, João Leiva.

Espaços culturais mais citados

A pesquisa listou dez espaços culturais de cada capital, para avaliar o quanto são conhecidos. Sobre cada um dos espaços, foi perguntado se o entrevistado o conhece, mesmo que só de ouvir falar. Para quem conhece, foi perguntado se visitou o local pelo menos uma vez. Mais da metade dos fortalezenses já foi ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (76%), ao Theatro José de Alencar (67%) e ao Cineteatro São Luiz (51%).

Na sequência, a Biblioteca Pública Estadual do Ceará aparece com 38% de respondentes que afirmam que a conhecem e já frequentaram; por outro lado, 34% sabem de sua existência, mas nunca visitaram o espaço.

Metodologia

Nesta edição da pesquisa Cultura nas Capitais foram ouvidas 19.500 pessoas, moradoras de todas as capitais brasileiras – as 26 estaduais, além de Brasília – com idade a partir de 16 anos, de todos os níveis socioeconômicos, entre os dias 19 de fevereiro e 22 de maio de 2024. As pessoas foram abordadas pessoalmente em pontos de fluxo populacional. Ao todo, os pesquisadores foram distribuídos por 1.930 pontos de fluxo (entre 40 e 300 por capital), em regiões com diferentes características sociais e econômicas. Os entrevistados respondiam até 61 perguntas, além das relacionadas a características sociais e econômicas (como escolaridade, cor da pele etc.). O instituto responsável pelo estudo é o Datafolha.

Além da pergunta sobre renda, a pesquisa também adotou o Critério Brasil de Classificação Econômica, um instrumento de segmentação econômica que utiliza o levantamento de características domiciliares (presença e quantidade de alguns itens domiciliares de conforto e grau de escolaridade do chefe de família) para diferenciar a população em classes: A, B, C, D ou E (Fonte: ABEP – Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa).

Sobre a JLeiva Cultura & Esporte

Consultoria especializada em concepção, planejamento, execução, análise e disseminação de dados e informações sobre o setor cultural no Brasil. Conduz estudos, mapeamentos e benchmarking para empresas privadas, instituições públicas e organizações sociais com atuação em cultura e esporte — como Fundação Itaú, Fundação Roberto Marinho, Vale, British Council, Vale, Nike, Museu do Amanhã e Instituto Goethe. Desde 2010, realiza pesquisas de hábitos culturais, consolidando-se como referência nessa área.