12 de junho: guia de segurança para lidar com aplicativos de relacionamentos e combater a violência doméstica

12 de junho de 2025 - 13:48 # # #

André Gurjão - Ascom SSPDS - Ascom - Texto
Leandro Vagner - Arte Divulgação - Foto

Cresce uma carência, às vezes disfarçada de brincadeira, em estar sozinho no Dia dos Namorados. Neste 12 de junho, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) oferece aos solteiros dicas de segurança, dentro e fora dos aplicativos de relacionamentos, e às mulheres informações sobre como denunciar a violência doméstica. Nós lhe acompanhamos, num passo a passo, do momento em que você inicia uma conversa com alguém desconhecido, passando pelo primeiro encontro e até muitos anos à frente nesse relacionamento. E, ainda que esta reportagem seja para ti, com certeza alguém vai te agradecer muito se você compartilhar esse cuidado na forma de texto.

“A primeira dica é nunca clicar em links enviados por desconhecidos, ainda que essa pessoa pareça confiável. Se quem se diz interessado em você insiste, desconfie”, orienta a delegada-adjunta da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), Tatiana Leitão, da unidade especializada da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE). A desconfiança, segundo ela, precisa ser ainda maior em casos de links encurtados, com números estranhos ou letras e números desconexos, ou sob a promessa de fotos e vídeos íntimos, ainda mais se houver a exigência de cadastro com informações pessoais.

“Desconfie de quem acelera a intimidade e de perfis aparentemente perfeitos e não transfira dinheiro, criptomoedas ou dê presentes caros, sob qualquer pretexto. Evite compartilhar dados pessoais sensíveis, como endereço, CPF e dados bancários, e nunca envie fotos ou vídeos íntimos”, é como se mostra taxativa a policial civil da DRCC. Os riscos são que você seja enganado por um perfil falso, ou contribua com algo que não concorde ou até uma causa criminosa.

Uma boa forma de se precaver contra golpistas é usar ferramentas gratuitas on-line para confirmar a identidade. Salve a foto do perfil e faça uma pesquisa por imagem no Google. Essa ferramenta pode revelar o uso da foto em perfis diferentes com outros nomes. Caso tenha o nome completo, faça uma busca simples no Google colocando o nome entre “aspas” para resultados exatos. Podem aparecer registros em redes sociais, processos judiciais, ou denúncias públicas.

Caso tenha acesso às redes sociais dessa pessoa, verifique a consistência nas informações. “Há amigos reais? Postagens antigas? Interações naturais? Observe se há comentários críveis, perfis ´fabricados´ costumam ter poucos seguidores e interações artificiais”, recomenda Tatiana Leitão. Outras dicas úteis são consultar a pesquisa agregada de processos, publicações e menções públicas no portal JusBrasil e, se essa pessoa se diz empresário(a), você pode consultar o número do CNPJ.

Para sair do que há de mais tradicional, a dica é checar a existência de antecedentes criminais no site da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). O endereço vai te pedir o nome completo dessa pessoa, o número da identidade (RG), a data de nascimento e o nome da mãe, conforme documento oficial. A ferramenta emite uma certidão de “nada consta”, a mesma emitida pelo portal da Polícia Federal, ou indica quais crimes essa pessoa desconhecida responde criminalmente.

Preparo aqui é mais que maquiagem

Se a conversa avança e chegou a hora certa de marcar um primeiro encontro, é bom precaver-se. Escolha um local que você já conheça, um um restaurante, cafeteria, shopping; ou então um local público movimentado e com policiamento por perto. Antes de sair de casa, comunique o encontro a alguém de confiança, familiar ou amigo, e indique com quem vai se encontrar, local, hora e previsão de retorno. Caso seja possível, compartilhe a localização.

Preferir chegar no ponto de encontro por meios próprios é uma boa estratégia de manter o local onde mora em segredo. Desconfie de comportamentos invasivos e diga “não”, caso ocorra um toque em seu próprio corpo que não deseje. “Se, em algum momento, se sentir desconfortável, encerre o encontro e se afaste com segurança. Se houver risco iminente, ligue imediatamente para o 190. A Polícia Militar do Ceará (PMCE) vai atender prontamente”, orienta a subcomandante do Comando de Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac/PMCE), a major Nara Ribeiro.

Acionamento

“(Em caso de violência) Não confronte o agressor, busque um cômodo seguro e, se possível, feche-se em um cômodo com tranca, ou saia do local. Tenha consigo documentos pessoais e o celular e guarde provas (mensagens, áudios e fotos de lesões) para futuras providências legais”, recomenda a policial militar do Copac. “Caso você presencie uma agressão, ligue para o 190 e denuncie de forma anônima. Evite intervir diretamente, para não colocar a sua vida em risco”.

A ligação será atendida prontamente por um dos operadores da Controladoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) da SSPDS. “É necessário informar o endereço com a maior precisão possível, nome da rua, número e ponto de referência, para que a viatura policial chegue o mais rápido possível no local exato”, informa o coordenador da Ciops, coronel Aristóteles Coelho. Por sua vez, o atendente da ocorrência despacha para a área para a viatura mais próxima atende a ocorrência de alta gravidade.

Ao chegar no local da ocorrência, a viatura da Polícia Militar do Ceará (PMCE) socorrerá, imediatamente, a vítima e realizará diligências com o objetivo de identificar e capturar o agressor. É bom ressaltar que ambas partes sempre serão conduzidas separadamente até a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), ou delegacia municipal mais próxima. “O Copac tem contato direto com a DDM e o trabalho é feito em parceria. Um fortalece o trabalho do outro”, garante a subcomandante do Copac.

Protegendo e defendendo as mulheres

Normalmente, um potencial suspeito de violência contra uma mulher não se mostra agressivo num primeiro encontro. A história é uma velha conhecida. Uma moça conhece um rapaz que, rapidamente, se transforma no amor de uma vida inteira. O início parece até parece cena de filme, então se transforma em um caso de violência moral, psicológica, física, patrimonial e até sexual. Ainda assim, muitas mulheres ainda hoje carregam esse grito de socorro sozinhas.

“No início do relacionamento, esse homem, geralmente, se mostra extremamente atencioso, carinhoso e presente. Muitas vezes, manda muitas mensagens e sempre faz declarações de amor. Essas demonstrações ocorrem de forma muito intensa. Apesar da mulher gostar, esse excesso de presença e atenção pode indicar um desejo de controle disfarçado de afeto”, é o alerta lançado pela delegada titular da DDM Fortaleza, Giselle Martins.

Só com o tempo essa mulher, que só busca um relacionamento sólido, perceberá um ciúme excessivo, uma tentativa de isolá-la da família e dos amigos ou um controle sobre as redes sociais, roupas, rotinas e finanças. “Quando a vítima já se sente intimidada em sua integridade moral, psicológica, física, patrimonial e até sexual, é hora de procurar a polícia e registrar um Boletim de Ocorrência”, recomenda a delegada titular.

Empoderar é denunciar a violência

O procedimento é relativamente simples e precisa do comparecimento da vítima a uma das 11 Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs) do Ceará, ou da unidade da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) mais próxima, caso não haja uma DDM na cidade. A SSPDS acolhe essas mulheres reconhecendo esse tipo de violência como cultural e estrutural em nossa sociedade e também como uma grave violação dos Direitos Humanos contra uma minoria social.

“Nesse contexto, as DDMs são equipamentos essenciais no enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher. Elas estão inseridas no âmbito do DPGV (Departamento de Proteção de Grupos Vulneráveis, da PCCE) e foram criadas para atender, de forma especializada, mulheres vítimas de violência: garantindo o acolhimento, proteção e atuação firme para interromper esse ciclo e garantir a responsabilização do agressor”, frisa a delegada titular do DPGV, Janaína Braga.

Mesmo nos casos em que não haja violência física é possível fazer uma denúncia. Mesmo em casos onde a mulher dê acesso às senhas das redes sociais, do e-mail e de senhas bancárias ao suspeito e ele se vingue por esses meios é possível denunciá-lo. “A vítima pode reunir provas como prints; gravações de áudio ou vídeo, inclusive sem o consentimento; e-mails; testemunhos; atendimentos médicos e psicológicos; laudos e relatos de terceiros”, atesta Giselle Martins.

Tudo isso fortalece o procedimento policial e, se for necessário, o pedido de medida protetiva. O suposto agressor será ouvido, como todo caso de investigação criminal, embora só depois da vítima. O exame de corpo de delito, as testemunhas e todos os tipos de provas vêm primeiro. Até que o homem é instado a prestar esclarecimentos. O objetivo é alcançar uma verdade baseada em técnicas investigativas e elementos colhidos e tudo será encaminhado para policiais civis “trabalharem” para o envio à Justiça.

Vestígios (quase) invisíveis

Os casos de violência contra a mulher parecem invisíveis à sociedade, mas não quando entra em campo a Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce). É pensando no acolhimento dessa vítima, e em conseguir indícios desse crime, que a Pefoce dispõe do Núcleo de Atendimento Especial a Mulher, Criança e Adolescente (Namca). Existem Namcas em todos os núcleos da Pefoce, na Capital e Interior, com recepção exclusiva e atendimento humanizado para as vítimas de violência doméstica.

“Ao chegar na Pefoce, essas mulheres são recebidas de forma prioritária e são acolhidas por auxiliares da perícia do sexo feminino que esclarecem e informam a cerca de todo procedimento pericial que será realizado. Elas acompanham as vítimas em toda perícia do médico legal, garantindo que essa mulher se sinta segura e acolhida”, garante a supervisora do Namca, a médica Verbena Matos.O ambiente é colorido com cores amenas e tranquilas e frases e cartazes de apoio decoram o espaço para que haja o encorajamento e empoderamento das vítimas.

Ao fim do exame, ainda segundo a doutora Verbena, essas mulheres são encaminhadas aos serviços públicos de referência, para que recebam, quando necessário, todo o suporte que precisam. “O Governo do Ceará também disponibiliza para essas vítimas: casas de apoio, assistência médica e psicológica e, também medidas protetivas, quando forem necessárias”, complementa Verbena. Concomitantemente, os laudos periciais, incluindo vestígios em roupas, são concluídos com a atenção de quem torna objetos simples em provas irrefutáveis da materialidade do delito e da autoria do agressor.

É importante destacar que a presença do médico legista não é apenas para a realizar o laudo pericial. Ele é treinado para realizar uma escuta qualificada da vítima, realizando perguntas pontuais e indispensáveis, conforme a leitura do Boletim de Ocorrência. “Então, o médico legista relata tudo o que viu e ouviu no histórico do laudo pericial, que será encaminhado ao delegado responsável por meio do Sistema de Inquéritos Policiais (SIP)”, detalha a supervisora do Namca.

Para muito além dos números

É verdade que os números de casos de violência contra a mulher crescem ano à ano. A cada nova vítima que presta queixa contra o próprio agressor, cresce a conscientização da sociedade sobre uma lei que existe há menos de duas décadas e o aparato do Governo do Ceará para acolher essa vítima. Os números da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Pesquisa e Segurança Pública (Supesp) da SSPDS demonstram que houve um crescimento de 1,9% no número de casos da Lei Maria da Penha. Foram 10.487 ocorrências entre janeiro e maio de 2025 e 10.292 no mesmo período do ano passado.

A maior parte das cearenses vítimas da violência doméstica, ou 52,15%, estão na faixa etária que vai de 24 a 41 anos de idade. Somente neste ano, já foram registrados 1.829 casos envolvendo vítimas com idade entre 24 e 29 anos, 1.845 com idade entre 30 e 35 anos e 1.770 entre 36 e 41 anos. Os números não indicam o número de vítimas, uma vez que a mulher pode e deve registrar cada caso de violência moral, psicológica, física, sexual ou patrimonial. “Esses números norteiam também a implantação ou alteração de políticas públicas da Secretaria das Mulheres, como no caso das Salas Lilases, que através de um estudo nosso foi feita a mudança do local.”, informa o diretor de Estatística e Geoprocessamento da Supesp, Franklin Torres.

Um dos investimentos mais recentes do Governo do Ceará foi a inauguração, em março de 2025, da 2ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Fortaleza, localizada no bairro Papicu. A PCCE ainda conta com outras nove DDMs, localizadas em Maracanaú, Caucaia, Pacatuba, Crato, Iguatu, Juazeiro do Norte, Icó, Sobral e Quixadá. Como parte da nova reestruturação das Forças de Segurança do Ceará, o Governo do Ceará terá ainda dois novos setores de Apoio aos Grupos Vulneráveis e de Combate à Violência contra a Mulher. Por fim, desde agosto de 2023, o sistema de solicitação de medidas protetivas de urgência ocorre de forma virtual e pode ser solicitada pelo site mulher.policiacivil.ce.gov.br.

A delegada titular da DDM Fortaleza, Giselle Martins, encoraja às vítimas a prosseguirem com a denúncia contra seus algozes. “A gente fica feliz porque está tendo cada vez menos subnotificação. Os boletins de ocorrência, hoje, são um instrumento de proteção à mulher, não um ato de vingança. Se o que você, mulher, vive é dor, medo, silêncio e culpa, isso não é amor, você está sendo vítima de violência”, arremata a delegada da DDM Fortaleza concordando que a melhor forma de acabar com um ciclo de violência é não permitir que o agressor sinta uma falsa sensação de impunidade e controle.

Você já deve ter ouvido falar

Se você acompanha o site da SSPDS há algum tempo, já deve ter lido conosco algum caso envolvendo golpes por meio de aplicativos de relacionamento. É fácil lembrar de, pelo menos, cinco casos de estelionato e extorsão. Em abril de 2021, divulgamos uma prisão da Delegacia Municipal de Cascavel de duas suspeitas por aplicarem o “golpe do nude” e, em agosto de 2023, a Delegacia Regional de Juazeiro do Norte também prendeu um suspeito, com antecedentes de extorsão e lesão corporal dolosa, por praticar extorsão por meio virtual na cidade de Aurora, Área Integrada de Segurança 19 (AIS 19) do Estado.

Casos ainda mais emblemáticos foram as prisões de três suspeitos de aplicarem o “golpe do amor” em maio e junho de 2021 e setembro de 2024, na Praia de Iracema, Papicu e Edson Queiroz, AIS 1, 10 e 7, respectivamente. Todos os inquéritos foram concluídos e remetidos ao Poder Judiciário. Ainda assim, nessa segunda-feira (9), a Polícia Civil demonstrou que o trabalho não pára e prendeu mais um suspeito de extorsão e ameaça na cidade de Aracoiaba (AIS 15). O homem, de 27 anos, foi preso por uma equipe do 5º Distrito Policial (5º DP), sob a suspeita de cometer os crimes contra 15 vítimas e armazenar arquivos de mais de 40 mil fotos de mulheres.

O alvo policial é desenvolvedor de softwares e estudante do penúltimo semestre de Ciências da Computação. Ele era procurado, desde 2021, pelos crimes. O material apreendido será submetido à perícia e o inquérito concluído com vistas ao envio ao Poder Judiciário. “Muitas das vítimas sentem vergonha e preferem sofrer caladas, mas as delegacias têm, sim, um papel importante na proteção dessas vítimas. Todo conteúdo é tratado em absoluto sigilo e as vítimas são tratadas com todo cuidado para não se sentirem constrangidas”, conclui o delegado do 5º DP, Valdir Passos.