FormaCE promove curso “IA na Escola” para qualificar docentes em inteligência artificial

18 de junho de 2025 - 13:21 #

Texto e fotos: Bruno Mota / Ascom Seduc

Compreender como a inteligência artificial (IA) funciona, suas possibilidades, impactos e responsabilidades é essencial para que os estudantes se tornem cidadãos críticos, inovadores e conscientes, prontos para se adaptar às transformações do mercado de trabalho e da sociedade. Neste contexto, a presença de professores qualificados para mediar o uso da tecnologia faz toda a diferença para o manuseio das ferramentas com consciência e criatividade.

Entendendo a IA como aliada na promoção de um aprendizado mais envolvente, personalizado e significativo, a Secretaria da Educação (Seduc), por meio do Centro de Formação e Desenvolvimento para os Profissionais da Educação (FormaCE), promove o curso “IA na Escola”. A iniciativa tem o objetivo de preparar os docentes da rede pública estadual do Ceará no uso da inteligência artificial, possibilitando a reflexão sobre práticas pedagógicas e aprimorando os processos avaliativos, alinhando-os às demandas da educação contemporânea.

A formação teve sua primeira edição em 2024, com um projeto-piloto que contemplou 81 professores da área de Ciências da Natureza de 17 escolas de Fortaleza. O sucesso da iniciativa motivou a ampliação do projeto para 2025, que passou a atender também outras áreas do conhecimento — Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, Matemática, Linguagens e Códigos e suas Tecnologias — das escolas já envolvidas, além de alcançar todas as 23 escolas focalizadas (aquelas que têm as maiores matrículas) situadas na área da Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (Crede) 1, totalizando 40 escolas beneficiadas e 263 professores envolvidos.

Nova realidade

Ronaldo Maia, diretor do FormaCE, explica que o Centro de Formação direciona o foco de suas ações para trabalhar a inteligência artificial voltada ao processo de ensino-aprendizagem. “Identificamos que esta é uma necessidade, um caminho que não dá mais para voltar. Hoje o nosso estudante está tendo infinitas formas de aprender. E a gente entende que o professor precisa ter diversas formas de ensinar, para tentar acompanhar esse ritmo dinâmico do mundo moderno”, reflete.

O gestor ressalta a importância do caráter presencial do curso ofertado. “A gente precisa mostrar que a IA não isenta a necessidade do convívio humano, do diálogo entre pares de forma presencial, pois isso é necessário para fortalecer as relações e engrandecer todo o processo”. Das 40 horas-aula que compõem o itinerário preparatório, parte do tempo é dedicada a visitas às escolas, em que a equipe do FormaCE conversa com os professores, procurando colaborar com o que ainda precisa ser aperfeiçoado. Apenas uma hora-aula ocorre de maneira virtual, oportunidade em que o professor, estando na escola, interage com os colegas e com os formadores, podendo tirar dúvidas.

“Ao final, a gente vai ter um seminário com todos os professores que passaram pelo processo, e eles vão expor os seus avanços e dificuldades. Por isso, digo que esse é um modelo de formação continuada, considerando que tem toda uma estrutura de acompanhamento do professor”, ilustra Ronaldo.

Ampliação

Se após concluído todo este processo o professor quiser elaborar um artigo científico, no intuito de compartilhar a experiência vivenciada do curso com seus pares, o FormaCE também acompanha e orienta a escrita do texto. Neste caso, serão somadas mais 20 horas-aula à formação. A orientação levará em conta o cumprimento do formato exigido pela revista DoCEntes, periódico pertencente à Seduc, que tem o objetivo de fazer a divulgação da produção científica elaborada pelos professores da rede pública estadual. A criação poderá ser individual ou coletiva, com até cinco autores.

Napoleão Neto é professor de física em três unidades de ensino da rede estadual, todas localizadas em Maracanaú: o 3º Colégio da Polícia Militar Tenente Mário Lima; a Escola de Ensino Médio (EEM) Flávio Ponte; e a Escola de Ensino Médio Tempo Integral (EEMTI) José de Borba Vasconcelos. O educador entende a necessidade de descobrir novos rumos e metodologias ativas que possam incrementar a aprendizagem do estudante.

“A gente sabe que os alunos já se utilizam dessas ferramentas, e o professor precisa estar à frente deles, a fim de corrigir eventuais erros. O uso inadequado da IA fará com que os jovens permaneçam cometendo equívocos, porque um prompt (comando dado à IA para solicitar a execução de uma tarefa) mal feito vai gerar uma resposta mal feita, enquanto um prompt bem feito vai gerar uma resposta bem feita. O importante é mostrar para o aluno que o método tradicional precisa ser utilizado, e que a inteligência artificial vai ser um plus para que ele agilize sua resposta, sua maneira de pensar e sua forma de raciocinar em sala de aula”, argumenta.

Otimização

Luiz Heffer, coordenador da EEM Branca Carneiro de Mendonça, em Caucaia, entende que o curso irá auxiliar tanto na organização das aulas pelos professores, como na condução dos processos administrativos pela gestão da unidade de ensino.

“A gente sempre se assusta inicialmente com todas as tecnologias novas. Eu acho que quando inventaram a calculadora foi do mesmo jeito. ‘Como é que uma coisa vai fazer a conta por mim?’ Dentro desse contexto, a gente tem que entender que a máquina apenas auxilia algo que você já faz. É isso que ocorre com a inteligência artificial: ela pode diminuir o tempo de execução de determinados processos. Isso é excelente, pois torna possível dedicar mais horas à parte pedagógica, à aprendizagem do aluno, às estratégias para que a escola se torne mais acolhedora. No caso do professor em sala de aula, se ele quiser trabalhar um tema e deseja encontrar uma linha pedagógica em que não é tão atuante, a inteligência pode ajudá-lo a achar um caminho melhor, em curto espaço de tempo”, pontua.

Roonyerica de Freitas atua como Agente de Gestão da Inovação (AGI) na área da Crede 1. No dia a dia da função, a profissional já trabalha com o planejamento e a implementação de novos repertórios didáticos para serem utilizados em sala de aula, auxiliando os professores a encontrarem metodologias mais atrativas e efetivas de construção do conhecimento junto aos alunos. Na visão de Roonyerica, a formação em IA é bastante oportuna.

“A importância disso é que a gente consegue explorar mais um recurso para engajar os alunos nas aulas. A tecnologia digital é um meio que facilita os jovens serem atuantes no seu processo de ensino-aprendizagem, como protagonistas do saber. O professor age como mediador do uso dessa tecnologia”, observa.

Estruturação

O curso é dividido em quatro módulos. No primeiro, estuda-se a origem da inteligência artificial, a questão ética, as vantagens e desvantagens do uso das ferramentas. No segundo módulo, o objetivo é aprender a elaborar um prompt eficiente, fazendo a pergunta correta à máquina, de modo a obter a melhor resposta. No módulo três, o trabalho se volta de maneira mais específica às ferramentas de IA que podem ser utilizadas em sala de aula. E no último módulo, discute-se mais intensamente o processo de reflexão, ao tempo em que o professor vai tentar fazer uma avaliação utilizando essas ferramentas.

“Todo esse processo formativo sempre busca fortalecer o pensamento crítico e a interação do professor. A gente vai proporcionar momentos de reflexão para que ele se sinta seguro em usar a ferramenta adequada para o seu componente curricular. Quando se fala que a inteligência artificial vai deixar-nos menos inteligentes, eu não acredito, porque vamos precisar saber usá-la para torná-la nossa parceira. Nós precisamos fazer uso dela, e não ser usados por ela”, pondera Ronaldo Maia.

A estratégia utilizada pelo FormaCE, de priorizar a participação de todos os professores de uma mesma escola no curso, tem o objetivo de tornar mais efetivo o trabalho, considerando que, no dia a dia, os profissionais poderão auxiliar e fortalecer um ao outro. A agenda da formação é alinhada diretamente com cada escola.

Oficinas

Além do curso “IA na Escola”, o FormaCE também oferece três oficinas presenciais aos professores da rede estadual. Uma delas, já realizada em 2025, no início do ano letivo, por ocasião das Jornadas Pedagógicas, teve como foco a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP) com IA. O curso prático visa à elaboração de projetos pedagógicos interdisciplinares que estimulem o pensamento criativo, a resolução de problemas reais e a transformação dos processos de ensino e aprendizagem. A ABP é uma metodologia ativa que valoriza a aprendizagem colaborativa e o trabalho coletivo.

A oficina de Humanidades Digitais, por sua vez, estará disponível a partir de agosto próximo, e terá o intuito de verificar possibilidades de aprendizagem na área das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, por meio da intervenção didática mediada por IA e outros recursos digitais. A oficina parte da pesquisa, analisando fontes e acervos no mundo virtual, entendendo serem os suportes digitais espaços privilegiados para intermediar a aprendizagem de jovens, que estão imersos em práticas de letramento digital.

Por fim, a oficina de Correção de Redação para Professores, também prevista para agosto, foi desenvolvida com o objetivo de oferecer ferramentas teóricas e práticas que auxiliem na condução do ensino da escrita em sala de aula. A proposta é apoiar os docentes na tarefa de orientar seus estudantes na produção de textos mais claros, coesos e adequados a diferentes contextos. A ação também apoiará os professores na utilização da IA no ensino de redação no modelo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Como parte das atividades, os participantes irão explorar um agente de IA capaz de auxiliar na correção de textos, com feedback imediato.

O FormaCE traz, em sua estrutura de atuação, uma metodologia fundamentada em princípios pedagógicos inovadores e um método que concretiza essas ideias na prática. A instituição trabalha para mostrar que é possível transformar a formação docente quando há embasamento em evidências e participação efetiva dos professores. É símbolo de formação inovadora e prática colaborativa, comprometida com a transformação da educação e a melhoria da vida dos cearenses.