Dia da Ciência e do Pesquisador: conheça o papel da Ciência e do uso de dados no combate ao crime
8 de julho de 2025 - 15:06 #Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico #Pefoce #Supesp)
Ascom Supesp - texto e fotos
Neste Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, comemorado em 8 de julho, a Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp) homenageia profissionais que dedicam seu conhecimento para uma área cada vez mais necessária na prevenção e combate à criminalidade: a segurança pública. A reportagem conversou com o assessor da Diretoria de Pesquisa e Avaliação de Políticas Públicas (Dipas/Supesp), Estêvão Arrais, e com a perita legista do Núcleo de DNA da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), Vivian Santiago.
Assessor na Dipas/Supesp desde a reestruturação do órgão no início do ano de 2025, Estêvão Arrais atuou como pesquisador do Laboratório de Estudos em Gestão de Cidades e Territórios (Lacite), da Universidade Federal do Cariri (UFCA), vinculado à linha de pesquisa “Gestão Pública, Cidades Inteligentes e Inovação”. Mestre em Avaliação de Políticas Públicas pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é graduado em Administração Pública pela Universidade Federal do Cariri UFCA com a Distinção Acadêmica Magna Cum Laude.
Possui experiência profissional com elaboração, gestão, implementação e avaliação de políticas públicas e, mais recentemente, iniciou o Estudo Avaliativo do Comando de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio), popularmente conhecido como Raio, da Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE). O objetivo do estudo, segundo Estêvão, é mensurar os principais impactos da instalação das bases desse policiamento nos municípios cearenses. “Estamos analisando os efeitos sobre indicadores como Crimes Violentos, Letais e Intencionais (CVLI), Crime Contra o Patrimônio (CVP) e outros, buscando compreender tanto impactos diretos, quanto indiretos desse policiamento, que é reconhecido e referência nacionalmente”, completou.
Supesp – Você pode detalhar mais que tipos de variáveis serão exploradas nesse estudo?
Estêvão – Nosso trabalho envolve a produção de estudos temáticos e a avaliação de políticas públicas, além da elaboração de instrumentos metodológicos e normativos que ajudam a orientar o desenho das políticas e a qualificar a tomada de decisão. A proposta é que, ao final do estudo, possamos oferecer insumos concretos para o aperfeiçoamento da política — indo além da simples aferição de metas e contribuindo para o aprimoramento de sua operacionalidade, planejamento e institucionalidade. É uma forma de garantir que a política evolua com base em evidências, mantendo-se responsiva às realidades locais.
Afinal, avaliar políticas públicas não é apenas medir resultados; é provocar aprendizado, promover ajustes e ampliar a capacidade do Estado de entregar respostas consistentes, eficazes e, sobretudo, justas. Porque segurança pública de verdade se faz com dados, método, evidências e compromisso com a transformação.
Supesp – Como você avalia a importância da Ciência na elaboração de estratégias e políticas na área da segurança pública?
Estêvão – No campo das políticas públicas, que é a minha área de formação e atuação, há uma premissa básica que sempre nos acompanha: recursos são limitados e as demandas são ilimitadas. Então, não dá pra fazer política pública com base em intuição ou achismo. É preciso ancorar decisões em evidências concretas, extraídas de experiências bem documentadas, com resultados mensurados e avaliados cientificamente.
É aí que entra o que chamamos de políticas públicas baseadas em evidências. Na segurança pública, essa lógica se impõe com mais força. Não basta apenas agir, o Estado precisa entender se suas ações estão, de fato, produzindo os efeitos desejados no território. Monitorar, avaliar e, se necessário, recalibrar. A pergunta não é só: “bateu a meta?”. Mas sim: quais foram os efeitos concretos da política naquele contexto específico? Houve impacto real? O que mudou de verdade no cotidiano das pessoas?
E mais: será que aquele resultado é mesmo fruto da política implementada ou teve outra variável influenciando ali? A ciência nos ajuda justamente a separar o sinal do ruído, a isolar fatores, a entender causalidade — e isso vale inclusive para o próprio modelo de avaliação, que precisa ser constantemente revisto, testado e aprimorado. A ciência, nesse contexto, portanto, é um pré-requisito essencial para que o Estado não apenas atue, mas atue com responsabilidade, aprendendo com o que deu certo e, principalmente, com o que deu errado.
Supesp – A integração da Guarda Municipal às Forças de Segurança pode ser uma alternativa para aperfeiçoar a segurança pública no país?
Estêvão – É uma proposta interessante e, ao que tudo indica, será uma pauta central nos debates contemporâneos sobre segurança nos próximos anos. Sou um entusiasta das ações integradas entre entes federados, especialmente porque problemas públicos – como os ligados à segurança pública – são, por natureza, transversais: o crime não respeita fronteiras administrativas nem limites institucionais. É nos municípios que a vida cotidiana se desenrola — nas ruas, praças e comunidades — e onde as demandas por segurança pública emergem de forma mais concreta. Portanto, a integração da Guarda Municipal às forças estaduais pode ter um papel suplementar relevante — evitando sobreposições, otimizando recursos e aproveitando o efetivo já existente nos territórios.
Além disso, é fundamental alinhar essa proposta ao que já existe em termos de institucionalidade nacional, como o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), o Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP) e o nosso próprio Plano de Metas Integradas, recentemente aprovado pela Lei nº 19.178, de 27 de fevereiro de 2025, que tem como objetivo central reduzir os principais indicadores de criminalidade justamente por meio da atuação articulada entre os diversos profissionais da segurança pública. Em resumo: integração, sim. Mas com critério, estrutura e planejamento. Integrar por integrar pode gerar ruído. Integrar com propósito pode mudar o jogo.
Supesp – Como é a rotina do seu trabalho na Supesp?
Estêvão – Eu atuo na nossa queridíssima Diretoria de Pesquisa e Avaliação de Políticas de Segurança Pública (Dipas), junto a um time altamente qualificado, engajado e multidisciplinar — com profissionais das áreas de Tecnologia da Informação, Administração Pública, Sociologia, Geografia, Economia, Estatística e Design. O ambiente é colaborativo, reflexivo e intelectualmente envolvente. temos um planejamento anual que define alguns estudos e temas prioritários, mas também atendemos muitas demandas que chegam de outras áreas do Governo.
Neste ano, por exemplo, atualizamos os estudos sobre maus-tratos a animais, violência contra mulheres e também sobre os povos indígenas do Ceará. Esses materiais foram apresentados diretamente às secretarias responsáveis como a Secretaria de Proteção Animal (Sepa), a Secretaria das Mulheres e a Secretaria dos Povos Indígenas, sempre com o objetivo de oferecer insumos técnicos que possam fortalecer as políticas dessas áreas no âmbito da segurança pública.
Além disso, temos atuado junto ao Programa Integrado de Prevenção e Redução da Violência do Estado do Ceará (PreVio), que é vinculado à Casa Civil, organizando e sistematizando dados de diferentes áreas — como saúde, educação, assistência social e sistema penitenciário. Todo esse trabalho se consolida em uma plataforma digital que é disponibilizada aos gestores municipais participantes do programa, servindo como ferramenta de apoio à tomada de decisão.
A presença da genética nas investigações criminais
O Núcleo de Perícia em DNA da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) já foi um dos destaques da reportagem da Supesp pelo Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico. Sem dúvida, é um dos setores que mais evoluiu, nas últimas décadas, dentro do aparato da Segurança Pública no Estado do Ceará.
O núcleo possui máquinas de última geração para realizar a identificação genética. São equipamentos cruciais que otimizam a precisão de uma investigação. Atuando na perícia forense há 13 anos, sendo cinco integrando o Núcleo de DNA da Pefoce, a perita legista Vivian Santiago, acompanhou de perto a importância cada vez maior da análise genética na elucidação de crimes e na continuidade das investigações. “O DNA é uma ferramenta poderosa que pode confirmar suspeitas, excluir inocentes e, principalmente, oferecer respostas concretas em casos muitas vezes complexos”, adiantou Vivian.
Supesp – O que você destacaria no seu trabalho e início de carreira?
Vivian – Destaco que o trabalho pericial exige um alto nível de dedicação, além de capacitação frequente e atualização constante. O avanço das tecnologias e das metodologias torna indispensável o aprimoramento contínuo para garantir resultados cada vez mais precisos e contribuir de forma eficaz para a Justiça. Desde o início, sempre fui movida pelo compromisso com a ciência e com a busca por respostas que contribuam com a Justiça. Com formação em Farmácia, encontrei na perícia criminal uma forma de aplicar o conhecimento científico em benefício da sociedade. O trabalho com genética forense é desafiador e, ao mesmo tempo, extremamente gratificante, pois o DNA tem papel fundamental na elucidação de crimes e na continuidade das investigações, oferecendo provas técnicas com alto grau de confiabilidade.
A perícia exige constante atualização e aprimoramento técnico. Por isso, ao longo da minha carreira, busquei manter uma formação sólida e em permanente evolução. Sou doutora em Biotecnologia pela Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), da Universidade Federal do Ceará (UFC) e possuo especializações em Medicina Legal e Genética, o que me permite contribuir de forma ainda mais qualificada para o trabalho pericial. Acredito que o investimento contínuo em conhecimento é essencial para acompanhar os avanços científicos e tecnológicos que impactam diretamente nossa atuação no dia a dia.
Supesp – Quais os avanços tecnológicos que considera relevantes nesse setor?
Vivian – Nos últimos anos, observamos avanços tecnológicos significativos na área de genética forense, que impactaram diretamente na qualidade, agilidade e alcance dos exames de DNA. Um dos principais marcos foi a incorporação da automação nos processos laboratoriais. Equipamentos automatizados permitem o processamento em de amostras com maior precisão, padronização e segurança, reduzindo o tempo de resposta e aumentando a produtividade.
Além disso, os investimentos direcionados à infraestrutura dos laboratórios e à capacitação dos peritos foram essenciais para garantir a excelência nos resultados. Hoje, contamos com plataformas tecnológicas modernas e insumos de alto desempenho, o que nos permite realizar exames com maior celeridade e qualidade técnica, atendendo de forma mais eficaz às demandas do sistema de Justiça.
Outro avanço extremamente relevante foi a consolidação do banco de dados genético nacional, que possibilita a inserção de perfis genéticos por peritos capacitados em diferentes estados do país. Esse sistema interligado amplia consideravelmente o alcance das investigações, permitindo o cruzamento de perfis genéticos coletados em cenas de crime com os de pessoas cadastradas em outros estados, o que contribui diretamente para a elucidação de casos e identificação de suspeitos ou vítimas.
Supesp – Com sua experiência, você cita alguma situação que marcou sua trajetória profissional?
Vivian – Um caso que marcou profundamente a minha trajetória profissional foi a primeira correlação genética realizada por meio do banco de dados genéticos. Antes da implementação dessa ferramenta e do treinamento específico dos peritos para inserção e análise dos perfis, os exames de DNA dependiam da existência de um suspeito conhecido para que a comparação fosse possível. Com esse avanço, conseguimos cruzar automaticamente os dados genéticos de um vestígio com perfis de outros casos, mesmo sem um suspeito direto.
Nesse caso específico, foi possível estabelecer uma correlação com outro processo investigativo e, assim, dar uma resposta concreta à vítima. Costumo dizer que essa é a forma que nós, da genética forense, temos de garantir que um crime jamais será esquecido. Mesmo quando não há um nome ou um rosto inicialmente, o perfil genético permanece, aguardando a conexão que possa levá-lo à verdade. Seguiremos sempre em busca da justiça.