Radiologista do IPC tira dúvidas sobre mamografia e exposição à radiação

23 de julho de 2025 - 14:37 # # # # #

Thiago Andrade - Ascom IPC - Texto e Fotos

“Dizer que a radiação faz mal é mito. Na relação entre risco e benefício, o exame traz um benefício que salva muitas vidas”, enfatiza a radiologista Fátima Gonçalves, do IPC 

Francisca Bernardo, 63, recebeu pelo celular um vídeo que a deixou intrigada. Nas imagens, uma suposta autoridade médica diz que o exame de mamografia deve ser evitado, pelo risco de a radiação utilizada pelo mamógrafo ser o “verdadeiro causador do câncer de mama”. “Meu Deus, fiquei confusa. Se o mamógrafo usa radiação e a radiação causa câncer, como o exame poderia ajudar a enfrentar a doença?”, perguntou-se a paciente, acompanhada pelo Instituto de Prevenção do Câncer (IPC). Estariam ela e tantas outras mulheres que realizam a mamografia se expondo a um risco indevido? A radiologista da unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Fátima Gonçalves, responde sem titubear: “De jeito nenhum, isso é mito”.

A dúvida de Francisca surge de uma preocupação legítima: ela realiza exames de mamografia quase todos os anos, desde a retirada de nódulos benignos em cada uma das mamas, em 2015. Além disso, nos últimos três anos, o surgimento de um novo nódulo tem sido monitorado em atendimentos no IPC.

Especialista em mamografia, Fátima Gonçalves explica o funcionamento do exame: “O mamógrafo utiliza Raios X, uma radiação capaz de atravessar nossa pele e nossos órgãos, o que permite obtermos imagens do interior do nosso corpo”. São essas imagens que possibilitam encontrar o desenvolvimento de um câncer de mama quando ele ainda está em fase inicial — o chamado diagnóstico precoce.

“Na relação entre risco e benefício, temos um benefício que salva muitas vidas”, enfatiza a radiologista. “Um diagnóstico precoce dá maior possibilidade de cura e também maior possibilidade de um tratamento mais conservador, com menos intervenções na mama”, afirma a médica.

A radiação à qual uma paciente é exposta na mamografia equivale à mesma radiação absorvida naturalmente ao longo de dois meses 

Radiação em doses seguras

É importante ressaltar que não é só quando realizamos um procedimento médico com raio-x que somos expostos à radiação. Todos os dias o ser humano absorve uma quantidade natural de radiação, vinda do solo, do ar e também dos alimentos que ingerimos.

Para efeito de comparação, é possível dizer que a radiação à qual uma paciente é exposta na mamografia equivale à mesma radiação à qual ela já é exposta naturalmente ao longo de dois meses. “É um exame seguro, são doses de radiação muito baixas”, elucida a radiologista Fátima Gonçalves. Ela complementa: “Apesar das informações falsas que insistem em circular, quando comparadas com outros métodos de imagem, a mamografia e a radiografia do tórax são os métodos com menor dose de radiação”.

Se o exame é seguro, por que a radiação é tão temida? “A capacidade de os Raios X atravessarem o corpo e fazer imagens é útil para detectar alterações e diagnosticar doenças. Mas, em quantidade e frequência inadequadas, também podem causar danos às células e provocar mutações genéticas, aumentando as chances de formação de um câncer”, explica a médica do IPC.

“Mas tudo isso é quantificado”, pondera. “As doses de radiação utilizadas para a realização dos exames de imagem são tais que os benefícios são muito maiores que os riscos”, afirma a médica.

Francisca Bernardo realiza exames de mamografia quase todos os anos, desde a retirada de nódulos benignos em cada uma das mamas, em 2015. 

Fake news e câncer de tireoide

O vídeo que Francisca recebeu pelo celular veiculava uma das tantas notícias falsas que circulam na Internet atualmente, seja em portais de notícias pouco confiáveis ou por meio de vídeos que se espalham rapidamente. São as chamadas fake news.

Em outubro de 2024, durante o Outubro Rosa — campanha mundial que evidencia a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama —, o Conselho Nacional de Mastologia emitiu nota técnica que ressalta a importância da mamografia para a diminuição da mortalidade pela doença. Também nos anos de 2017 e 2020, a entidade precisou se manifestar publicamente a fim de combater informações distorcidas que obtiveram ampla divulgação na mídia.

Uma dessas informações que periodicamente circulam nas redes sociais é a de que a radiação do exame de mamografia estaria supostamente ligada ao aumento das chances de desenvolvimento de um câncer de tireoide. “Pronto, já vi um vídeo sobre isso também”, afirma Francisca. A paciente do IPC descreve: “A pessoa do vídeo dizia que tinha que usar sempre o protetor de tireoide, que não fizesse o exame enquanto não fosse fornecido o equipamento, porque senão aumentava o risco de câncer”, rememora.

Ao contrário do que orientam as fake news, porém, a recomendação do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR) é outra: além de a dose de radiação para a tireoide durante uma mamografia ser extremamente baixa e não existirem dados consistentes que demonstrem que a mamografia aumente o risco de câncer de tireoide, o uso do protetor, um revestimento rígido de chumbo, pode atrapalhar o posicionamento da mama e interferir no diagnóstico, levando à necessidade de repetições do exame — consequentemente, a um aumento evitável da incidência de radiação na paciente.

Francisca sai da sala de mamografia com retorno agendado para o fim do mês de julho. Ao se despedir, aconselha: “Como a gente não tem conhecimento sobre radiação, se é muita ou se é pouca, aparecem esses vídeos que assombram a gente. Por isso que eu confio na orientação da médica”.

De outubro a outubro rosa

O câncer de mama é o tipo de câncer que mais acomete mulheres no Brasil. A prevenção primária e a detecção precoce contribuem para a redução da incidência e da mortalidade de pessoas com a doença.

Para aumentar a conscientização sobre a doença, a Sesa promove, desde 2024, a campanha “De outubro a outubro rosa”. A ideia é falar sobre autocuidado o ano inteiro e estimular a realização dos exames necessários, além de desmistificar as questões com relação à mamografia.