Hospital São José é referência no Ceará em tratamento de hepatites virais
29 de julho de 2025 - 17:24 #Hepatites Virais #Hospital São José #tratamento
Allane Marreiro - Ascom HSJ - Texto
Ascom HSJ - Fotos
Ambulatório de Hepatites Virais do HSJ trata, principalmente, os tipos B e C
Uma descoberta por acaso. Foi assim que Clarice Santiago [nome fictício], 37 anos, moradora de São Gonçalo do Amarante, foi diagnosticada com hepatite B. Há 15 anos, durante a gravidez do segundo filho, um dos exames de rotina deu positivo para a infecção viral. Desde então, Clarice é acompanhada pela equipe multiprofissional do Hospital São José (HSJ), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
“Passei um bom tempo fazendo exames, acompanhando a evolução da doença, depois comecei a tomar medicação. Após sete anos de acompanhamento, tive outra gestação. Quando meu terceiro filho nasceu, a hepatite entrou em remissão, mas ainda estou em tratamento medicamentoso. Costumo vir para cá a cada seis meses para fazer o monitoramento da doença”, comenta Clarice.
Unidade especializada em doenças infecciosas é referência no estado
As hepatites, assim como muitas outras infecções virais, frequentemente são assintomáticas, dificultando o diagnóstico. No Brasil, existem casos de quatro tipos de hepatites virais: A, B, C e D. Em muitos casos, os indivíduos infectados desconhecem a condição, o que reforça a importância da conscientização e do diagnóstico precoce. Um único teste rápido pode ser suficiente para o diagnóstico.
De acordo com Elodie Hyppolito, médica hepatologista do HSJ, a maioria dos casos diagnosticados hoje não se contaminou agora. “A vacina da hepatite B entrou para o calendário obrigatório das crianças há aproximadamente três décadas. Então, todo mundo que nasceu antes disso não foi imunizado sistematicamente. Por conta disso, a transmissão vertical de mãe para filho aconteceu bastante. 40% dos pacientes que são diagnosticados na idade, geralmente, de 50 anos, na verdade, pegaram quando criança, lá atrás, quando não havia o pré-natal. Mas nós ainda temos crianças com menos de 5 anos que são contaminadas de mãe para filho, no útero, no momento do parto ou na amamentação, de mulheres que não fizeram o pré-natal corretamente”, comenta a especialista.
Ambulatório especializado
No Ceará, o Hospital São José é referência no tratamento dessas doenças. O Ambulatório de Hepatites do HSJ trata, principalmente, os tipos B e C. A instituição recebe mais de 80% dos casos de hepatite C, que é a mais letal de todas, e grande parte dos casos de hepatite B, de todo o estado. Em 2024, foram atendidos 969 casos de hepatites virais. E de janeiro a julho de 2025, o ambulatório já atendeu 461 pacientes com a infecção.
“Estima-se que menos de 20% dos casos de hepatite C do Ceará estejam diagnosticados. Hoje, nós trabalhamos com um percentual de 0,2% a 0,3% da população cearense que tem hepatite C crônica. Isso equivale a mais ou menos 30 mil cearenses contaminados. Deste número, apenas cerca de 2.500 estão sendo tratados com o novo tratamento que é realmente eficaz, um tratamento simples, com um ou dois comprimidos, por 12 a 24 semanas. Ele é gratuito no SUS, não tem efeito colateral e a cura é de 95% a 100%”, explica a hepatologista Elodie Hyppolito.
De acordo com a especialista, apenas 26% dos pacientes tratados no Hospital São José são do interior do estado. Um dado que merece atenção, tendo em vista que o teste rápido é ofertado para todos os municípios do Ceará. “A hepatite é uma condição negligenciada no Brasil como um todo. Isso é muito ruim e grave, porque a maioria das pessoas com a doença tem mais de 20 a 30 anos, e 30% desses não diagnosticados já são cirróticos, e quando descobrem, já estão com câncer de fígado avançado”, destaca Elodie.
A enfermeira Thatiana Pereira, Coordenadora do Ambulatório do HSJ, explica que, para ter acesso aos serviços ambulatoriais do HSJ, os pacientes precisam ser encaminhados. “Os pacientes realizam os testes nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) dos municípios do interior em que são residentes e são encaminhados para o HSJ. Ao chegar aqui, o paciente passa por uma triagem realizada pela equipe de enfermagem, que solicita os exames necessários. A coleta é realizada no mesmo dia e os resultados saem num prazo de 15 a 30 dias, no qual o paciente retorna para notificação e encaminhamento à primeira consulta com um médico especialista. Os pacientes residentes em Fortaleza são encaminhados das policlínicas”, orienta.
Informação
Para o médico gastroenterologista e hepatologista do HSJ, Éder Janes Guerra (foto), a desinformação ainda é um grande problema na luta contra as hepatites. “Acredito que muitas pessoas não recebem um diagnóstico devido à falta de informação. Trata-se de uma infecção frequentemente assintomática. A pessoa pode se infectar e, na maioria dos casos, não apresentar sintomas. Consequentemente, a infecção pode ser transmitida, pois é uma infecção sexualmente transmissível, além de poder ser transmitida por outros meios, como o compartilhamento de objetos cortantes ou o uso de drogas injetáveis. Essa situação é agravada pela desinformação generalizada na população. É uma infecção altamente recorrente, com riscos potenciais significativos, incluindo a progressão para cirrose e o desenvolvimento de câncer no fígado”, afirma.
De acordo com o especialista, a utilização de preservativos é crucial, não apenas para prevenir a hepatite B, mas também outras infecções sexualmente transmissíveis. “O compartilhamento de objetos perfurocortantes é outro fator de risco difícil de controlar. Diabetes mal controlada e ferimentos abertos, embora menos comuns, também podem facilitar a transmissão da hepatite B, especialmente em ambientes domésticos, por meio do contato com indivíduos infectados”, diz.
Outros fatores de risco incluem a realização de tatuagens em condições inadequadas, como em ambientes públicos, utilizando equipamentos não esterilizados e com reuso de agulhas. Essa prática, no passado, contribuiu para a disseminação da infecção.
Ação educativa alusiva à campanha Julho Amarelo
Ações educativas ocorreram por todo o mês
A equipe multiprofissional do HSJ realizou neste mês de julho uma ação educativa alusiva à campanha do Julho Amarelo, mês de conscientização sobre as hepatites virais. A atividade consistiu em um encontro informativo, realizado na recepção do ambulatório, com o objetivo de instruir os pacientes.
Na ocasião, foram utilizadas ilustrações e um dado com perguntas relacionadas ao tema. Os pacientes eram convidados a jogar o dado, respondendo às perguntas propostas. Os profissionais presentes complementavam a dinâmica com orientações sobre cada questão. O intuito é enfatizar a importância da prevenção das hepatites.