5 anos da Polícia Penal do Ceará: elas no comando – o protagonismo feminino
30 de julho de 2025 - 16:03 #Polícia Penal #Protagonismo feminino #segurança
Natasha Ribeiro Bezerra - Ascom SAP - Texto
Pablo Pedraza - SAP - Fotos
Em um universo historicamente dominado por homens, cada vez mais mulheres têm rompido barreiras e assumido posições estratégicas e operacionais dentro do sistema prisional brasileiro. No Ceará, esse movimento vem ganhando forma e força — impulsionado por trajetórias inspiradoras de mulheres que não apenas ocupam espaços, mas os transformam com competência, sensibilidade e coragem.
Um dos maiores exemplos desse avanço está na Unidade Prisional Feminina Desembargadora Auri Moura Costa (UPF), localizada na Região Metropolitana de Fortaleza. Sob a direção da policial penal Socorro Matias, a unidade alcançou a marca histórica de 100% das internas inseridas em projetos de ressocialização — um feito inédito no sistema penitenciário cearense e que hoje alcança todas as mulheres privadas de liberdade em todas as unidades prisionais femininas do Ceará. O resultado é fruto de uma gestão comprometida, construída por 217 policiais penais mulheres que atuam com disciplina, empatia e profundo senso de responsabilidade social. Servidoras que, ao lado da Diretora, acreditam na transformação humana por meio da educação, do trabalho, da saúde e da cultura, tornando a UPF uma referência nacional em políticas de reintegração.
As mulheres também estão na linha de frente das missões táticas mais complexas e à frente das principais unidades prisionais do estado, mostrando que a atuação feminina na segurança pública vai muito além da presença simbólica — ele é real, qualificado e essencial para o avanço institucional da Polícia Penal cearense.
Atualmente, seis mulheres integram diretamente o setor operacional da corporação — atuando em áreas como intervenção tática, escolta e operações com cães. Entre elas, destacam-se Jamile Alcântara, policial penal que atua com maestria no Núcleo de Operações com Cães (NOC), e Djaine Guerra, pioneira como a primeira mulher interventora avançada do Estado e hoje à frente da supervisão do Núcleo de Escoltas (Nuesc). Suas histórias são retratos vivos de superação, preparo técnico e paixão pela missão.
A presença feminina também se consolida na gestão de grandes unidades prisionais, inclusive masculinas — um marco significativo em uma estrutura que, por décadas, teve direções exclusivamente ocupadas por homens. No total, oito mulheres ocupam atualmente cargos de direção em unidades prisionais no Ceará, reforçando a presença feminina em posições estratégicas do sistema penitenciário. É o caso de Ilana Ferro, que comanda a Unidade Prisional de Aquiraz (UP-Aquiraz), que é masculina, e de Ecirleide Cristina, que atualmente está à frente da Unidade Básica de Saúde Professor Otávio Lobo (UBSPPOL), em Itaitinga — uma unidade masculina e de perfil técnico-operacional. Antes disso, ela comandou a Unidade Prisional Feminina do Crato (UP-Crato), no interior do estado. Ambas conduzem com firmeza, responsabilidade e sensibilidade os complexos desafios da gestão prisional, reafirmando que liderança feminina também é sinônimo de eficiência, segurança e inovação.
Este especial reúne essas quatro histórias como símbolo de tantas outras. Mulheres que, dia após dia, constroem caminhos sólidos dentro de uma das instituições mais desafiadoras da segurança pública. Um exemplo marcante é a atuação na Unidade Prisional Feminina Desembargadora Auri Moura Costa (UPF), onde, sob a liderança de Socorro Matias e com o empenho de mais de 200 policiais penais femininas, foi possível alcançar um marco inédito: inserir 100% das internas em projetos de ressocialização. Técnica, equilíbrio emocional, visão estratégica e humanidade definem essa equipe que vem reescrevendo o presente — e abrindo caminho para um futuro em que o comando também é, e cada vez mais será, delas.
UPF: referência nacional em gestão feminina e ressocialização no sistema prisional
Quando o trabalho é feito com propósito, técnica e sensibilidade, os resultados vão além do esperado. É assim na Unidade Prisional Feminina Desembargadora Auri Moura Costa (UPF), maior presídio feminino do Ceará e símbolo de uma gestão liderada por mulheres que fazem da ressocialização uma missão diária. Sob o comando da policial penal Socorro Matias e com o apoio direto de 217 policiais penais femininas, a unidade alcançou a marca histórica de 100% das internas inseridas em ações de educação, capacitação e trabalho.
Atualmente, 249 internas participam de aulas regulares de alfabetização, ensino fundamental e médio. Outras 528 atuam em atividades laborais dentro da unidade, e 381 desenvolvem habilidades manuais nas oficinas de artesanato. A UPF também oferece projetos culturais, como o curso de música e violão, que já conta com a participação de 18 internas. Mais do que números, esses dados refletem um ambiente onde a disciplina convive com a oportunidade de recomeço — uma equação que se fortalece a cada dia graças ao empenho de uma equipe formada essencialmente por mulheres.
A atuação das policiais penais da UPF é o pilar dessa transformação. Elas conduzem, organizam e fazem tudo funcionar com rigor, empatia e profundo comprometimento com a função pública. Com o suporte das reformas estruturais realizadas pela Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização (SAP), a unidade se tornou um ambiente mais adequado para o desenvolvimento de projetos de reintegração social — consolidando-se como modelo para o sistema penitenciário nacional.
À frente dessa operação de sucesso está Socorro Matias, uma das figuras mais emblemáticas da Polícia Penal cearense. Com três décadas de dedicação ao sistema prisional, ela carrega no currículo pioneirismos que abriram portas para muitas outras mulheres. Foi a primeira a dirigir uma unidade masculina no Ceará, além de ter chefiado a segurança do antigo presídio feminino e coordenado a então Cosip, hoje COEAP — funções, até então, reservadas quase exclusivamente aos homens. Graduada em Direito, com especialização em Direito Penal e Gestão Prisional, também integra o Conselho Penitenciário do Estado, onde segue contribuindo com sua experiência em decisões que moldam o presente e o futuro da política prisional.
Mas é na rotina da UPF que sua liderança se revela com mais força — não apenas pelos números, mas pelo impacto humano. Em cada interna que volta a sonhar, em cada mulher que reaprende a acreditar em si mesma, está o reflexo de um trabalho feito com propósito e fé na transformação.
“Fazer efetivamente o trabalho proposto ao policial penal pela SAP — no que tange à segurança prisional e à reinserção social das internas — é hoje a realidade diária da UPF. Sinto-me imensamente grata a Deus por fazer parte dessa (re)construção de vidas. É um privilégio liderar um time que acredita, como eu, que nenhuma história está perdida. Onde muitos enxergam um fim, nós escolhemos ver um recomeço.”
Jamile Alcântara: Tática, Técnica e Sensibilidade na Linha de Frente
Com sete anos de atuação na Polícia Penal, Jamile Alcântara trilha um caminho marcado pela superação e pela conquista de espaços predominantemente masculinos. Atualmente no Núcleo de Operações com Cães (NOC), ela integra uma das áreas mais estratégicas da corporação, onde atua com dedicação e preparo técnico exemplar.
A decisão de seguir na segurança pública surgiu ainda durante sua formação em Administração, quando abandonou o emprego estável em um banco para se dedicar aos estudos. “Eu não queria ser apenas mais uma. Queria fazer a diferença e explorar tudo que a profissão oferece, assim como qualquer homem”, relembra.
Após atuar no Grupo de Operações Regionais (GORE) e na Unidade Prisional de Segurança Máxima do Estado do Ceará (UP-Máxima), Jamile se encantou pelo trabalho do Núcleo de Operações com Cães (NOC). A conexão entre condutor e cão, aliada ao rigor técnico da atuação, foi decisiva. “Vi ali a possibilidade de unir sensibilidade com estratégia. Quando entrei, não havia mulheres no núcleo. Hoje, somos pioneiras.”
Para ser aprovada no curso operacional com cães, enfrentou uma intensa rotina de treinos físicos e técnicos. “É uma rotina puxada, mas cheia de propósito. Trabalhar com cães exige disciplina, paciência e constância”, diz. Ela participa diretamente da formação de cães de faro e guarda, atuando em ações de revista, contenção e busca de internos em fuga.
Além das operações táticas, Jamile idealizou um projeto social com sua cachorrinha Athena, voltado para visitas a escolas, hospitais e espaços comunitários. “Percebi que o canil ainda não tinha um cão voltado para o trabalho social — um desafio que resolvi assumir. Comprei a Athena, uma cadela de perfil dócil, e a treinei com muito carinho para atuar nesse trabalho.” Ela destaca o impacto desse projeto: “Hoje, ver a Athena levando alegria e transformando ambientes me emociona profundamente. O trabalho com cães vai muito além do operacional; é também sobre acolher, humanizar e conectar.”
Ser mulher nesse ambiente, segundo ela, impõe desafios diários. “A mochila pesa mais, física e emocionalmente. Mas a gente compensa com técnica, inteligência emocional e resistência. Não gritamos para provar que somos capazes — mostramos fazendo.”
Estar na linha de frente como mulher é motivo de orgulho e responsabilidade para Jamile: “É uma forma de mostrar que nós temos espaço em qualquer área, desde que com preparo, técnica e presença. A presença feminina traz equilíbrio, sensibilidade, estratégia e controle emocional, essenciais para o trabalho tático e para manter a ordem e segurança.”
Ela reconhece os desafios ainda existentes: “Sei que enfrentamos olhares desconfiados e obstáculos diários, mas cada missão cumprida abre caminho para outras mulheres. A farda representa coragem, entrega e propósito.” Para quem deseja seguir esse caminho, Jamile aconselha: “Não se limite. Tudo é treinável. Você não precisa começar pronta, mas tem que começar com vontade e não desistir.”
Hoje, Jamile se sente uma referência no grupo, não por buscar status, mas pela entrega e verdade. “Essa responsabilidade me toca e me inspira a continuar sendo exemplo de profissionalismo, respeito e irmandade. Acredito que o futuro reserva uma presença feminina maior nas forças especializadas da Polícia Penal, com mais preparo, respeito e oportunidades.”
E para as mulheres que ainda duvidam da própria força, Jamile tem uma mensagem forte: “Ela está aí, esperando para se revelar. Não importa o quanto o caminho pareça difícil ou pesado — se é seu desejo, você pode conquistar. Comece com o que tem, faça do seu jeito e, quando menos esperar, estará ocupando um espaço que nem imaginava ser seu, com coragem, verdade e orgulho. Se tem alguém que pode, essa pessoa é você. Uma mulher determinada consegue tudo o que deseja.”
Djaine Guerra: a história de uma mulher que quebrou barreiras na Polícia Penal
Djaine Guerra tem 12 anos de dedicação na Polícia Penal e é referência de força, coragem e pioneirismo. Natural do Rio Grande do Norte, hoje atua como Supervisora do Núcleo de Escoltas (NOESC), coordenando as escoltas no sistema prisional da Região Metropolitana de Fortaleza, dentro da Coordenadoria do Grupo de Ações Penais (GAP). Desde o começo, Djaine teve claro seu instinto protetor. “Sempre me indignei com injustiças e quis proteger as pessoas. Foi me tornando policial que encontrei meu verdadeiro caminho”, conta.
Em 2011, desempregada, decidiu prestar concurso para agente penitenciária, sem imaginar que essa escolha mudaria sua vida para sempre. Na época, a profissão era pouco valorizada e pouco conhecida pela sociedade. “Pensei em tentar e depois fazer outro concurso, mas logo percebi que tinha encontrado minha missão.” Desde o início, buscou estar na linha de frente, no operacional — um espaço ainda muito dominado por homens.
Por anos, trabalhou em unidades prisionais no interior, enfrentando pouca estrutura e a ausência de treinamentos específicos. “Era uma rotina pesada, com pouca formação e pouca operação. A parte operacional dentro de mim parecia adormecida.” Tudo mudou com as transformações trazidas pelo secretário Mauro Albuquerque, que modernizou o sistema prisional, investindo em treinamento e equipamentos.
O ponto de virada na carreira de Djaine foi o Curso de Aperfeiçoamento Tático Especializado (CATE). “Foi como acordar para uma nova vida. Ver as viaturas, os instrutores, as operações me fez descobrir uma paixão pelo armamento, pelo fuzil, pela calibre 12. Saí daquele curso sabendo que era aquilo que eu queria.” Em 2019, se aprofundou ainda mais no operacional, fazendo cursos de escolta, tonfa, algemação, intervenção básica e avançada. “Foi um ano decisivo — escolhi a missão, e a missão me escolheu.”
Com coragem e determinação, Djaine conquistou um marco histórico ao se tornar a primeira mulher interventora avançada da Polícia Penal do Ceará. “Às vezes parece que nem caiu a ficha. Sei o tamanho dessa conquista, mas para mim foi natural porque sempre busquei isso. Não me deram o título — eu lutei, treinei, mereci.” Essa vitória abriu portas para outras mulheres que hoje sonham em ocupar espaços antes inacessíveis.
Na Supervisão do NOESC, Djaine coordena escoltas de presos de alta periculosidade, com uma responsabilidade que vai além do operacional. Ela gerencia toda a logística, cuidando de cada detalhe que pode fazer a diferença em situações de risco. “O trabalho exige precisão e organização. No começo, foi desafiador aprender a parte administrativa, mas hoje me apaixonei pela gestão.”
Djaine acredita que o protagonismo feminino tem transformado a cultura da corporação. “A diversidade de olhares fortalece a segurança pública. A mulher, quando ocupa espaço, transforma esse espaço.” Ela reconhece que ainda há muitos desafios, pois ainda somos mais testadas que os homens, mas cada missão cumprida com excelência é uma resposta. “Não estamos só ocupando lugar — estamos construindo uma nova referência.”
Para as mulheres que desejam seguir seus passos, Djaine deixa um conselho claro e inspirador: “Não usem a condição feminina para privilégios, mas para melhorar o ambiente. Somos treinadas igual aos homens, temos o direito de buscar qualquer área, inclusive as mais operacionais. Vai ser difícil? Sim. Mas não é impossível. Eu consegui, e você também pode.” Sua trajetória é um convite à coragem, à dedicação e à superação, um verdadeiro exemplo de que o protagonismo feminino é essencial e transformador dentro da Polícia Penal.
Ilana Ferro: Quando Liderar Também é Ressignificar
A policial penal Ilana Ferro entrou na carreira em 2017, determinada a ir além da função de custódia. Formada em Serviço Social, começou na Unidade Prisional Professor José Sobreira de Amorim (UP-Sobreira Amorim) e, pouco depois, foi transferida para a Unidade Prisional Irmã Imelda Lima Pontes (UP-Imelda), onde assumiu a direção ao apresentar ao secretário Mauro Albuquerque um artigo de sua especialização sobre enfrentamento à violência contra a mulher. No comando do Imelda, desenvolveu projetos voltados para internos LGBTQIA+, pessoas com deficiência, população negra e agressores de mulheres, conduzindo a unidade por três anos com foco na dignidade e na inclusão.
Mas foi ao ser convidada para assumir a direção da Unidade Prisional de Aquiraz (UP-Aquiraz) que sua trajetória deu um salto — e enfrentou seus maiores desafios. “A UP-Aquiraz estava prestes a sofrer uma nova intervenção. A unidade não conseguia manter uma linha de continuidade na gestão. E eu fui a primeira mulher a assumir aquela direção. Disseram que eu não duraria um mês, dois meses… já estou há quase dois anos”, afirma.
Ilana encontrou uma estrutura fragilizada, marcada por conflitos internos e desmobilização das equipes. Sua resposta foi imediata: investiu em valorização dos policiais penais, reativou comissões de trabalho e mobilizou os internos para participarem de projetos de horta, piscicultura, avicultura, além de oficinas de artesanato, ações educativas e atividades religiosas. “Hoje, praticamente 100% dos internos — são quase 1.400 — participam de alguma atividade de ressocialização pelo menos uma vez por semana. Isso é gestão com dignidade.”
Sua rotina na unidade inclui, diariamente, escolas, faculdades, palestras com secretarias de proteção social e direitos humanos. Com apoio de parceiros externos, Ilana criou uma rede de sustentação para transformar o ambiente prisional em espaço de reconstrução. “Nosso trabalho é uma gota no oceano, mas o oceano não seria o mesmo sem ela. Se a gente não fizer nada hoje, os crimes que essas pessoas cometeram no passado podem ser ainda piores no futuro. Nosso papel é tentar interromper esse ciclo.”
Para ela, a sensibilidade feminina não diminui a autoridade — ao contrário, amplia a visão estratégica. “Sempre disseram que eu só tinha bons resultados no Imelda porque era uma unidade pequena. Quando assumi a UP-Aquiraz, disseram que eu não daria conta. Mas não é sobre o tamanho da unidade. É sobre saber fazer gestão. É sobre enxergar o ser humano para além do crime.”
Ilana reconhece que a caminhada feminina dentro da segurança pública ainda exige resistência. “Os homens que passaram pela UP-Aquiraz antes de mim não enfrentaram apostas sobre quanto tempo iriam durar. Comigo foi diferente. Mas conquistei respeito com diálogo, domínio do que faço e dedicação total. A unidade virou a minha casa. Se eu pudesse escolher onde ficar, escolheria continuar ali.”
A diretora também participa de conselhos ligados à igualdade racial, direitos da população LGBT, da pessoa idosa e da pessoa com deficiência. Para ela, essas conexões com o campo dos direitos humanos enriquecem a prática dentro do sistema prisional. “Cada pessoa precisa ser compreendida a partir de sua realidade. A gestão humanizada é a única capaz de garantir uma segurança pública eficaz.”
Com a institucionalização da Polícia Penal, Ilana destaca que as mulheres têm cada vez mais oportunidades de mostrar sua força em áreas antes negadas. “Hoje, homens e mulheres recebem a mesma formação. As alunas do curso de formação estão prontas para fazer tudo o que os homens fazem. A diferença é que, para chegar até aqui, muitas de nós tiveram que abrir mão de mais coisas. Mas seguimos firmes. E o mais importante: transformando vidas.”
Olhando para o futuro, Ilana espera que mais mulheres tenham acesso à educação, independência e apoio institucional. E deixa um recado direto: “A mulher não é posse do homem. A mulher é parceira de luta, de convivência, de construção de uma sociedade mais justa. E, dentro da Polícia Penal, ela veio para ficar.”
Ecirleide Cristina: Liderança entre a firmeza e a empatia
Com quase uma década de atuação no sistema prisional cearense, a policial penal Ecirleide Cristina é um dos nomes que simbolizam o avanço da liderança feminina na Polícia Penal. Atualmente, está à frente da Unidade Básica de Saúde Professor Otávio Lobo (UBSPPOL), em Itaitinga — uma unidade masculina e de perfil técnico-operacional. Antes disso, também comandou a Unidade Prisional Feminina do Crato (UP-Crato), no interior do estado. A experiência acumulada nas duas frentes revela a versatilidade de uma gestora que conduz com sensibilidade e autoridade.
“Cada etapa da minha trajetória me preparou para os compromissos que hoje assumi com ainda mais responsabilidade”, afirma Ecirleide, que já passou por plantões operacionais, comissões estratégicas e coordenação de equipes. Em 2017, assumiu pela primeira vez a direção de uma unidade prisional — a cadeia feminina de Juazeiro do Norte — onde implementou, com o apoio do GAP e do GORE, procedimentos disciplinares que, mais tarde, se tornaram referência no sistema penitenciário do Estado. “Fomos pioneiras e nem imaginávamos que isso daria tanto destaque. Em 2018, já não se entrava mais fumo na unidade e todos os internos permaneciam sentados durante os procedimentos. Hoje, isso é uma prática padrão”, recorda. Com a chegada do secretário Mauro Albuquerque, essas medidas passaram a ser adotadas em todas as unidades prisionais do Ceará.
Durante os seis anos em que esteve à frente da Unidade Prisional Feminina do Crato, Ecirleide protagonizou uma gestão marcada por organização, disciplina e foco na reintegração social. À frente da unidade, deixou como legado um índice expressivo de ressocialização: praticamente 100% das internas inseridas em projetos de trabalho, educação ou outras iniciativas voltadas à reconstrução de trajetórias. Sua atuação firme, mas sensível às necessidades das mulheres privadas de liberdade, transformou a unidade em referência regional.
Só após consolidar esse trabalho, Ecirleide foi convidada a assumir a direção da UBSPPOL, o que marcou não apenas uma mudança geográfica, mas também simbólica. Ecirleide deixou um ambiente majoritariamente feminino — com 58 policiais penais mulheres e seis homens — para liderar uma equipe de quase 200 servidores, sendo apenas 12 mulheres. “Comandar homens é diferente. Mas liderar é sobre inspirar, e não impor. É preciso manter a calma mesmo diante do caos. Ser gestora de uma unidade masculina é um desafio diário, mas também uma grande oportunidade de mostrar que somos capazes”, pontua.
Ela reconhece que, apesar das conquistas, o caminho da mulher dentro da segurança pública ainda exige superação constante. “Fui colocada à prova muitas vezes. Havia sempre o olhar de desconfiança, o ’será que ela vai dar conta?’. Mas respondi com trabalho, estudo, alianças saudáveis e escuta ativa. A liderança feminina traz uma gestão mais humanizada e reflexiva, sem abrir mão do rigor e da disciplina.”
A força do protagonismo feminino na Polícia Penal também vem sendo reconhecida em espaços nacionais. Em 2024, Ecirleide teve uma de suas cartas selecionadas para ser lida durante o evento “Mulheres na Liderança”, realizado em Brasília, que reuniu representantes femininas da segurança pública de todo o país. “Foi um momento de muita emoção e orgulho. Eu levantei a mão e defendi o nosso secretário, porque poucos estados têm mulheres à frente de unidades prisionais masculinas. O Ceará é uma referência, e eu faço parte dessa história.”
Ecirleide destaca o papel da atual gestão da Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização (SAP) no fortalecimento desse processo. Para ela, o secretário Mauro Albuquerque foi um divisor de águas. “Ele chegou junto, investiu em capacitação, em estrutura, e deixou claro: não existe função de homem ou de mulher. Todos são policiais. Com ele, a mulher deixou de estar restrita às unidades femininas e passou a ser vista como liderança estratégica dentro do sistema.”
Ela própria é exemplo disso. Participou de um dos primeiros Cursos de Aperfeiçoamento em Armamento e Tiro (C.A.A.T), em 2019, e desde então segue acumulando experiência. Ao ser convidada a assumir o UBSPPOL, resistiu a princípio, mas logo entendeu a importância da missão. “Missão dada é missão cumprida. Abracei a causa com coragem e hoje vejo o quanto foi acertada essa escolha. O reconhecimento é fundamental e me mostra que estou no caminho certo.”
Ao olhar para o futuro, Ecirleide é categórica: “As mulheres já provaram que têm competência para liderar, inovar e transformar. Hoje temos diretoras de unidades masculinas, instrutoras de armamento e lideranças em todos os níveis. O futuro da Polícia Penal é feminino, e ele já começou.”