I Festival de Culturarte do Sistema Socioeducativo: o dia em que a juventude foi aplaudida de pé
30 de julho de 2025 - 10:06 #Culturarte #festival #juventude #Sistema socioeducativo
Ascom Seas - texto e fotos
No coração de um teatro lotado, o som mais potente saiu sem microfone. Era um recado: “Nós estamos aqui. Este espaço também é nosso”. A mensagem foi durante o I Festival Culturarte, realizado no Cineteatro São Luiz, em Fortaleza, pela Superintendência do Sistema Estadual de Atendimento Socioeducativo (Seas), em parceria com a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult). O evento ocorreu na última quinta-feira (24).
Antes mesmo de as luzes do teatro se apagarem, a arte já pulsava na Praça do Ferreira. No coração de Fortaleza, o grupo de pagode formado por jovens do Centro Socioeducativo Cardeal Aloísio Lorscheider (CSCAL), sob a orientação do professor de música Roberto Monteiro, recepcionava o público, ocupando um dos espaços mais simbólicos da cidade.
Ao entrar no teatro, os visitantes eram acolhidos por uma exposição artística no foyer. As obras, produzidas nos Centros Socioeducativos do Ceará, exibiam uma rica diversidade de peças artesanais feitas com cerâmica, madeira, vime, argila, borracha, papelão, materiais recicláveis, além de telas pintadas a mão.
Três toques anunciaram o início: as cortinas se abriram. Sob a apresentação de Maiara Teles e Eduardo Africano, o palco recebeu a primeira performance. Foi a Companhia de Teatro Casa dos Pássaros Dourados, formada por adolescentes do Centro Socioeducativo de Semiliberdade de Juazeiro do Norte, que encenou No coração da Beata Maria de Araújo, espetáculo que mergulhou nas trajetórias de mulheres marcantes da cultura regional e nacional.
Com uma linguagem poética e carregada de simbolismo, a peça homenageou figuras como Beata Maria de Araújo, Dandara dos Santos, Julieta Hernandez e a médica e ex-vereadora Dra. Yanny Brena — todas representadas como símbolos de fé, resistência e coragem. A montagem foi criada pelo arte-educador Wanderson Petrova, em parceria com o professor de Arte e artesão Marcus Antônio. Na abertura, a diretora da unidade, Regina Elias Gomes, conectou sua fala à proposta do espetáculo, exaltando a mulher caririense como força espiritual e ancestral.
Na sequência, os jovens do Centro Socioeducativo Padre Cícero subiram ao palco com Eremiar, espetáculo da Companhia de Teatro Ser Tão Menino. A peça, dirigida por Cristiano Ramos, narrou a história de Francisco, um menino sonhador que construía pipas e, em uma tarde empoeirada do sertão, encontrou Zé da Luz, um griô, contador de histórias. Eremiar foi um tributo à infância curiosa, à sabedoria popular e à força poética dos saberes do interior.
O festival seguiu com apresentações musicais dos jovens do Centro Socioeducativo de Sobral, orientados pelo professor Naim Ventura. Já o Centro Socioeducativo Patativa do Assaré (CSPA), orientados pelo professor Fábio Oliveira, trouxe à cena um momento simbólico: a interação entre o jovem artista e Gabriela Ribeiro, coordenadora do Núcleo de Saúde da Seas, em uma performance que sintetizou o espírito do festival — troca, escuta e construção conjunta.
A música continuou com os grupos do Centros Socioeducativos Patativa do Assaré e Aldaci Barbosa Mota, sob a orientação dos professores Fábio Oliveira e Raquel Lopes. A força da expressão corporal tomou conta do palco com a apresentação de capoeira dos adolescentes dos Centros Socioeducativos Dom Bosco, Mártir Francisca (Semiliberdade) e CSCAL, conduzidos por Mestre Elias e Mestre Maradona.
Encerrando o ciclo de manifestações, um jovem acompanhado pelo Programa de Oportunidades e Cidadania (POC) subiu ao palco para declamar uma poesia. Em seguida, o festival foi finalizado com o ritmo vibrante do SLAM e a energia contagiante do breaking. Jovens dos Centros Socioeducativos Canindezinho e Aldaci Barbosa Mota, sob a orientação de Eduardo Africano e com participação de Laryssa Soares, encerraram o evento com potência, palavra e movimento.
A resposta do público foi arrebatadora. De pé, em uma ovação prolongada, a plateia reconheceu o talento e abraçou a trajetória de cada jovem. Um dia em que a sociedade viu, ouviu e aplaudiu de pé uma juventude que tem muito a dizer.
Estiveram presentes o superintendente da Seas, Roberto Bassan; o superintendente adjunto, Marçal Cunha; o promotor da 72ª Promotoria de Justiça de Fortaleza, Sérgio Louchard; Lucas Azevedo, promotor de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude (CAOPIJ); a defensora pública Andreia Rebouças, representante do Núcleo de Atendimento aos Jovens e Adolescentes em Conflito com a Lei (Nuaja); a coordenadora de Diversidade, Acessibilidade e Cidadania Cultural, Helena Campelo; o representante do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE), Ubiratan Junior; a coordenadora de Proteção Social Especial do Governo do Estado, Mônica Gondim; o secretário-executivo de Equidade, Direitos Humanos, Educação Complementar e Protagonismo Estudantil, Helder Nogueira; o diretor do Cineteatro São Luiz, José Alves Netto; o vereador Luiz Sérgio; o juiz Epitácio Quezado, representando o Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e de Execução de Medidas Socioeducativas (GMF); a coordenadora adjunta de Serviços de Saúde, Vânia Azevedo; a fundadora do coletivo Vozes, Alessandra Félix; os representantes do CEDCA, Reginaldo Silva e Mônica Sillan; a secretária da Diversidade, Mitchelle Meira; e o juiz da 5ª Vara da Infância e Juventude, Eduardo Gibson Martins, entre outras personalidades.