Especial 5 anos da Polícia Penal do Ceará: ação integrada e tecnologia no combate ao crime organizado no Ceará

4 de agosto de 2025 - 09:25 # # # #

Natasha Ribeiro Bezerra - Ascom SAP - Texto
Pablo Pedraza - SAP - Fotos

Agosto é mês de reconhecimento ao trabalho da Polícia Penal. E entre as engrenagens que movimentam o sistema de segurança penitenciária do Ceará, a Coordenadoria de Inteligência (Coint) da Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização (SAP) tem papel central na luta contra o crime organizado, aliando tecnologia, estratégia e integração de forças para garantir segurança à população.

A importância da Coint foi oficialmente reforçada com a promulgação do Decreto nº 36.493, de 1º de abril de 2025, que atualizou a estrutura organizacional da SAP e consolidou a Coordenadoria como um dos Órgãos de Execução Programática da pasta. Com uma estrutura central e dois eixos complementares — a Célula de Segurança Tecnológica Prisional e os Núcleos de Inteligência, presentes nas unidades prisionais —, a Coint assume um papel técnico, estratégico e institucional no enfrentamento à criminalidade dentro e fora do sistema penitenciário.

Desde 2019, a Coint tem sido responsável por um trabalho técnico e altamente especializado, que vai além da simples recaptura de foragidos. Nesse período, foram recapturados 197 dos 234 presos que fugiram do sistema prisional, o que representa uma taxa de recuperação superior a 85%. Apenas um teve a prisão revogada, 12 morreram por causas diversas nas ruas e apenas 24 ainda estão sendo procurados. Os números refletem uma atuação precisa, integrada e apoiada em tecnologia e inteligência, que se desdobra tanto em ações de prevenção como de repressão qualificada.

A atuação da Coint se fortalece ainda mais por meio da sua integração ao Centro de Inteligência do Ceará (CIC), estrutura estratégica instalada no Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp) e entregue em novembro de 2023. O CIC reúne seis agências de inteligência que atuam de forma articulada e cooperativa: quatro vinculadas à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), uma à SAP – representada pela própria Coint – e uma ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).

Com a presença da Coordenadoria de Inteligência da SAP no CIC, o sistema penitenciário passa a ter acesso direto a informações, análises de risco e planejamento conjunto de operações, o que amplia a capacidade de antecipar ações criminosas e fortalecer a segurança de forma integrada em todo o Estado.

Tecnologia como aliada no combate ao crime

Parte fundamental dessa estratégia está no constante investimento em equipamentos modernos, que potencializam o trabalho da Polícia Penal. Sistemas de CFTV com monitoramento 24h, body scanners, drones com câmeras térmicas e câmeras corporais com GPS têm sido peças-chave para prevenir fugas, apreender objetos ilícitos e garantir a segurança de internos, servidores e visitantes.

O uso de drones, por exemplo, já evitou fugas e viabilizou a recaptura de foragidos, como em uma ação recente em Itaitinga. Equipados com sensores térmicos, os drones oferecem vigilância aérea precisa mesmo em áreas de baixa visibilidade, contribuindo também para a prevenção de motins e a vigilância perimetral.

As câmeras corporais, adotadas pioneiramente pelo Estado do Ceará como a primeira experiência desse tipo na AméricaLatina, reforçam a transparência nas ações da Polícia Penal e garantem a integridade jurídica das operações. Os equipamentos permitem a transmissão em tempo real de áudio e vídeo, contam com GPS e possuem criptografia que assegura a confidencialidade das imagens, com acesso livre do Ministério Público e do Poder Judiciário, respeitando os direitos dos envolvidos e fortalecendo o controle institucional.

Já os body scanners representam uma importante inovação no procedimento de segurança, substituindo as revistas íntimas manuais e promovendo dignidade aos visitantes, ao mesmo tempo em que detectam com eficácia a entrada de objetos ilícitos. Essa tecnologia amplia a segurança de todos os envolvidos no ambiente prisional, além de contribuir para a humanização do atendimento.

Resultados expressivos nas apreensões e prejuízos ao crime organizado

O combate à entrada e ao uso de eletrônicos nas unidades prisionais do Ceará segue apresentando resultados significativos na repressão ao crime organizado. Um dos marcos mais expressivos foi registrado em 2020, quando a entrada de celulares nas unidades despencou devido ao reforço nas medidas de controle, como o uso de body scanners, revistas rigorosas e aumento da presença dos policiais penais. Foram apenas 121 apreensões de eletrônicos naquele ano, uma queda vertiginosa em relação às 6.234 apreensões registradas em 2019. No primeiro semestre de 2020, por exemplo, apenas 91 celulares foram apreendidos, contra 2.635 no mesmo período do ano anterior — uma redução de quase 3.000%. Ao todo, 19 unidades prisionais conseguiram zerar a presença desses aparelhos, consolidando o Ceará como referência nacional em disciplina e controle prisional.

Nos anos seguintes, os números mantiveram-se sob controle, com 20 apreensões em 2021 e 34 em 2022. Contudo, a intensificação das ações de inteligência e o avanço tecnológico das facções exigiram respostas ainda mais robustas. Em 2023, foram 591 apreensões, número que saltou para 1.344 em 2024 e, até maio de 2025, já somava 1.412 apreensões de dispositivos eletrônicos.

Somente em 2024, foram apreendidos 730 celulares analógicos, 535 smartphones, 71 smartwatches e 8 drones — resultando em um prejuízo estimado de R$ 18,3 milhões às facções criminosas. Já nos primeiros cinco meses de 2025, as apreensões contabilizaram 489 smartwatches, 290 celulares analógicos, 115 smartphones e 14 drones, além de outros itens, representando um impacto financeiro de R$ 7,7 milhões às organizações criminosas.

O trabalho da Coordenadoria de Inteligência demonstra como o uso estratégico de tecnologia e inteligência penitenciária tem se tornado um mecanismo eficaz não apenas de repressão, mas também de desarticulação de redes criminosas que operam dentro e fora das unidades prisionais.

Operações integradas e inteligência estratégica

A Coint também se destaca pela atuação em grandes operações, muitas delas em parceria com outras forças de segurança. Um exemplo recente foi a Operação Integração Saturação Total, promovida pelo Governo do Ceará como marco na política estadual de segurança. A SAP participou ativamente da ação, que mobilizou mais de 400 policiais, com dezenas de policiais penais, viaturas e equipamentos de ponta. Essa operação é um reflexo da política de atuação integrada e uso de inteligência para ampliar o alcance das ações no combate ao crime.

Outro destaque de 2025 foi a Operação Heresia, deflagrada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco/CE), que contou com a atuação decisiva da SAP e da Coint. A operação teve como objetivo desarticular uma organização criminosa com atuação interestadual e foi realizada simultaneamente em 29 municípios do Ceará e em outros três estados: Piauí, Rio Grande do Norte e Santa Catarina. A SAP mobilizou 102 policiais penais, sendo 45 atuando dentro de unidades prisionais e 57 em ações externas. A operação resultou no cumprimento de 73 mandados de prisão e na detenção de 23 monitorados por violações do uso de tornozeleiras eletrônicas, reforçando o papel estratégico da inteligência penitenciária na contenção e desarticulação de facções criminosas.

Além disso, a Coint teve papel decisivo em diversas outras frentes operacionais. Durante a 8ª fase da Operação Mute, coordenada nacionalmente pela Secretaria Nacional de Políticas Penitenciárias (Senappen), a equipe atuou diretamente no Complexo Penitenciário de Itaitinga II, com ações concentradas em três unidades: a Unidade Prisional Professor Clodoaldo Pinto (UP Itaitinga 2), a Unidade Prisional Professor José Jucá Neto (UP Itaitinga 3) e a Unidade Prisional Elias Alves da Silva (UP Itaitinga 4). A coordenadoria teve atuação destacada no apoio à remoção de eletrônicos que eram utilizados para viabilizar a comunicação ilícita entre internos e membros de facções criminosas. A operação contou ainda com o reforço do Grupo de Ações Penitenciárias (GAP) e da Polícia Penal Federal, fortalecendo a integração entre forças estaduais e federais no combate ao crime organizado dentro do sistema prisional.

Outra ação de destaque foi a participação no Programa Ceará Contra o Crime, em parceria com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), realizado no bairro Granja Lisboa, em Fortaleza. A operação incluiu a remoção de pichações, entulhos e revitalização de espaços públicos, com participação de internos do sistema prisional, autorizados pelo Judiciário, em uma ação conjunta de enfrentamento às facções.

Fruto desse trabalho de inteligência e controle, uma nova operação foi desencadeada pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) em 2025, com o cumprimento de mandados de prisão contra suspeitos de integrar uma facção criminosa de origem carioca, atuante no tráfico de drogas no bairro Conjunto Ceará, em Fortaleza. A investigação teve origem em 2024, a partir da apreensão de dois celulares utilizados de forma ilegal por detentos dentro da UP Itaitinga 4. Os aparelhos foram recolhidos em uma cela ocupada por presos vinculados à facção, e o material analisado permitiu a identificação e prisão de cinco pessoas em Fortaleza e Caucaia. A ação reforça a efetividade do trabalho conjunto entre inteligência penitenciária e órgãos de persecução penal no enfrentamento ao crime organizado.

A Coint também tem atuado diretamente no combate ao tráfico de drogas. Em parceria com a Delegacia de Narcóticos (Denarc), participou de uma operação no bairro Barra do Ceará, resultando na apreensão de cocaína, maconha, celulares e equipamentos usados para o tráfico. Na Operação Falcão Noturno, executada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado, a coordenadoria teve papel crucial na desarticulação de um esquema que usava drones para lançar chips e smartwatches nos presídios.

Outro episódio emblemático foi a frustrada tentativa de fuga de um detento, recapturado após nove meses graças à vigilância aérea por drones. A precisão da operação demonstrou mais uma vez a efetividade da tecnologia aliada à inteligência estratégica. Informações produzidas pela Coint também permitiram identificar alianças entre facções rivais e antecipar planos de ataques ao Estado, subsidiando o Ministério Público na transferência de líderes criminosos para o sistema penitenciário federal de segurança máxima.

A Operação DEFCON, deflagrada em setembro de 2024, contou com a atuação da Coint ao lado da Ficco/CE, com o objetivo de desmantelar uma organização criminosa que planejava resgates e ataques contra o sistema prisional cearense. Foram cumpridos 10 mandados de busca e apreensão e cinco de prisão.

Formação contínua e multiplicação do conhecimento: capacitação como pilar da inteligência penitenciária

A Coordenadoria de Inteligência (Coint) tem como prioridade institucional a constante capacitação técnica e operacional de seus profissionais. Ao longo dos últimos anos, foram promovidos diversos cursos e especializações voltados à área de inteligência aplicada à segurança pública e ao sistema penitenciário, consolidando uma cultura de aperfeiçoamento contínuo dentro da instituição.

Entre as formações realizadas, destacam-se o Curso de Operações de Inteligência, o Curso de Entrevista em Ambiente Prisional, o Curso de Equipamentos RPA, o Curso de Segurança Orgânica, o Curso sobre a Metodologia da Produção do Conhecimento, o Curso de OSINT e o Curso Básico de Inteligência. Essas capacitações têm sido fundamentais para elevar o nível técnico das operações, ampliar a capacidade analítica dos policiais e fortalecer o combate estratégico ao crime organizado.

Como parte da expansão desse compromisso com a qualificação, a Coint criou a “Célula de Educação em Inteligência Prisional”, uma estrutura dedicada à formação de novos profissionais da área. Todas as certificações emitidas, bem como as respectivas ementas e planos de aula, são atestadas e validadas pela Escola de Gestão Penitenciária e Formação para a Ressocialização (EGPR), assegurando o rigor técnico e a legitimidade dos conteúdos ministrados.

Desde sua criação, a célula já proporcionou a capacitação de mais de 325 servidores, entre policiais penais e agentes de inteligência de instituições como a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Exército Brasileiro, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Grupo de Monitoramento e Fiscalização (GMF), entre outras.

No âmbito dessa atuação formativa, foram ofertadas atividades como o Curso Básico de Inteligência Prisional, o Workshop sobre Organizações Criminosas, o Curso de Entrevista em Ambiente Prisional, o Curso Básico de Operador de Drone e o Curso de Segurança Orgânica. O investimento na formação contínua e na disseminação do conhecimento reforça o papel da COINT como referência nacional em inteligência penitenciária, ao mesmo tempo em que contribui diretamente para o fortalecimento das políticas de segurança pública no Ceará e no Brasil.

Compromisso com a inovação e a segurança pública

As ações da Coint demonstram que o combate ao crime dentro dos presídios exige mais do que contenção física: exige inteligência, integração entre forças e investimento contínuo em tecnologia. Ao combinar vigilância tecnológica, atuação em campo e estratégias de inteligência, a Coordenadoria tem promovido não apenas a segurança nas unidades prisionais, mas também contribuído decisivamente para a redução da violência e o fortalecimento da segurança pública no Ceará.

O coordenador da inteligência da Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização, Lima, fala sobre a importância da coordenadoria. “A Coordenadoria de Inteligência desempenha papel estratégico imprescindível no fortalecimento da segurança pública e na administração do sistema penitenciário estadual. Através da análise criteriosa de informações, do planejamento operacional rigoroso e da atuação integrada com as demais instituições de segurança, buscamos antecipar ameaças e promover a desarticulação eficaz das organizações criminosas que atuam dentro e fora das unidades prisionais. Ressaltamos o constante investimento na capacitação técnica dos nossos profissionais, cientes de que o conhecimento especializado e a aplicação de tecnologias avançadas são elementos essenciais para o enfrentamento das complexas dinâmicas do crime organizado. As ferramentas tecnológicas adotadas ampliam significativamente nossa capacidade de monitoramento, segurança e transparência das operações realizadas. Nossa atuação ultrapassa a simples contenção das ações criminosas, visando a criação de um ambiente penitenciário seguro e ordenado, que favoreça a ressocialização e contribua para a redução dos índices de criminalidade na sociedade. A conjugação de inteligência, tecnologia e ação coordenada constitui o alicerce de nossa missão institucional, orientando-nos para a obtenção de resultados concretos e duradouros em benefício da segurança da população cearense.”