Hospital de Saúde Mental acolhe e trata pacientes com Transtorno da Personalidade Borderline
28 de agosto de 2025 - 10:34 #HSM #saúde #Sesa
Ascom HSM - Texto e Fotos
Mudanças rápidas de humor, medo de ser abandonado pelos amigos ou parceiro, relacionamentos instáveis, impulsividade, crises de raiva, comportamentos de autolesão e sentimentos de vazio. Estes são alguns dos principais sintomas do Transtorno da Personalidade Borderline (TPB). No Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará, este tipo de transtorno está entre os principais atendimentos realizados na emergência. Em média, têm sido atendidos, por mês, 83 pacientes diagnosticados com borderline no setor. Já entre os pacientes internados no hospital, a média mensal é de oito casos.
A vendedora Débora de Sousa Ribeiro, 26, conta que descobriu o diagnóstico de borderline há um ano, por meio das consultas com o médico psiquiatra do HSM. “Ele percebeu os sintomas e logo começou o tratamento adequado. Antes, eu achava que eu era louca, que ninguém nunca iria me entender, ou até mesmo me ajudar. Pensava que jamais iria ter uma vida normal, até porque todos os sintomas prejudicavam minha rotina. Eu me sentia diferente, tinha um sofrimento interno que não conseguia explicar. Mas, com o acolhimento no HSM, minha forma de lidar com o transtorno mudou completamente. Percebi que reconhecer que precisamos de ajuda é o primeiro passo e com o acompanhamento adequado é possível alcançar qualidade de vida”, declara.
O médico psiquiatra Samuel Pinho explica que, no Brasil, estima-se que entre 1% e 3% da população sofra com o transtorno, o que representa aproximadamente dois milhões de pessoas. Em ambientes psiquiátricos, a prevalência é ainda maior: cerca de 20% dos pacientes atendidos em ambulatórios apresentam características do TPB, e no contexto das internações esse número pode ser ainda mais elevado.
“Este transtorno é complexo e exige compreensão cuidadosa e acompanhamento especializado, pois o impacto na vida dos pacientes é profundo. Uma parte significativa pode desenvolver uma sintomatologia grave, que chega a colocar sua vida em risco. Isso demonstra a intensidade e a complexidade do transtorno, que afeta não apenas a vida individual, mas também a das famílias e da sociedade”, ressalta o especialista.
Causas
A doença não apresenta uma causa específica. Ela é mais frequente em caso de histórico de maus tratos na infância e abuso de álcool pelos pais, por exemplo. “Entender o processo de desenvolvimento do Transtorno de Personalidade Borderline é essencial para pensar em intervenções eficazes. Na perspectiva da Terapia Comportamental Dialética, o transtorno surge de uma combinação entre predisposição genética e um ambiente invalidante. Esse ambiente é caracterizado por situações em que as emoções da criança não são reconhecidas ou acolhidas de forma adequada. Como consequência, a pessoa aprende maneiras disfuncionais de interpretar a si mesma, os outros e o mundo, o que favorece respostas desadaptativas diante das situações da vida”, analisa o psiquiatra.
Tratamento
O diagnóstico precoce é fundamental. O tratamento de primeira escolha é a psicoterapia estruturada, através da abordagem da Terapia Comportamental Dialética (DBT), que ensina habilidades de regulação emocional, tolerância ao estresse e melhora dos relacionamentos. Outras abordagens, como a Terapia Baseada em Mentalização (MBT) e as psicoterapias psicodinâmicas, também apresentam resultados consistentes. Os fármacos podem auxiliar na amenização de sintomas e diagnósticos associados, como depressão, ansiedade ou impulsividade.
O psiquiatra reforça que o Transtorno de Personalidade Borderline é uma condição prevalente, grave e ainda subdiagnosticada. “Investir em diagnóstico precoce, tratamento especializado e políticas públicas de saúde mental é essencial para reduzir o sofrimento, prevenir complicações e oferecer às pessoas com TPB uma vida mais equilibrada e significativa”, destaca Samuel.