Mulheres que convivem com HIV podem ter gestação segura e sem riscos de transmissão para o bebê
10 de setembro de 2025 - 15:34 #Gestação segura #HIV #mulheres #Sem riscos
Allane Marreiro - Texto
Allane Marreiro - Ascom HSJ | Thiago Freitas - Ascom HGCC - Foto
Mulheres com HIV podem ter filhos sem o vírus, mesmo descobrindo a infecção durante o pré-natal
São 40 anos de vida e quatro de tratamento contra HIV, mas o que impressiona mesmo na história de Laura [nome fictício] é acapacidade de superação e a fé inabalável de que tudo é possível se você acreditar. Aos sete anos, Laura foi diagnosticada com um déficit de desenvolvimento. Isso afetou muito seu aprendizado, mas não a impediu de crescer bem, trabalhar e ser feliz. E foi na gravidez, aos 36 anos, que surgiu um novo desafio. Durante o pré-natal, ela descobriu ter o vírus HIV.
“Foi um momento muito difícil para mim e para minha família, sobre a situação e a aceitação de que era possível, sim, continuar a viver convivendo com esse vírus enquanto gerava uma nova vida”, comenta Laura. Ela foi encaminhada para o Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), onde começou tratamento e acompanhamento contra o HIV, conseguindo ficar com a carga viral indetectável durante toda a gestação.
A carga viral indetectável significa que o tratamento antirretroviral foi eficaz e que a quantidade de vírus no sangue é tão baixa que não pode ser detectada pelos exames, melhorando a saúde e qualidade de vida da pessoa e impedindo a transmissão do HIV.
O bebê nasceu sem o vírus. Mesmo com a carga viral indetectável, ela seguiu o protocolo indicado pelos médicos de não amamentar para evitar a transmissão vertical, já que o leite materno também pode ser um meio de transmissão. “Fiquei triste porque achava que o neném ia ficar triste também por não ser amamentado. Mas percebi que podia dedicar todo o amor e carinho ao bebê, que ele era muito amado por mim, pelos meus irmãos e pela minha mãe, que me acompanha em tudo. Hoje, meu filho já tem três anos, está lindo, saudável e muito amado, graças a Deus”, relata.
Gestação segura
A infectologista pediatra, Gláucia Ferreira, ressalta os cuidados para gestantes que vivem com HIV
A médica infectologista pediatra do HSJ, Gláucia Ferreira, explica que é perfeitamente possível que bebês de mães com HIV nasçam sem o vírus, principalmente se a infecção for descoberta antes da gravidez ou ainda no pré-natal. “Quando a mãe inicia o tratamento na primeira metade da gestação, mantém uma boa adesão ao tratamento antirretroviral e tem carga viral não detectável com 28 semanas, o risco de transmissão para a criança é considerado muito baixo”, afirma. O momento da gestação onde há mais incidência da transmissão vertical é durante o parto. “Aproximadamente 65% dos casos, ou seja, dois terços, da transmissão do HIV da mãe para o filho acontece no momento do parto”. Porém, com os cuidados indicados, esse índice fica quase nulo.
De acordo com a médica, após o parto, a criança deve iniciar medicamentos antirretrovirais, de preferência em até 4 horas de vida, e fazer exames para detectar o vírus. Ela precisa tomar uma ou três medicações por 28 dias, dependendo do risco de transmissão intrauterina. “Os exames seguem o protocolo: carga viral ao nascimento, com 2 semanas de vida, e com 2 e 8 semanas após a suspensão da profilaxia. Se os exames após a suspensão forem não detectados, a criança segue em acompanhamento até o teste anti-HIV, com 1 ano. Se o anti-HIV for não reagente, descarta-se a infecção”, destaca.
Gláucia finaliza ainda com um alerta para pessoas que não tiveram contato com o HIV antes da gestação e estão amamentando, já que é possível se infectar por meio de relações sexuais não protegidas. “Essas mães precisam usar preservativos durantes as relações sexuais após o parto para não correrem o risco de se infectar com o HIV durante a amamentação e passar o vírus para o filho”, recomenda.