Virando o Jogo: com o apoio do Governo do Ceará, jovens enxergam novas possibilidades de futuro

17 de setembro de 2025 - 09:19 # # # #

Eliezio Jeffry - Ascom Casa Civil - texto
Estácio Jr., Hiane Braun e Tiago Stille - Casa Civil - fotos Yuri Leonardo - Casa Civil - infográfico

Programa desenvolve competências socioemocionais que resgatam valores, sonhos e projetos de vida

Mudar de direção é, muitas vezes, a chance de reescrever a própria história. É quando a vida abre oportunidades para quem deseja seguir por caminhos mais seguros, deixando para trás ciclos de vulnerabilidade e descobrindo novas possibilidades de futuro. É nesse horizonte que nasce o Virando o Jogo, uma iniciativa do Governo do Ceará, por meio do Programa Integrado de Prevenção e Redução da Violência (PreVio), voltada para oferecer suporte e criar condições para que essa mudança se torne real.

Em todo o Ceará, dez municípios são atendidos. Essa ampliação foi possível com a inclusão da iniciativa no PreVio, em 2023, e o aporte de novos investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), previstos em contratos firmados com contrapartidas do Governo do Ceará. Assim, o programa vem atendendo públicos mais vulneráveis, como mulheres, pessoas negras e a comunidade LGBTQIA+, que, por questões sociais, são mais afetados financeiramente e pela violência urbana.

De acordo com Ravena Simões, gerente do Virando o Jogo, esse público é formado por jovens de 15 a 22 anos que não estão presentes nem na escola nem no mercado de trabalho e residem em bairros com índices de violência e vulnerabilidade elevados. A seleção é feita com base em estudos de monitoramento, garantindo que a estratégia seja assertiva e que o Governo do Estado contribua para transformar a realidade desse público-alvo. “A gente está atendendo jovens que, para além de estarem fora da escola e fora do mercado de trabalho, vivem situações de grande vulnerabilidade, inclusive financeira. Jovens que às vezes entregam água, que não vão para a escola porque têm que ajudar na renda da família”, descreve a coordenadora.

O número de atendidos pelo programa, iniciado em 2019, já soma 6 mil em todo o Ceará. A expectativa é de que, até o fim de 2026, o resultado seja mais de 10 mil formandos. Em Fortaleza, a reportagem visitou a Vila Social do Canindezinho. No local, são oferecidas turmas de diversos cursos, atendendo a área 5 do programa, que compreende os bairros Bom Jardim, Vila Manoel Sátiro e Granja Lisboa. O Grande Siqueira, com seus bairros adjacentes, incluindo o Canindezinho, também é contemplado.

É justamente no Canindezinho que vivem as primas Franciscas Gabrielly e Carolyne, que estão se profissionalizando no ramo da beleza. Morando a poucos metros dali, há um consenso entre elas sobre o tempo de deslocamento: “são 10 minutos”, respondem quase ao mesmo tempo. Os poucos passos que dão até a Vila Social representam a distância entre o presente e o futuro das duas, que pretendem começar os atendimentos, após a conclusão do curso, em suas próprias residências.

No ano passado, ao concluírem o Ensino Médio, elas se viram sem perspectivas profissionais. Gabrielly soube do Virando o Jogo por meio de uma amiga de sua mãe e contou para a prima. “Esse curso vai me ajudar bastante em várias coisas na minha vida”, conta ela. “Principalmente em ajudar minha mãe dentro de casa. Pois, embora ela diga que não precisa, ela precisa”, afirma, acrescentando que é filha única. Antes de iniciar a capacitação, sua rotina era apenas “ficar em casa, sem trabalhar e sem estudar”. Com o Virando o Jogo, ela vê essa realidade ficando para trás.

“Eu pensava que não ia pra frente, mas eu acho que vai dar certo”, diz, confiante. “Já tem várias pessoas para serem atendidas e esse kit que a gente vai receber [ao final do curso] vai me ajudar bastante”, complementa Gabrielly.

Sua prima, Carolyne, também vislumbra um futuro como manicure. “Eu pretendo começar a atender na minha casa. Também a domicílio, que é um pouquinho mais difícil, mas também é bom. Querendo ou não, às vezes uma mãe não consegue fazer a unha porque tem uma criança pequena em casa, ou não consegue sair por algum motivo, então a gente se desloca até lá para atender ela numa boa”, planeja.

Busca ativa intersetorial

O programa Virando o Jogo foi criado com uma aposta: desenvolver competências socioemocionais – e não apenas técnicas – capazes de reacender valores, reavivar sonhos, reformular ideias e recompor projetos de vida individuais e coletivos. A busca pelos jovens é feita de forma ativa, embora também seja possível realizar inscrições espontâneas, de forma virtual.

Articuladores trabalham em parceria com lideranças e associações comunitárias, referências de base e de território. Outro ponto importante, de acordo com Larissa Carmerino, gerente da área 5 do projeto, é o trabalho desenvolvido em parceria com a Educação, visitando escolas e atendendo jovens que abandonaram as salas de aula. Ela acrescenta que adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, acompanhados pela política de assistência social, também fazem parte do público prioritário. “Esse é um processo muito de dependência, que necessita de uma articulação intersetorial. Porque a gente entende que são vários segmentos necessários para que esse jovem de fato tenha essa virada de chave”, considera.

Quem está em campo com essa missão há cerca de seis anos é David Guerreiro. Morador do Planalto Ayrton Senna, ele narra um pouco de sua atuação. “A gente inicia de uma forma bem estratégica um mapeamento. Buscando onde está esse jovem, onde a gente pode encontrá-los e entender como eles se relacionam na sociedade em que vivem. Também fazemos visitas à comunidade, no sentido de fazer aquele porta a porta mesmo, e tem sido o que a gente tem de mais eficiente, porque eu acho que nada como entrar na comunidade, entender as pessoas, entender como elas se organizam dentro do próprio ambiente em que elas vivem”.

A partir disso, o articulador acredita que é criado um vínculo com os jovens e, uma vez estabelecido, acontece o contato deles com o programa. Na avaliação de David, não existe uma iniciativa tão completa quanto o Virando o Jogo. “É um projeto que, além de trabalhar a questão da empregabilidade, também trabalha essa questão de se entender enquanto jovem, entender como é a sociedade. A gente tenta não moldar apenas um profissional, mas moldar um jovem mais consciente de si mesmo, de onde vive”.

Esse ponto de vista também é destacado pela coordenadora de área Larissa Carmerino. Na avaliação dela, a primeira etapa que os jovens cursam – a Formação Cidadã – é a mais importante. “É a fase inicial do Virando o Jogo, onde, durante o processo, uma das coisas que é mais reforçada com os meninos são os próprios projetos de vida. É justamente você despertar aquela oportunidade que o jovem sequer pensava que poderia ter acesso”. A culminância, continua a coordenadora, é a Ação Comunitária, “em que os jovens têm a oportunidade de olhar para os seus territórios, identificar questões que eles compreendam como mais sensíveis e que demandem uma intervenção. É um processo importante, que dá a eles o protagonismo de agir dentro da sua comunidade”, conta.

Fases de intervenção com os jovens

O cronograma do Virando o Jogo tem duração de cinco meses, período em que os participantes recebem um auxílio financeiro – pago durante todo o programa e condicionado à participação nas atividades. Eles também recebem suporte, fardamento, lanche e material didático.

Além da etapa inicial, com a Formação Cidadã e a Ação Comunitária, os jovens cursam o módulo de Qualificação Profissional, que compõe a segunda fase. Os cursos ofertados pelo projeto do Governo do Estado são definidos a partir das demandas do mercado, para que os jovens possam, de fato, acessar o mundo do trabalho, explica Carmerino. “A qualificação surge como estratégia do jovem para criar oportunidades para si mesmo”, frisa a coordenadora da área visitada pela reportagem.

Além do mercado de trabalho tradicional, os participantes também podem seguir carreira por meio do empreendedorismo. Esta é a terceira fase do Virando o Jogo, na qual os jovens cursam um módulo que inclui, ainda, gestão financeira. “Eles têm toda uma parte relacionada exclusivamente a como entrar nesse mundo do trabalho, a como cobrar pelo seu trabalho, a como fazer um plano de marketing para o seu trabalho. Então, de fato, há como literalmente vender aquilo que eles aprenderam aqui”.

Ao final do processo é preciso que o jovem tenha, no mínimo, 75% de frequência para ser certificado e receber o kit de incentivo ao empreendedorismo. Na primeira fase do programa, como parte do PreVio, 1.657 jovens foram atendidos. Desse total, 764 já foram aprovados e certificados em cerimônia realizada no Palácio da Abolição, em Fortaleza.

Na ocasião, estava presente Chagas Vieira, chefe da Casa Civil do Governo do Ceará – pasta à qual o PreVio é vinculado. Em sua fala, o secretário incentivou os jovens a acreditarem em seus sonhos. “Vocês deram o primeiro passo, que foi a qualificação. E o Estado vai buscar estar sempre presente na vida de vocês. Nós vamos estar juntos para que mais jovens consigam o seu primeiro emprego e avancem na vida cada vez mais. Contem com o Governo do Estado na busca da realização dos seus sonhos”.

Próximas etapas do Virando o Jogo

Momento da formatura

A formatura é, sem dúvidas, um momento emocionante para todos, pois, a partir dali, os jovens poderão colocar em prática o que aprenderam, reescrevendo a história para suas vidas. A coordenadora de área Larissa Carmerino e o articulador David Guerreiro certificaram, no Canindezinho, em setembro, 19 jovens da primeira turma do Virando o Jogo no bairro. O curso foi de Auxiliar Administrativo.

Mariana Queiroz, de 20 anos, foi uma das concludentes. No mesmo bairro onde mora, ela conta – orgulhosa – que abrirá um estúdio para atuar como trancista. O conhecimento adquirido, afirma, vai ajudá-la bastante na gestão do negócio, principalmente na organização financeira. “Aprendi a organizar melhor a minha semana, a conciliar o meu tempo, a cuidar da administração do meu próprio dinheiro. Eu não tinha muito conhecimento sobre isso, então eu aprendi muito”.

Os sonhos e objetivos são muitos, assim como as realidades de cada um. Seja empreendendo ou contratado no mercado de trabalho, o sentimento entre os jovens é de realização. Como no caso de Enos Miguel, que iniciou desempregado e viu no Virando o Jogo uma oportunidade para futuros projetos.

“A gente vem com uma perspectiva totalmente diferente ou até mesmo sem perspectiva. No momento eu estava até desempregado. Quando eu vi esse curso, eu vi que era uma oportunidade de fazer algo novo e me preparar para futuros projetos que fossem maiores para a minha vida. E o curso do Virando o Jogo foi esse estalo, foi esse início que mudou minha vida”.

Enos conta que hoje se considera totalmente diferente do que era há cinco meses. O Virando o Jogo transformou sua vida “de uma forma muito positiva”, frisa. Com 18 anos, ao concluir os estudos, ele não conseguiu se firmar em nenhum emprego. “Quando eu fui demitido do meu último emprego, eu vi essa possibilidade de aprender algo para que eu pudesse me acostumar com o mercado de trabalho, e foi exatamente o que aconteceu quando eu me encontrei aqui”.

Ele finaliza, emocionado, destacando que a juventude precisa de oportunidades como essa. “É um projeto muito grande, que trabalha com a nossa juventude. Acredito que a nossa juventude precisa realmente dessa oportunidade, pois temos muitos talentos. Só que às vezes esses talentos não são bem aproveitados, e o projeto Virando o Jogo dá a eles, nós dá, essa possibilidade de mudar, de fazer diferente e de fazer o que é certo”.

O céu é o limite

“A gente quer dar aos jovens a possibilidade de sonhar”. A afirmação é da gerente Ravena Simões, quando perguntada sobre o legado que o Virando o Jogo quer construir na sociedade cearense. “Que eles possam se qualificar, que eles possam acessar o mercado de trabalho, que eles possam entender que podem, sim, mudar a vida deles e de suas famílias”.

Com a oportunidade que o programa proporciona, ela acrescenta, é possível alcançar os sonhos almejados. “Queremos construir jovens mais seguros, que possam ter a sua autoestima elevada, que possam se sentir pertencentes àqueles territórios, à cidade, e construir um futuro melhor. E, para isso, eles contam com o apoio do Governo do Estado, que está aqui acolhendo essa juventude e suas famílias, trazendo oportunidade e fazendo com que eles virem o jogo”.