Longa “A rebelião dos jangadeiros” revive momento de luta pela paralisação do tráfico de pessoas negras no Ceará
2 de outubro de 2025 - 14:43 #cultura #Secult
Ascom Secult - Texto e Foto
Ceará, Terra da Luz. O estado ficou conhecido dessa forma por ter abolido a escravidão quatro anos antes da Lei Áurea, em 1884. Apesar desse ato de “luz” que trouxe liberdade a milhares de pessoas, houve uma marcante luta anterior. Um importante capítulo dessa história é contado no longa-metragem “A rebelião dos jangadeiros” (2025 | Brasil | 90 min), dos diretores Cinthia Medeiros e Demitri Túlio e produção executiva de Íris Sodre (Gavulino Filmes). A estreia será no dia 15 de outubro, às 18h, no Cinema do Dragão, abrindo a Mostra Ceará Cinema, da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult). O filme foi contemplado no XIV Edital Ceará de Cinema e Vídeo, Secult.
O longa documental resgata a Greve dos Jangadeiros, episódio que fortaleceu a abolição da escravatura no Ceará. Este filme de impacto revive o ano de 1881, quando jangadeiros cearenses se rebelaram recusando-se a transportar povos escravizados para os navios que os levariam para os seus novos “patrões” no sul e sudeste da então colônia Brasil. O episódio ocorreu nos dias 27, 29 e 30 de janeiro daquele ano na Praia do Peixe, atual Praia de Iracema.
O filme se aprofunda em um olhar mais histórico, social e contextual da narrativa por meio de depoimentos do historiador Jones Manoel e Arilson Gomes, as antropólogas Antônia de Araújo e Vera Rodrigues, a cantora, compositora e ativista do Movimento Negro, Mallu Viturino, o museólogo Saulo Moreno, o cientista social Hilário Ferreira, o desembargador André Costa e a fundadora do Grupo de Consciência Negra do Ceará (Grucon), Lúcia Simão.
Em agosto deste ano, Lúcia faleceu, e o movimento negro perdeu uma de suas maiores e precursoras vozes. Além de seu depoimento no longa, Simão entoa a “loa”, canto que celebra aspectos da tradição, da cultura afro-brasileira e dos orixás.
A teóloga e filósofa será homenageada na abertura da Mostra Ceará Cinema, representada por sua irmã, Maria Cleide, e seu marido, William Augusto Pereira. Também receberá homenagem na ocasião o cientista social Hilário Ferreira, autor da pesquisa que gerou a primeira matéria sobre o tema e inspirou a produção deste filme.
Cada um dos entrevistados retrata, à sua maneira, como essa rebelião se decorreu e quais são as influências desse movimento até os dias atuais. “Quem não sabe de onde veio, não sabe pra onde vai”, reflete a antropóloga Vera Rodrigues ao discorrer sobre a importância de se ter conhecimento das ações de seus antepassados para a construção de sua identidade.
A ficção se intercala aos depoimentos com um diálogo entre a jovem Nina (Sâmylla Costa) e sua avó (Adna Oliveira) e suas reflexões à beira-mar sobre o movimento abolicionista e o tráfico de pessoas escravizadas. No decorrer da conversa entre as duas, Nina questiona se elas teriam participado da rebelião juntamente com o pescador José Napoleão e sua esposa, Preta Simoa, lideranças negras que estiveram à frente do movimento, que ganhou repercussão nacional por seu “porta-voz” abolicionista Chico da Matilde, o Dragão do Mar. A atriz Marta Aurélia traz à cena uma representação imaginária de Preta Simoa, como uma espécie de guardiã dessa história, conduzindo os devaneios e questionamentos de Nina sobre o passado do seu povo e suas lutas.
O filme atualiza as discussões sobre a abolição no Brasil e sobre como a escravização do povo negro se perpetua em novos formatos, por meio do racismo estrutural. Parte de um fato histórico, que foi um marco para essa narrativa da Abolição, para provocar reflexões sobre o que de fato, ao longo de mais de um século, mudou em relação a essa população.
Mais do que traçar um resumo em diversas facetas, seja histórica, social, filosófica ou antropológica da greve que culminou na abolição da escravatura, “A rebelião dos jangadeiros” traz um olhar sensível sobre o orgulho e a identidade da pessoa negra na “Terra da Luz”.
Ficha Técnica
A rebelião dos jangadeiros
2025 | Brasil | 90 min.
Direção: Cinthia Medeiros e Demitri Túlio
Roteiro: Cinthia Medeiros e Demitri Túlio
Produção Executiva: Íris Sodré | Gavulino Filmes
Elenco: Adna Oliveira, Marta Aurélia e Sâmylla Costa
Sinopse
Longa documental que revive o ano de 1881 quando jangadeiros cearenses se rebelam recusando-se a transportar povos escravizados para os navios que os levariam para os seus novos “patrões” no sul e sudeste da então colônia Brasil.
Serviço
A rebelião dos jangadeiros – Estreia em Fortaleza, dia 15 de outubro (quarta-feira), às 18h, na Mostra de Cinema da Secult no Cinema do Dragão (Rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema).
Acessos ao Cinema do Dragão:
Rua José Avelino – atravessar a praça pelo Palco Rogaciano Leite Filho;
Rua Boris – em frente ao Hub Cultural Porto Dragão;
Av. Pessoa Anta – ao lado da Caixa Cultural.