Semana da criança: especialistas do HSM explicam sobre a importância de cuidar da saúde mental na infância
10 de outubro de 2025 - 15:26 #HSM #infância #saúde mental #semana da criança
Milena Fernandes - Ascom HSM - Texto
Brauliana Barbosa - Foto
HSM tem ambulatório específico para lidar com crianças e adolescentes
A saúde mental na infância é um tema que merece cada vez mais atenção, já que o bem-estar emocional das crianças influencia diretamente no desenvolvimento, nas relações sociais e na capacidade de enfrentar desafios ao longo da vida.
No Núcleo de Atenção a Infância e Adolescência (Naia), no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), são atendidas crianças e adolescentes com diversos tipos de transtornos psiquiátricos. De janeiro a setembro deste ano foram realizados 2.967 atendimentos psiquiátricos, o que reforça a importância de ações preventivas e de acompanhamento especializado. O acesso é realizado pela Central de Regulação do Estado.
Ambulatório do HSM
Durante este mês, quando é celebrado o Dia das Crianças, diversas ações estão sendo intensificadas no ambulatório do HSM para reforçar a importância das brincadeiras em grupo, leituras, jogos de tabuleiro, entre outras atividades lúdicas. Tudo organizado cuidadosamente pela equipe multidisciplinar do hospital.
Sara Barbosa, de 28 anos, trabalha como dona de casa e também em um restaurante. Apesar do tempo corrido, ela sempre acompanha a filha de nove anos nas consultas com os profissionais do Naia. Esta semana, após a consulta, a filha dela participou de atividades recreativas.
“Ver minha filha interagindo com outras crianças é muito gratificante. Esse acompanhamento tem sido uma reviravolta na nossa vida, pois ela vivia agitada, brigando com a irmã mais velha, irritada, com dificuldade de concentração e baixo rendimento escolar. Agora, já posso afirmar que os relacionamentos e as atitudes dela estão melhorando a cada dia, pois a psicóloga indicou algumas mudanças na rotina que vêm ajudando, como passar menos tempo em celular, praticar atividade física regularmente e estimular brincadeiras com jogos de tabuleiro”, declara.
Sara buscou acompanhamento psicológico no HSM para a filha ao observar alguns sinais de sofrimento emocional
Para o psicólogo Wesley Ramos, coordenador do Naia, a atenção precoce pode transformar o futuro de uma criança. “É na infância que o cérebro passa por intensas transformações, criando as bases emocionais e cognitivas. Se cuidamos da saúde mental nessa fase, estamos oferecendo ferramentas para que a criança cresça mais confiante e preparada para lidar com frustrações”, explica.
Riscos e causas
Experiências traumáticas, ambientes familiares instáveis, negligência, bullying e até ouso excessivo de telas estão entre os fatores que podem prejudicar a saúde emocional dos pequenos. A predisposição genética também pode influenciar. Nesse sentido, a rotina familiar tem papel fundamental.
“Um lar estável, afetuoso e estruturado é um dos principaisprotetores da saúde mental infantil. A criança precisa se sentir segura para expressar emoções e desenvolver autonomia de acordo com sua idade. Quando uma criança recebe apoio emocional adequado, ela cresce com mais autoestima e confiança. Isso é tão essencial quanto cuidar da alimentação ou da saúde física”, orienta Wesley.
Sinais de alerta
“Intervenções precoces são uma das estratégias mais eficazes para promover saúde mental ao longo da vida”, explica o psiquiatra da Infância e Adolescência, Diego Mendonça
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mudanças bruscas de comportamento, irritabilidade frequente, episódios de auto e heteroagressividade (comportamentos violentos ou agressivos direcionados a outros indivíduos), isolamento, dificuldades de aprendizagem, queixas de inquietação, alterações no sono e no apetite são indícios que merecem atenção. Esses sinais, quando persistem, mostram que algo não vai bem emocionalmente e devem ser observados com cuidado pelos pais, cuidadores e professores. O mais importante é não ignorar, quanto mais cedo houver escuta e acolhimento, melhor.
Segundo o psiquiatra e coordenador da Residência de Psiquiatria da Infância e Adolescência do HSM, Diego Mendonça, a identificação dos sinais na infância faz diferença para a vida inteira. “Quando esses sinais são identificados e acompanhados por profissionais qualificados; psicólogos, psiquiatras infantis, pedagogos, dentre outros profissionais, é possível reduzir significativamente os impactos no desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança. Intervenções precoces são uma das estratégias mais eficazes para promover saúde mental ao longo da vida. Elas ajudam a prevenir o agravamento dos sintomas e favorecem um crescimento mais equilibrado. Evitando agravamento de sintomas na vida adulta”, frisa o especialista.
Transtornos como ansiedade, depressão, déficit de atenção e hiperatividade ou mesmo dificuldades de comportamento podem surgir já nos primeiros anos escolares. Quando esses sinais são observados cedo e acompanhados por profissionais, é possível reduzir impactos negativos no desenvolvimento da criança. “Metade dos transtornos mentais têm início antes dos 14 anos de idade. A escola é um espaço privilegiado para perceber essas mudanças, porque é onde a criança convive, aprende e expressa emoções. Por isso, professores e educadores também têm um papel fundamental na identificação precoce”, ressalta.
Para o psiquiatra, crianças que aprendem a lidar com suas emoções desenvolvem maior capacidade de enfrentar situações estressantes. “A promoção do bem-estar emocional é um trabalho conjunto entre família, escola e sociedade. É essencial oferecer um ambiente seguro, estável e afetuoso, com rotinas claras e presença emocional dos cuidadores. Também é importante estimular o diálogo, ensinar as crianças a reconhecer e expressar suas emoções, valorizar o brincar, garantir tempo longe das telas e incentivar a convivência social. A OMS recomenda que as escolas trabalhem o desenvolvimento socioemocional desde cedo, porque essas habilidades ajudam a criança a lidar com desafios, a se relacionar melhor e a se sentir mais confiante”, alerta Mendonça.
O psiquiatra do HSM recomenda aos pais e familiares alguns cuidados fundamentais para fortalecer a saúde mental na infância. “A criança deve estar inserida em um ambiente acolhedor, seguro, onde haja estímulo à atividade física, alimentação balanceada, sono regular, com redução do tempo de tela, com estímulo às brincadeiras ao ar livre e em grupo. Que nesse ambiente acolhedor, a voz da criança seja ouvida e as mudanças comportamentais sejam levadas em consideração para o risco de algum sofrimento mental. Se houver suspeita de sofrimento emocional, que a família busque uma avaliação precoce, pois o diagnóstico e a intervenção rápida trazem melhores resultados. Outro ponto importante é o cuidado com os próprios cuidadores, o bem-estar emocional da criança depende, em grande parte, da saúde mental de quem cuida dela”, conclui.
Serviço
Núcleo de Atenção a Infância e Adolescência (Naia)
Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM) – Rua Vicente Nobre de Macedo, s/n – Messejana – Fortaleza – CE
O atendimento é realizado por encaminhamento via Central de Regulação da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa)