Ciopaer: três décadas de dedicação, coragem e amor pela vida
11 de outubro de 2025 - 05:23 #30 anos Ciopaer #Ciopaer #Ciopaer 30 anos
Texto e fotos: Ascom SSPDS
A programação de Suellen Vieira para o ensolarado 3 de setembro de 2025 era realizar um sobrevoo de parapente pelos monólitos de Quixadá. Nada incomum para uma parapentista cross country com seis anos na bagagem. Ela deslizaria pelas correntes de ar acompanhada do marido e três amigos e percorreria um mísero quilômetro, caminho abaixo até um campo de futebol. A decolagem foi do cume de um monólito. Quiseram os ventos áridos que ela não pousasse ali – e insistiram que somente ela tivesse que voar por quase três horas ininterruptas e pousasse sozinha, completamente perdida, há mais de 200 km dali.
A parapentista, de 25 anos, é apenas uma das várias vítimas resgatadas pela Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) neste ano. O balanço da coordenadoria da SSPDS, que comemora 30 anos nesta sexta-feira (10), aponta que os helicópteros resgataram diversas vítimas em situações muito parecidas com as de Suelen. São pessoas desnorteadas na complexa mata do sertão cearense, ou mesmo à deriva em alto-mar, com comunicação extremamente limitada para informar aos entes queridos onde estão e até mesmo sem noção de saber para onde devem caminhar.
Nem mesmo o pouso foi tranquilo. O parapente ficou preso a uma árvore de “uns dez metros de altura”, relata. Ela se livrou do equipamento e despencou de ponta cabeça em direção ao chão. “Por sorte”, diz a parapentista, o pé se prendeu a um galho e amorteceu o tombo, quando ela caiu com o peito direto no chão. A primeira sensação da sobrevivente foi a falta de ar, logo depois veio o ardor do esgarçamento da pele. Já havia passado a primeira hora da tarde, a garrafa com um litro d´água não duraria muito e a fome seria a próxima companheira. Não bastasse o sofrimento, o primeiro contato por rádio com o marido só viria daqui a duas horas.
A informação não era muita e, mesmo assim, foi o suficiente para que as aeronaves de asas rotativas da Ciopaer localizassem Suellen. A primeira pista foi o tecido do parapente preso no topo da árvore. Daí, mais de 100 cidadãos da pacata Morrinhos se voluntariaram em motocicletas para localizar a parapentista perdida em um complexo final de tarde. As primeiras imagens do resgate foram feitas pela tripulação do helicóptero e percorreram os telejornais do estado no dia seguinte. Abatida, com sede, fome e aos prantos, ela foi acolhida a bordo da aeronave, submetida a exames médicos e pode finalmente retornar ao seio familiar.
Servir e proteger
Casos como esse, tornam a existência da Ciopaer essencial para servir e proteger a população cearense. Além dos resgates, a Coordenadoria aponta que as mais de 1.358 horas de vôo e as 1.098 missões realizadas entre 1º de janeiro a 20 de setembro de 2025 foram responsáveis por 156 transportes aeromédicos, 202 operações policiais e 319 ocorrências de patrulhamento. Sem essas aeronaves, situações de alta complexidade se tornariam ainda mais desafiadoras.
Notícias recentes divulgadas pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) demonstram o quanto a distribuição em cinco bases instaladas em Fortaleza, Sobral, Juazeiro do Norte, Quixadá e Crateús, é outro ponto forte do efetivo formado por 246 mulheres e homens responsáveis pela frota de nove helicópteros e um avião. Com essa distribuição, são cerca de 30 minutos entre o acionamento e o atendimento da vítima. Há apenas quatro dias, uma vítima de acidente de motocicleta com um traumatismo crânioencefálico (TCE) foi socorrida em Guaraciaba do Norte, na região da Ibiapaba, e encaminhada estabilizada a uma emergência situada em Sobral.
Uma outra ocorrência de acidente de trânsito, no dia 25 de setembro de 2025, ocorreu em Piquet Carneiro, no Sertão Central cearense. A vítima atendida pelo transporte aeromédico da Ciopaer, também com o apoio do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu Ceará), possuía um quadro de traumatismo crânioencefálico e politraumatismo. Como o tempo de deslocamento entre o local do acidente e a unidade hospitalar de referência poderia levar três horas, o modal aéreo foi adotado, sendo necessários apenas 40 minutos para que a vítima fosse colocada em uma mesa de cirurgia no Hospital Regional de Juazeiro do Norte.
Em 27 de agosto deste ano, a vítima de um acidente de trânsito em Limoeiro do Norte, no Vale do Jaguaribe, era uma criança de apenas seis anos de idade. Enquanto a mãe e a irmã, de quatro anos de idade, foram socorridas por ambulâncias para o Hospital Regional de Limoeiro do Norte, a vítima mais grave foi encaminhada de helicóptero para o Instituto José Frota (IJF), em Fortaleza. Atualmente, cinco helicópteros da Ciopaer podem ser equipados para carregar uma das UTIs móveis disponíveis à população cearense. Todo o processo de embarcar os equipamentos de última geração não leva poucos minutos.
Transporte de órgãos
Apenas um pouco antes dos resgates aeromédicos citados nesta matéria, a SSPDS também noticiou um atendimento de transporte de órgãos da Ciopaer. Em 31 de julho deste ano, duas aeronaves transportavam um coração, um fígado e dois rins do Hospital Regional do Vale do Jaguaribe, em Limoeiro do Norte, até hospitais localizados em Fortaleza. A missão contou com o apoio da equipe da Central de Transplantes da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) e salvou simultaneamente quatro vidas em uma única manhã ensolarada de céu limpo e azulado.
As aeronaves saíram da sede da Ciopaer em Fortaleza às 05h15 e chegaram em Limoeiro do Norte às 6h. A aeronave Fênix 08 foi responsável por transportar o coração, que exige mais urgência, em razão do menor tempo de conservação do órgão. Ela decolou de Limoeiro do Norte às 9h10 e chegou ao destino final em Fortaleza às 9h55. Já a aeronave Fênix 04, com os demais órgãos, decolou às 10h e pousou às 10h45. Vista pelo ângulo da eficiência e da prontidão, as equipes levaram menos de uma hora para riscar o céu de uma ponta a outra e transportar os órgãos para quem precisa.
“A Ciopaer realiza diversas missões essenciais, mas o transporte de órgãos e tecidos humanos para transplante é, sem dúvida, uma das mais impactantes. Uma única missão pode transformar várias vidas. Hoje, por exemplo, utilizamos duas aeronaves para transportar um coração, dois rins e um fígado. São quatro vidas beneficiadas diretamente. Sabemos que a atuação da Ciopaer é fundamental para garantir que esses órgãos cheguem com rapidez ao destino, possibilitando a realização do transplante. Isso nos traz grande satisfação”, comenta sobre o atendimento essencial, o coordenador da Ciopaer, o coronel Marcus Costa.
O serviço não foi interrompido mesmo durante o período da pandemia do Covid-19. Em 17 de agosto de 2020, uma equipe de médicos e enfermeiros realizou a captação de um fígado no Hospital Regional do Sertão Central. A doação foi autorizada pela família de um homem de 38 anos, que faleceu após sofrer um acidente vascular cerebral hemorrágico. Ao chegar à capital cearense, o órgão foi levado pela equipe médica até o Hospital Geral de Fortaleza (HGF), no bairro Papicu, onde um paciente de 55 anos, com cirrose hepática, recebeu o fígado. Toda a missão levou apenas cinco horas para ser finalizada.
“O tempo entre a retirada do órgão e o implante no receptor é um importante fator para melhora dos resultados no transplante. Sabemos como essa doação é valiosa e necessária. Essa parceria com a Ciopaer torna viável a captação no interior do estado, trazendo agilidade no transporte dos órgãos e da equipe”, reconheceu o cirurgião da equipe de transplante hepático do Hospital Geral de Fortaleza, Dr. Cayo César de Góis. Também participaram da missão o cirurgião geral do HGF, Bráulio Filgueira; e os enfermeiros especialistas em transplantes, Patrícia Almeida e Tomaz Edison Henrique.
Apoio em operações policiais
Uma outra linha de trabalho realizada pela Ciopaer é o apoio a operações policiais. No dia 1º de outubro deste ano, um trio suspeito de posse ilegal de arma de fogo foi preso por composições da Polícia Militar do Ceará (PMCE) no bairro Dias Macêdo, em Fortaleza. Os homens estavam em fuga por um matagal, quando as asas rotativas da Coordenadoria localizaram com precisão os suspeitos, de 18, 19 e 21 anos, e apreenderam dois fuzis, quatro pistolas, 239 munições e 30 g de maconha. Eles foram imediatamente conduzidos até o 16º Distrito Policial (16º DP), unidade da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), e autuados por associação criminosa, posse irregular de arma de fogo e tráfico de drogas.
No último dia 24 de setembro, as asas rotativas da Ciopaer foram novamente solicitadas, desta vez para a realização de uma recaptura de um fugitivo do sistema prisional. O trabalho contou com a integração entre as forças da SSPDS e a da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), resultando na identificação e localização do alvo, de 27 anos, que ao perceber a aproximação de uma equipe do Comando Tático Motorizado (Cotam/PMCE), pulou a Ponte dos Ingleses e tentou fugir pelo mar. O apoio do helicóptero permitiu a localização do condenado, com uma passagem por porte irregular de arma de fogo e quatro por roubo, e uma equipe do Corpo de Bombeiros Militares do Estado do Ceará (CBMCE) o capturou na água.
Em 4 de setembro de 2025, um novo acionamento e ação conjunta da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer). Um homem, de 32 anos, realizou disparos de arma de fogo em uma via pública da cidade de Itapiúna. Com o apoio de uma aeronave da Ciopaer sobrevoando a área, foi possível identificar a posição do suspeito em fuga e prendê-lo. Ele estava em posse de um fuzil T4, uma espingarda .12, duas pistolas e 69 munições de diversos calibres e foi colocado à disposição da Justiça.
Um breve histórico
Tão presente na atualidade e, ainda assim, tão necessária no passado, a trajetória que possibilitou a existência da Ciopaer se confunde com a própria história do Ceará. O primeiro uso de um helicóptero em uma ocorrência da Segurança Pública ocorreu em 8 de junho de 1982, quando um Boeing 727-200 se chocou contra a Serra da Aratanha, em Pacatuba, durante a aproximação para pouso no Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza. Todos os 137 passageiros do voo VASP 168, incluindo o empresário Edson Queiroz, perderam a vida naquele que se tornou um dos mais graves acidentes da aviação comercial brasileira.
O resgate dos corpos, realizado em uma área tão remota que curiosos se arriscaram apoiando-se em pedras, foi possível graças a um helicóptero modelo Esquilo, gentilmente cedido pela então Companhia de Energia Elétrica do Ceará (Coelce). A complexa operação, protagonizada por policiais e bombeiros militares, começou por volta das 7h do dia seguinte e levou dois dias para ser concluída. Além das Forças de Segurança do Estado, a Força Aérea Brasileira também teve participação essencial, sobrevoando a área com mais quatro aeronaves.
O mesmo helicóptero, cedido e operado integralmente por funcionários da Coelce, participou de outras ocorrências marcantes no estado, como enchentes e desastres naturais registrados nos anos de 1985, 1987 e 1991. No entanto, foi o sequestro de dom Aloísio Lorscheider por detentos do extinto Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), em 1994, que marcou o ápice daquele período. A chamada “Operação Serra Azul” entrou para a história como uma das maiores ações de recaptura do Ceará: os 12 detentos foram detidos novamente e todos os reféns libertados com segurança.
A partir desse episódio, o Governo do Ceará iniciou os projetos de aquisição de aeronaves voltadas à Segurança Pública. O mesmo helicóptero que havia atendido à ocorrência de 1982, um HB 350 B Esquilo foi adquirido e transferido para a Polícia Militar do Ceará (PMCE). A aeronave recebeu o nome “Raio Uno” e foi incorporada ao recém-criado Grupamento de Policiamento Aéreo (GPAer/PMCE), oficializado em 10 de outubro de 1995. Essa data marca o início da trajetória da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer/SSPDS) no Ceará. Entre 1997 e 2007, as aeronaves da Ciopaer foram renomeadas como ´”Aguia”. Em 2007 veio a nomenclatura definitiva, as aeronaves da coordenadoria passaram a ser batizadas como Fênix, em referência ao pássaro mitológico que renasce das próprias cinzas, símbolo da capacidade da Ciopaer de se reinventar continuamente.
“A Ciopaer não é só minha casa, é também a minha segunda família”, descreve o Oficial Inspetor da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), João Vieira Paixão Filho, ao relembrar a própria trajetória na Ciopaer, que teve início em 2001. “Se pudesse voltar atrás, faria tudo igual. Tenho orgulho de servir o nosso estado e de ser respeitado pelas nossas Forças de Segurança”. Hoje, João Filho atua no serviço de manutenção aeronáutica, mas ainda lembra a época em que foi tripulante. “Não há preço que pague resgatar pessoas presas às ferragens, ou socorrer crianças em uma situação de emergência, é uma emoção indescritível”, arremata.
Frota
Atualmente a frota da Ciopaer é constituída por nove helicópteros, sendo duas aeronaves do modelo AS350 B2 Esquilo, um EC130 B4, um EC135 P2+, três EC 145 C2 e dois H135, além de um avião Cesnna C-210 M Centurion II. A coordenadoria conta com um quadro qualificado de pilotos, operadores aerotáticos, mecânicos de manutenção aeronáutica e profissionais de apoio solo, todos formados dentro dos mais elevados padrões técnicos e profissionais. Soma-se a esse grupo a equipe do Samu Ceará, composta por médicos(as) e enfermeiros(as) que atuam como operadores de suporte médico, desempenhando papel fundamental nas missões de atendimento aeromédico.
A Ciopaer dispõe ainda de uma ampla gama de equipamentos de última geração, utilizados nas mais diversas missões: câmeras de alta resolução com capacidade infravermelho, guinchos elétricos, ganchos de carga, cestos para combate a incêndios e resgate em altura ou em meio aquático, além de um vasto conjunto de ferramentas voltadas à manutenção das aeronaves e de seus sistemas.
Com atuação marcante não apenas no Ceará, mas também em operações conjuntas com outros estados, como Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Pará e Rio Grande do Sul, a Ciopaer Ceará consolida-se como uma referência nacional em aviação de segurança pública, motivo de orgulho para todo o povo cearense.