Liceu do Ceará celebra 180 anos formando gerações e renovando a própria história

3 de novembro de 2025 - 16:53 # # #

Bruno Mota - Ascom Seduc - Texto
Yuri Martins e Sadraque Santos - Foto

Ao longo de 180 anos de existência, a Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Liceu do Ceará tornou-se uma das instituições mais emblemáticas da educação cearense. Reconhecida como a primeira unidade de ensino pública do estado e a terceira mais antiga do país, o Liceu constitui um marco que atravessa gerações e guarda parte importante da memória da formação intelectual do Ceará.

Fundado em 19 de outubro de 1845, no coração do bairro Jacarecanga, em Fortaleza, o então Colégio Estadual Liceu do Ceará teve como primeiro diretor o educador e político Thomaz Pompeu de Sousa Brasil, o Senador Pompeu. Naquele início, o chamado “curso secundário” reuniu cerca de cem estudantes, inaugurando uma história que, ao longo do tempo, formaria nomes de destaque nas mais diversas áreas do conhecimento – das artes à política, da ciência à educação, consolidando-se como referência no ensino de cidadãos que contribuíram para o desenvolvimento regional e nacional.

 

Entre os liceístas ilustres estão Gustavo Barroso, arquiteto e ex-presidente da Academia Brasileira de Letras; Bezerra de Menezes, médico; Rodolfo Teófilo, escritor e farmacêutico; Raimundo Cela, pintor; Frei Tito de Alencar, religioso e preso político; Edson Queiroz, empresário; Belchior, cantor e compositor; Eleazar de Carvalho, maestro; Maria Luíza Fontenele, professora e primeira mulher prefeita de Fortaleza; Raimundo Fagner, cantor e compositor; e Fausto Nilo, arquiteto e poeta — entre muitos outros que deixaram marcas profundas na cultura e na história do Ceará.

Continuidade

Atualmente, o Liceu mantém viva a tradição de excelência. A escola atende 453 estudantes em tempo integral, das 7h às 17h, oferecendo, além da formação da base comum, 47 componentes curriculares eletivos que ampliam o repertório e fortalecem o protagonismo estudantil. O corpo docente é composto por 63 professores, e a equipe da unidade conta ainda com outros 20 profissionais. A instituição integra a Superintendência das Escolas Estaduais de Fortaleza (Sefor 2).

Para Elisa Martins, de 18 anos, estudante da 3ª série, o Liceu do Ceará representa mais do que um espaço de aprendizado — é um lugar de vivências, descobertas e vínculos que ficarão na memória.

“Minha lembrança mais feliz foi em 2023, durante o primeiro interclasses, quando vencemos. Nos unimos à 3ª série da época, e aquilo me marcou muito, porque antes quase não tínhamos contato com eles. A torcida deles era pequena, e comemoramos juntos. Foi a despedida deles e, ao mesmo tempo, a nossa chegada”, relembra.

Na visão da jovem, a escola sabe acolher todos que chegam. Agora, prestes a concluir a educação básica, Elisa revela o sentimento de nostalgia em deixar a atual rotina para trás.

“Algo que levarei para a vida é a evolução que tive aqui. Antes, quase toda semana eu estava na coordenação. Na 2ª série comecei a melhorar, e agora, na 3ª, estou ótima, graças aos professores, que sempre me ajudaram muito. Desenvolvi bastante a comunicação: eu era bem tímida — só não para a bagunça (risos) — mas tinha dificuldade em me expressar. Agora, quero ganhar o mundo. Tive a oportunidade de entrevistar pessoas que fizeram parte da história do Liceu, como ex-alunos que hoje são personalidades de Fortaleza, além de professores e colegas. Isso vai ser algo marcante para contar futuramente. Espero que esse nome siga sendo levado ainda mais longe, pelas pessoas incríveis que ainda vão passar por aqui. O Liceu abre a nossa mente para sonhar além do que imaginávamos”, ressalta.

Integração

Fiel à vocação histórica de inovar e inspirar, o Liceu alia o ensino aos projetos de vida dos estudantes, promovendo uma formação integral que conecta tradição e futuro: um legado de 180 anos que continua se renovando a cada geração.

Com três décadas dedicadas ao magistério no Liceu do Ceará, a professora de Redação Cléa Gadelha tem relação afetiva e familiar com a instituição. A história dela com o colégio começou bem antes de iniciar a carreira como docente.

“Minha história no Liceu vem antes de mim. Meu pai estudou aqui, em 1948, junto com Edson Queiroz, Paes de Andrade e outros liceístas famosos. Quando passei no concurso para professora e disse a ele que viria para cá, ele se emocionou. O que o Liceu tem de mais valioso não é o prédio, mas as pessoas: o legado construído por alunos, funcionários e professores ao longo de sua história. Adoro dar aula, adoro meus alunos. Já poderia ter me aposentado, mas continuo, porque sinto que ainda posso contribuir pela educação. Meu sonho é ver meus alunos na universidade, realizados, trabalhando com o que amam — e estamos caminhando para isso”, pontua a professora.

Confiança

Para Gabriel Rodrigues, de 18 anos, estudante da 3ª série, o Liceu do Ceará foi o ponto de virada em sua trajetória escolar e pessoal. “Quando entrei na escola, em 2023, tinha uma mente totalmente diferente da que tenho hoje. Era um dos piores alunos e, com o decorrer do tempo, acabei criando afeto pelos professores. A coordenadora Flávia, a quem chamo de mãe, foi quem mais acreditou em mim”, observa.

“Em 2024, mudei de turma e encontrei colegas com um nível mais elevado do que o meu. Foi difícil, mas isso me fez focar. Aos poucos fui aprendendo e, hoje, acredito que estou entre os melhores da escola. Atualmente, sou diretor de esportes do Grêmio Estudantil. Organizo interclasses e outras pautas. O sentimento que tenho pelo Liceu é de gratidão. Em nenhum momento desistiram de mim. Os professores são incríveis: conversam, orientam, incentivam, preparam, educam. Vários deles me marcaram. A professora Cléa me ensinou a escrever, a dialogar, a me comportar, a saber sobre meus deveres e direitos na escola e a respeitar a todos. O Liceu é uma escola extraordinária, ninguém é diferenciado, todos são igualmente respeitados e valorizados”, frisa.

Gabriela Dourado, de 18 anos, estudante da 3ª série e vice-presidente do Grêmio Estudantil, avalia que o Liceu propicia e incentiva a voz ativa dos alunos.

“O que mais gosto na escola é estar com os amigos. Também adoro ler e participar das atividades do Grêmio. Gosto muito do acolhimento que existe aqui, não só da gestão, mas também dos funcionários da limpeza, da cozinha e dos outros estudantes. É algo especial, como uma família. Como passamos o dia todo juntos, criamos esse afeto. A gente é muito militante, e a voz dos alunos é de protagonismo. Sou menina trans e, quando entrei como diretora da Diversidade de Gênero, na 1ª série, com 15 anos, fiz uma palestra para toda a escola — justamente no dia do meu aniversário. Foi muito especial, e muitas pessoas gostaram. Foi um dos maiores presentes que eu poderia ter. O Liceu continuará sendo uma marca do Ceará. Tenho muito orgulho de fazer parte dessa trajetória”, considera.

Compromisso

À frente da gestão do Liceu do Ceará desde 2018, Edson Braga fala com entusiasmo sobre o passado e o futuro da instituição, ressaltando o compromisso com a formação integral dos estudantes e com uma educação cada vez mais inclusiva e democrática.

“É preciso gostar da rotina e amar os alunos: eles são a essência do nosso trabalho. Minha maior alegria, e também o maior legado que podemos deixar para a sociedade, é preparar esses jovens para suas formações e para as caminhadas que farão ao longo da vida. O Liceu formou, ao longo da história, grandes homens e mulheres. Queremos que nossos atuais estudantes também se tornem pessoas influentes e contribuam de forma significativa para a sociedade. Já estamos construindo o futuro, buscando fazer uma gestão democrática e inclusiva, que acolhe os diferentes públicos. Nessa trajetória, aprendemos muito com o passado, realizamos um trabalho forte no presente e projetamos, para o futuro, uma escola cada vez mais justa”, enaltece.