Com representações de povos e comunidades tradicionais de terreiros, III Festival Afrocearensidades é aberto oficialmente
7 de novembro de 2025 - 21:43 #Festival Afrocearensidades
Eliezio Jeffry - Ascom Casa Civil - Texto
Hiane Braun - Casa Civil - Fotos
Yuri Leonardo - Casa Civil - Infografia
Evento também marcou a entrega do selo Município Sem Racismo, que consolida a política municipal de promoção da igualdade racial
O Festival Afrocearensidades, que faz pulsar os saberes e a resistência do povo negro, foi aberto oficialmente nesta sexta-feira (7), em cerimônia realizada com a presença do governador Elmano de Freitas, no Palácio da Abolição, em Fortaleza. Com o tema “Encruzilhada, Memórias e Bem-Viver”, o evento é promovido pelo Governo do Ceará, por meio das secretarias da Igualdade Racial (Seir) e da Cultura (Secult), e celebra o Dia Nacional de Zumbi dos Palmares e o Novembro da Consciência Negra.
As autoridades e o público presente foram recepcionados ao som dos atabaques do Grupo Cultural Toque de Senzala. Na ocasião, o governador Elmano de Freitas esteve acompanhado das titulares da Seir e da Secult, Zelma Madeira e Luísa Cela, respectivamente, além de outras autoridades e gestores municipais.
Ao discursar, o chefe do Executivo estadual falou do sentimento em participar da cerimônia e fez um balanço dos projetos voltados à promoção da igualdade racial no estado. “É uma grande alegria estar aqui neste evento, um momento muito importante de celebração dos projetos voltados à população negra, que vão desde escolas até feiras, exposições e manifestações do povo negro, além de eventos e expressões culturais que estamos viabilizando neste mês”, disse, reforçando as conquistas na área da educação – com a abertura de escolas quilombolas – e a aprovação de leis, como a que garante cotas em concursos públicos, que, segundo ele, contribuirá para que o serviço público reflita a diversidade do povo cearense, que representa mais de 70% da população.
A secretária titular da Seir, Zelma Madeira, enfatizou que a iniciativa é uma forma de valoração da história e da memória do povo negro. “As comemorações [do Afrocearensidades] demonstram o compromisso das instituições e da sociedade civil, que não se limita a apontar as vulnerabilidades, violências e desigualdades sociais e raciais. Mas, sobretudo, demonstrar que é preciso construir e propor caminhos concretos, entregas endereçadas ao reconhecimento étnico-racial, valorar a história e a memoria do povo negro”, disse.
Essa é a terceira edição do festival, que percorre os quatro cantos do Ceará unindo expressões culturais, territórios e tradições afrocearenses em um grande encontro de arte, identidade e reexistência. A iniciativa conta, ainda, com parceria do Instituto Mirante de Cultura e Arte e Instituto Dragão do Mar (IDM).
Tiago Santana da Conceição, secretário de Políticas de Ações Afirmativas, Combate e Superação do Racismo, representou o Ministério da Igualdade Racial (MIR) no evento. Ele parabenizou o trabalho do Ceará na promoção da igualdade racial ao longo de todo o ano. “O mês de novembro é muito importante, mas costumamos dizer que não aceitamos mais ser reconhecidos apenas nesse período. Precisamos estar incluídos em uma agenda permanente de governo. E o Ceará é um dos estados que têm essa compreensão e assumiu para si essa responsabilidade”, destacou.
Mais de 150 atividades na programação
As atividades do Festival Afrocearensidades resultam do diálogo com os movimentos sociais e organizações representativas dos movimentos negro, quilombola e dos povos de terreiro. Envolve também a interlocução entre secretarias municipais e de Estado. Voltado ao bem viver dessas populações, o evento contempla pautas que intercalam a formação, a cidadania e a defesa de direitos. Serão mais de 150 atividades, movimentando diversos espaços, como universidades, organizações da sociedade civil, movimentos sociais.
Nos equipamentos da rede de cultura do Ceará, a curadoria da programação busca garantir o protagonismo da população negra, destaca a secretária da Cultura, Luísa Cela. “Esse é um momento de celebração do que temos feito ao longo de todo o ano. A Secult desenvolve uma ação cada vez mais forte, que busca promover, difundir e fortalecer a presença de artistas, produtores, técnicos, equipes e pessoas negras na nossa estrutura de equipamentos, reforçando as ações afirmativas. A curadoria tem o objetivo de garantir esse protagonismo e afirmar que, no Ceará, a política cultural é antirracista”, frisa.
Para conferir a programação completa, clique aqui.
Município Sem Racismo
A Secretaria da Igualdade Racial (Seir) atua na implementação de políticas voltadas ao combate ao racismo e à promoção da igualdade racial, sendo responsável pela concessão do selo “Município Sem Racismo”. A iniciativa, criada por meio da lei estadual nº 17.704/2021, reconhece e incentiva as prefeituras que desenvolvem ações de enfrentamento às desigualdades raciais e valorização da diversidade étnica. Na mesma cerimônia, foram entregues 18 certificados, sendo 12 inéditos.
Em Independência, o prêmio representa um compromisso com a sociedade no combate ao racismo. O prefeito do município, William Vieira, esteve presente à cerimônia para receber o certificado. “O nosso município é muito diversificado, com povos originários e povos ciganos, entre os quais sempre houve exclusão. Em nosso governo, temos trabalhado para unir e ampliar cada vez mais as políticas públicas voltadas à melhoria da qualidade de vida de todos esses povos”, destacou.
Desde abril deste ano, Tauá iniciou o processo de adesão ao selo Município Sem Racismo, conta o secretário de Direitos Humanos, Cidadania e Diversidade do município, Luiz Vicente de Oliveira. “Para nós, é muito importante. Primeiro, porque é um instrumento que vai fortalecer cada vez mais esse setor. Temos uma comunidade quilombola urbana e todo o trabalho desenvolvido tem contribuído para que esse selo não seja apenas um papel, mas que venha fortalecer, cada vez mais, a nossa luta.”
Juazeiro do Norte foi outro município reconhecido com o selo. Juliana Araújo Peixoto, do Núcleo de Educação para a Promoção da Igualdade Racial (Nepir) do município, fez parte da comitiva que veio à cerimônia. De acordo com ela, o selo aumenta a responsabilidade do município em expandir ações e intervenções voltadas a essas comunidades. “Junto com a Seir, Juazeiro do Norte vem desenvolvendo um trabalho intersetorial, envolvendo diversas secretarias, para pensar políticas que incluam essas comunidades em suas questões mais específicas.”
“Parabenizamos pelo trabalho que vêm realizando, com sanção de lei de cotas nos concursos públicos, reconhecimento dos povos e comunidades tradicionais dos seus municípios, o que deve ser motivo de orgulho”, frisou a secretária Zelma Madeira.
Proibição de práticas discriminatórias
Outra ação do evento foi o lançamento da placa voltada a órgãos públicos, que reforça a proibição de práticas de discriminação racial, por cor, etnia ou intolerância religiosa, conforme estabelece a Lei nº 19.494, aprovada pela Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) e sancionada pelo governador Elmano de Freitas em 20 de outubro. A nova legislação determina que bares, restaurantes e repartições públicas fixem cartazes em locais de fácil visualização, com mensagens de alerta e conscientização sobre o tema.










