Galeria da Liberdade abre exposição com obras que dialogam com o tema da Memória, Verdade e Justiça

14 de novembro de 2025 - 13:53 # # #

Ascom Galeria da Liberdade - texto e foto

“… e se não for agora, um dia será…” apresenta, a partir de 22 de novembro, 21 obras de 18 artistas ou coletivos de seis estados do Brasil e também da Argentina, países que viveram sob a ditadura em épocas semelhantes

Obra “Ausências” mostra a família do militante cearense Bergson Gurjão (1947-1972), assassinado na região do Araguaia (Gustavo Germano)

A Galeria da Liberdade inaugura a exposição “… e se não for agora, um dia será…” no dia 22 de novembro (sábado) , a partir das 16h. A cerimônia de abertura será na praça do Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS CE). A mostra é uma reunião de trabalhos que estão relacionados ao tema da Memória, Verdade e Justiça. A curadoria é do coletivo Aparecidos Políticos e apresenta obras de artistas de diversos estados do Brasil (CE, PA, PB, PE, RJ e SP) e da Argentina. A Galeria da Liberdade faz parte do conjunto arquitetônico do Palácio da Abolição e é gerida pelo MIS. O museu integra a Rede Pública de Equipamentos Culturais (Rece) do Governo do Ceará, vinculada à Secretaria da Cultura, com gestão parceira do Instituto Mirante.

A exposição apresenta um total de 21 obras entre instalações, videoinstalações, fotografias, colagens, pinturas, litografias e outras artes visuais, de 18 artistas e/ou coletivos que propõem um olhar sobre o que o Brasil viveu no regime de exceção (1964-1985) e o que ainda não foi totalmente superado mesmo em período democrático. A coordenadora da Galeria da Liberdade, Cícera Barbosa, destaca que a exposição nos convida a revisitar e repensar nosso entendimento sobre a experiência da ausência de liberdade e de democracia durante o período que conhecemos como Ditadura Civil-Militar.

“A exposição abrange amplos arcos de tempo, dimensões distintas de temporalidade e incide, através da arte, sob nossas perspectivas históricas. Das prisões aos Aparelhos, das escolas às universidades, do cotidiano aos grandes centros de decisão, esta exposição destaca a experiência dos 21 anos de resistência, assim como os resquícios do que ainda tentamos combater como herança teimosa desse período abominável”, avalia Cícera Barbosa, que também é historiadora e mestra em História Social (UFC), na linha de pesquisa Memória e Temporalidade.

A mostra contempla artistas do Ceará, de Fortaleza e do interior do estado (de municípios como Aratuba, Crato e Camocim), além de artistas da Paraíba, do Pará, de Pernambuco, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Da Argentina, país que também viveu sob uma ditadura (entre 1966 e 1973), há obras do Grupo de Arte Callejero (“Sepultura desconhecida”/ “Sepultura Desconocida”) e do fotógrafo Gustavo Germano (“Ausências”).

Dois cearenses que foram vítimas da violência do período da ditadura no Brasil estão presentes em obras que integram a exposição: Frei Tito de Alencar (1945-1974) e Bergson Gurjão (1947-1972). Frei Tito, frade católico brasileiro símbolo da resistência à ditadura, é inspiração para as obras de Fernanda Meireles (instalação – pirogravura sobre dormentes) e de Marquinhos Abu (Tito 80 Anos). A história do desaparecimento de Bergson está também na série de fotografias “Ausências”. A obra do fotógrafo argentino é composta por uma imagem que mostra Bergson com a irmã e a noiva e outra, refeita no mesmo cenário, em que agora estão apenas as duas.

Aparecidos Políticos

Conhecido pelos 15 anos de intervenções políticas nas ruas de Fortaleza, o coletivo Aparecidos Políticos chega à Galeria da Liberdade trazendo, junto com outros artistas, obras que dialogam entre si. Grande parte delas tem a característica de intervenção, que é o método com o qual o Coletivo Aparecidos Políticos vem atuando desde 2010, quando foi criado. O grupo surgiu no Ceará com a proposta de trabalhar a relação entre a arte e a política, por meio do que denomina de “ativismo criativo”. O grupo Aparecidos Políticos vem desenvolvendo intervenções urbanas, escraches, graffiti, lambe-lambe e rádio livre na luta por memória, verdade e justiça há 15 anos no Ceará.

“A importância dessa exposição na Galeria da Liberdade é a de promover e consolidar políticas públicas de Memória, Verdade e Justiça para a não repetição de práticas que remontam à ditadura militar (1964-1985). Em tempos de autoritarismos e tentativas de golpe de estado, inclusive militar, como o de janeiro de 2023, faz-se necessário pensar uma galeria antenada às mobilizações da sociedade civil”, analisa o grupo que está à frente da curadoria da mostra.

O coletivo Aparecidos Políticos considera que esta exposição é, de certa forma, “uma vitória de familiares de mortos e desaparecidos políticos e ex-perseguidos políticos que conseguiram renomear e ressignificar o antigo Mausoléu Castelo Branco, indo em consonância com as recomendações do relatório da Comissão Nacional da Verdade: promover valores democráticos e da preservação da memória das graves violações de direitos humanos”.

A iniciativa de criar o coletivo Aparecidos Políticos, em 2010, surgiu após integrantes presenciarem a chegada dos restos mortais do desaparecido político cearense Bergson Gurjão Farias, em 2009. Depois de 37 anos da morte do estudante, durante o período da Ditadura Civil-Militar, a família e amigos puderam realizar um ritual de despedida. Bergson atuou no movimento estudantil quando cursava Química, na Universidade Federal do Ceará, e foi assassinado durante operações realizadas entre março e setembro de 1972 na região do Araguaia.

Galeria da Liberdade

Criada em junho de 2025, a Galeria da Liberdade afirma a centralidade da luta pela garantia de direitos humanos na construção de uma sociedade mais democrática e diversa, na qual a cultura e a educação são fundamentais para o exercício pleno da cidadania e o combate ao racismo. Trata-se de um lugar de experimentação artística, no qual o som e a imagem narram o passado e fazem imaginar, coletivamente, outros futuros. O horário de funcionamento é quarta e quinta-feira, das 10h às 18h, e sexta e sábado, das 13h às 20h, com acesso permitido até meia hora antes do fechamento.

Serviço

Cerimônia de Abertura da Exposição “…e se não for agora, um dia será…”

22 de novembro de 2025

Horário: 16 h

Avenida Barão de Studart, 410