Do Clube de Cinema ao São Luiz: o Cinema de Arte renasce no coração de Fortaleza
27 de novembro de 2025 - 11:06 #Cinema de Arte #cultura #são luiz #Secult
Ascom Secult - texto e foto
Projeto histórico chega ao Cineteatro São Luiz com sessões gratuitas, retomando sete décadas de formação de público e exibindo clássicos que marcaram gerações. Reabertura ocorre em 29 de novembro com “Mississippi em Chamas”
O Cineteatro São Luiz lança, no próximo dia 29 de novembro, uma nova fase do histórico Cinema de Arte, com sessões gratuitas realizadas sempre aos sábados, às 10h. A abertura será com o clássico “Mississippi em Chamas” (1988), de Alan Parker, reativando um projeto que atravessou sete décadas e formou sucessivas gerações de cinéfilos no Ceará. A iniciativa marca o retorno de uma tradição que nasce no coração da cidade, percorre diversos espaços e circuitos exibidores e agora reencontra, no São Luiz, seu ponto de partida e de renovação.
Retomada do Cinema de Arte
A trajetória começa nos anos 1950, quando o Clube de Cinema de Fortaleza, liderado por Darcy Costa, instituiu uma cultura de exibição e debate que transformou o modo de ver cinema no estado. Em suas sessões, ao longo do tempo, reuniam-se personalidades como Antônio Girão Barroso, Ary Bezerra Leite, Otacílio Colares, Aderbal Freire, Eusélio Oliveira, Auto Filho, Régis Frota, Enondino Bessa, Francis Vale e LG Miranda Leão, entre muitos outros, que encontravam ali acesso a cinematografias raras e discussões que consolidaram a cinefilia cearense. Entre 1963 e 1977, o Clube estruturou a primeira versão do Cinema de Arte, funcionando, por muitos anos, no auditório da Associação Cearense de Imprensa, no Centro de Fortaleza, promovendo a obra de diretores e movimentos que expandiram repertórios e influenciaram diretamente a formação de críticos, realizadores e pesquisadores.
Esse espírito pioneiro se irradiou pela cidade e inspirou experiências marcantes, como o Cinema de Arte do Shopping Center Um, a Casa Amarela Eusélio Oliveira, da Universidade Federal do Ceará, e o Espaço Unibanco do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, hoje Cinema do Dragão. Todos esses espaços, em diferentes momentos, deram continuidade ao pensamento formativo e ao repertório que moldou boa parte do público cearense.
Em 1981, Pedro Martins Freire retomou o projeto original ao relançar o Cinema de Arte em parceria com o publicitário Tarcísio Tavares (1934–2011). Instalado no Cine Gazeta, no Shopping Center Um, o projeto permaneceu ali até 1992, sendo responsável por introduzir ao grande público a obra de cineastas como Bergman, Martin Scorsese, Rohmer, Kurosawa, Antonioni, Wenders e Truffaut. Mais do que uma sala de exibição, o Gazeta tornou-se um território de encontro para quem buscava um cinema que dialogasse com estética, política e sensibilidade.
A partir de 1993, o Cinema de Arte, comandado por Pedro Martins Freire, passou ao complexo UCI-Ribeiro, no Shopping Iguatemi, sob o Grupo Severiano Ribeiro, alcançando cinco cidades do Nordeste e ampliando sua presença regional, inclusive como estímulo à criação de novas experiências exibidoras, como o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, Pernambuco. Em 1995, o Grupo confiou a Pedro a curadoria do Studio Beira-Mar, a primeira sala do Ceará dedicada exclusivamente ao cinema de arte, que funcionou até 1998 e se tornou um dos marcos mais significativos da exibição cinematográfica na década de 1990.
Entre 2015 e 2020, já no século XXI, o Cinema de Arte ganhou projeção nacional ao integrar o circuito do Grupo Cinépolis, no Shopping RioMar Fortaleza, chegando a 11 cidades brasileiras. Essa foi sua fase de maior abrangência geográfica, interrompida pela pandemia.
Agora, essa longa história encontra uma nova morada. Pedro Martins Freire doa oficialmente a marca Cinema de Arte ao Cineteatro São Luiz, que passa a incorporá-la à sua programação regular.
“Trata-se da continuidade do maior projeto de formação de público da cultura cearense, responsável, durante 57 anos (1963-2020), por formação de cinéfilos e o aprimoramento de críticos de cinema, os quais tiveram acesso a cinematografias e filmes que jamais chegariam a Fortaleza. Lembrando que o CA abriu espaço para que outras capitais nordestinas, também, abrissem suas cinematográficas salas de Arte recebendo os filmes de Fortaleza. A reabertura do Cinema de Arte é, portanto, um dos grandes acontecimentos da cultura cearense. Vida Longa e Próspera”, registra Pedro Martins Freire.
Nova etapa
Para celebrar esta nova fase, o São Luiz apresenta, em dezembro, a Mostra Truffaut Por Completo, com 23 filmes restaurados de François Truffaut, em parceria com a Filmes da Estação. A programação contempla obras fundamentais como “Os Incompreendidos”, “Jules e Jim”, “A Noite Americana”, “Fahrenheit 451”, “O Último Metrô”, “A Mulher do Lado”, além dos curtas “Os Pivetes” e “Antoine e Colette”, configurando um panorama amplo de um dos cineastas mais influentes da história.
O relançamento do Cinema de Arte integra a estratégia do Cineteatro São Luiz de fortalecer a circulação de filmes de repertório e a formação de novos olhares. Além das sessões presenciais, o São Luiz também coordena a plataforma Siará+, dedicada ao cinema cearense autoral, conectando a tradição da sala escura ao ambiente digital.
“O Cinema de Arte no São Luiz inaugura uma etapa fundamental tanto para o fortalecimento da memória audiovisual cearense quanto para a formação e o amadurecimento de novos públicos. Trata-se de uma programação que honra nossa trajetória e, ao mesmo tempo, aponta para novas possibilidades de encontro com o cinema”, afirma Duarte Dias, Assessor de Gestão Cultural e Artística e Coordenador do Núcleo de Acervo e Difusão Audiovisual. “Do ponto de vista operacional, a partir de fevereiro de 2026, as sessões passam a ocorrer uma vez por mês, sempre aos sábados pela manhã, com previsão de debates após as exibições, consolidando um espaço contínuo de reflexão, diálogo e descoberta para as gerações atuais e as que estão por vir”.
O Cinema de Arte retorna ao centro da cidade não apenas como evocação de um passado extraordinário, mas como uma iniciativa atual e estratégica, preparada para seguir contribuindo de forma decisiva para a formação, a circulação e o fortalecimento do público cearense de cinema.
[SERVIÇO] CINEMA DE ARTE | ESTREIA
“Mississippi em Chamas” (1988), de Alan Parker
29 de novembro (sábado)
10h
Cineteatro São Luiz — Fortaleza (CE)
Entrada franca
Em dezembro:
Mostra Truffaut Por Completo — 23 filmes restaurados de François Truffaut.
A programação completa será divulgada nas redes oficiais do Cineteatro São Luiz: @cineteatrosaoluiz