Dezembro Vermelho relembra importância da prevenção contra HIV/aids e da adesão ao tratamento
28 de novembro de 2025 - 16:23 #dezembro vermelho #HIV/Aids #tratamento
Allane Marreiro - Ascom HSJ - Texto
Ascom HSJ - Fotos
A camisinha ainda é o melhor método de prevenção porque protege tanto para a infecção pelo HIV, como para outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)
Apesar dos avanços científicos e sociais, quando se fala de HIV/aids, o tema ainda é cercado de tabus e receios. Muitas pessoas têm dúvidas, medos e carregam estigmas que já não condizem com a realidade atual. Hoje se sabe que, para a infecção pelo HIV, existem prevenção combinada, teste rápido para diagnóstico, tratamento eficaz e que, quando o paciente tem a adesão e manutenção correta do tratamento, pode viver de forma plena, saudável e com qualidade de vida. Com a chegada do último mês do ano, a campanha Dezembro Vermelho surge justamente para reforçar essa conscientização, ampliar o acesso à informação e oferecer respostas seguras sobre o tema.
A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) reforça que prevenir, testar e tratar são pilares essenciais para controlar o surgimento de novos casos e garantir qualidade de vida às pessoas que vivem com HIV. Entre 1983 e novembro de 2025, segundo dados da Célula de Vigilância e Prevenção Epidemiológica de Doenças Transmissíveis e Não Transmissíveis (Cevep) da Sesa, a partir dos sistemas Sinan Windows e SinanNet, o estado registrou 27.516 casos de aids em adultos, 473 em crianças e 25.542 casos de infecção pelo HIV.
De acordo com o médico epidemiologista e orientador da Cevep, Carlos Garcia, em 2025, as taxas de detecção de infecção pelo HIV em adultos se mantiveram superiores às de pessoas com aids dos últimos dez anos (2015–2024). “É um reflexo direto da ampliação do acesso à testagem. Isso inclui a oferta do autoteste, que permite que mais pessoas conheçam sua sorologia de maneira rápida e segura”. Lembrando que nem toda pessoa que vive com HIV desenvolve a doença, já que com o tratamento correto, a carga viral pode ficar indetectável.
A médica infectologista Lara Távora, diretora médica do HSJ, afirma que os avanços no tratamento do HIV foram significativos e a cura definitiva permanece sendo o objetivo maior
A médica infectologista Lara Távora, diretora médica do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), unidade da Rede Sesa e referência no assunto, diz que o uso da camisinha continua sendo o método mais eficaz para prevenir o HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
“A camisinha protege em todas as formas de relação sexual e deve ser utilizada sempre que houver risco de exposição. No entanto, apenas a promoção do preservativo não foi suficiente para conter o aumento de casos nos últimos anos. Por isso, o Ministério da Saúde consolidou a estratégia da prevenção combinada, que integra diferentes formas de proteção. Essa abordagem trouxe um ganho importante para o controle da epidemia, pois reúne o uso do preservativo, a PEP [Profilaxia Pós-Exposição], a PrEP [Profilaxia Pré-Exposição], a testagem precoce — especialmente em gestantes — e o início imediato do tratamento em caso de diagnóstico positivo”, destaca a especialista.
O Ceará tem avançado em iniciativas que ampliam o alcance dessas estratégias. O orientador da Cevep, Carlos Garcia, completa ainda que, em 2025, houve o fortalecimento do TelePrEP e TelePEP, um reforço nesse cenário. “É uma inovação que facilita o acesso à prevenção, sobretudo em regiões remotas do estado. Por meio do teleatendimento, os usuários recebem orientação especializada e acompanhamento para o uso da profilaxia pré-exposição e pós-exposição, ampliando a proteção e reduzindo barreiras geográficas”, explica.
Leia mais: Conheça o serviço on-line de orientação sobre prevenção combinada contra o HIV
Diferenças e recomendações para PEP e PrEP
A estratégia da prevenção combinada, integra diferentes formas de proteção, mas é importante se atentar para a indicação de cada uma
A Profilaxia Pós-Exposição (PEP) é indicada para situações de risco ocorridas nas últimas 72 horas, desde que o teste para HIV realizado no atendimento de emergência seja negativo. É recomendada em casos de: relação sexual sem preservativo, violência sexual e acidentes ocupacionais com instrumentos perfurocortantes, como agulhas ou lâminas.
A PEP utiliza a mesma combinação inicial de medicamentos empregada no tratamento do HIV, porém por um período de 28 dias. Quanto mais rápido iniciar, maiores as chances de evitar a infecção.
Já a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) é uma estratégia preventiva indicada para pessoas que vivem situações recorrentes de risco para o HIV. Ela é recomendada para: profissionais do sexo; pessoas com múltiplos parceiros e baixa adesão ao uso de preservativo; indivíduos que se relacionam com parceiros soropositivos sem tratamento adequado; pessoas que apresentam ISTs com frequência, como sífilis e gonorreia.
A PrEP consiste no uso de antirretrovirais que podem ser tomados diariamente ou sob demanda (antes de relações específicas). Esses medicamentos reduzem drasticamente a chance de infecção pelo vírus.
A importância da testagem regular
A testagem é fundamental para o diagnóstico precoce e para interromper a cadeia de transmissão. A recomendação varia conforme o risco de exposição:
+ Pessoas com maior vulnerabilidade, como profissionais do sexo ou usuários de drogas injetáveis, devem testar-se pelo menos a cada seis meses;
+ Pessoas com múltiplos parceiros ou que não usam preservativo regularmente devem realizar testagens periódicas;
+ Gestantes, obrigatoriamente, fazem testagem no pré-natal em dois momentos distintos, garantindo a prevenção da transmissão vertical;
+ Pessoas em relacionamentos estáveis e monogâmicos também devem se testar pelo menos uma vez na vida.
Os testes rápidos podem ser realizados gratuitamente pelo SUS em todas as Unidades Básicas de Saúde do Estado. O diagnóstico precoce é essencial para iniciar rapidamente o tratamento e reduzir complicações.
Tratamento: viver bem é possível — e necessário
No Ceará, o Hospital São José é referência no tratamento de pessoas que vivem com Hiv/Aids
Em caso de acidentes ocupacionais com materiais perfurocortantes, violência sexual, rompimento de preservativo ou relação desprotegida, a recomendação é procurar atendimento na emergência do Hospital São José (HSJ) para a realização da Profilaxia Pós-Exposição (PEP).
Já se o resultado der positivo para HIV no teste rápido realizado no posto de saúde, a enfermeira Thatiana Pereira, coordenadora do Ambulatório do HSJ, explica que, para ter acesso aos serviços ambulatoriais do HSJ, os pacientes precisam ser encaminhados.
“Os pacientes que realizam os testes nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) dos municípios do interior em que são residentes são encaminhados para o HSJ. Ao chegar aqui, o paciente passa por uma triagem realizada pela equipe de enfermagem, que solicita os exames necessários. No caso dos pacientes residentes em Fortaleza, são encaminhados para atendimentos nas policlínicas”, orienta.
O tratamento atual do HIV consiste em apenas duas drogas; no início, pacientes chegavam a tomar até dez drogas por dia
De acordo com a diretora médica do HSJ, Lara Távora, após o diagnóstico, a terapia antirretroviral é o principal instrumento para garantir saúde, bem-estar e longevidade. A adesão adequada impede que o vírus se replique, reduzindo a carga viral até níveis indetectáveis.
“Uma vez você sendo diagnosticado com o vírus, o tratamento, como eu digo para o paciente, é a salvação. É você escolher se você vai querer viver bem ou se você vai querer adoecer e sofrer. Hoje em dia, tomar a terapia antirretroviral corretamente é o que faz diferença para a pessoa viver bem, com qualidade, com bem-estar. Não seguir corretamente o tratamento pode permitir que o HIV sofra mutações e desenvolva resistência aos medicamentos, dificultando o controle da infecção e exigindo esquemas terapêuticos mais complexos. Em casos extremos, a resistência pode limitar as opções de tratamento, favorecendo o surgimento de doenças oportunistas e complicações graves da aids”, ressalta a infectologista.
A especialista ainda destaca que atualmente, as terapias são mais eficazes, com menos efeitos colaterais e posologia simplificada. “Em diversos países, já existem medicamentos injetáveis de longa duração, aplicados a cada dois meses, que em breve poderão se tornar realidade no Brasil. Embora ainda não exista cura universal para o HIV, os avanços científicos têm melhorado de forma significativa a vida das pessoas que convivem com o vírus”, finaliza.