Ceará Moda Acessível celebra diversidade na passarela e destaca avanços em roupas pensadas para pessoas com deficiência

1 de dezembro de 2025 - 17:09 # # # #

Ascom SPS - Texto

A 6ª edição do Concurso Ceará Moda Acessível levou uma passarela de estilo, técnica e inclusão para o Shopping RioMar Kennedy, na última sexta-feira (28). Com brilho, texturas e inovação, cada um dos 13 looks apresentados por 10 estilistas mostrou que a moda pode, e deve, ser pensada para todos os corpos.

O desfile, promovido pela Secretaria da Proteção Social (SPS), por meio do Centro de Profissionalização Inclusiva para a Pessoa com Deficiência (Cepid), reuniu peças adaptadas para modelos com diferentes tipos de deficiência, reforçando a importância de vestir com autonomia. As criações apresentaram soluções que vão de aberturas laterais para cadeirantes a texturas diferenciadas para pessoas com deficiência visual, além de ajustes simplificados que facilitam o vestir e ampliam o conforto no dia a dia.

Designer de Moda, Brenda Quíria conquistou o primeiro lugar com uma peça da coleção Constelar, criada especialmente para uma modelo cadeirante. O look era formado por uma calça com medidas tiradas da modelo sentada, elástico apenas na parte traseira, para garantir conforto sem perder a estética social, e uma blusa de amarração com fechamento lateral. O brilho aplicado à mão remetia ao céu estrelado que batiza a coleção.

“Eu queria algo confortável e ao mesmo tempo desafiador, então fiz uma calça adaptada no tamanho dela. A modelo amou. Ela se sentiu muito confortável porque o tecido é 100% viscose, bem geladinho, confortável”, contou Brenda.

Sentir o mar

O segundo lugar ficou com a designer Thenny Mendes, que apresentou a coleção “Sentir o mar”, pensada para uma pessoa com deficiência visual. A peça vencedora investiu em forte percepção tátil, com nervuras, bordados e camadas. “A proposta era que ele fosse look funcional, que ele fosse um look usável, mas também tivesse a questão da tendência, da moda, dos detalhes, a escolha das cores”, explicou.

“As pessoas querem ser incluídas e elas querem ter esse acesso a uma moda em que elas possam expressar quem elas são, a identidade. Infelizmente, a moda ainda caminha a passos curtos com relação a muitos quesitos, principalmente esse da inclusão. Um projeto como esse do Cepid é muito importante, muito válido para dar essa visibilidade, principalmente, e mostrar que essas pessoas têm autonomia, que elas têm independência e que elas estão inseridas na sociedade”, completou.

As modelos PCD protagonizaram o evento, com peças pensadas especificamente para suas necessidades. Eduarda Kethelly (19) é cadeirante e viveu sua primeira experiência na passarela usando o look vencedor. “Hoje eu me senti representada, e representei outros cadeirantes também. Muitas vezes a gente tem vergonha, medo de participar. E é muito importante estar aqui, abrindo esse espaço”, afirma. “Foi gratificante para mim, porque eu nunca pensei que eu ia vestir uma roupa que fosse apropriada para a minha deficiência, foi um sonho realizado”.

Com amputação no braço, a atleta Clariene Abreu desfilou o look que ficou na terceira posição e enfatizou o cuidado técnico da estilista. “Ela se preocupou com tudo: o que ficaria fácil para eu mesma vestir sozinha sem precisar da ajuda das pessoas, o lado do fechamento, se era mais legal com o velcro ou só com a presilhazinha de impacto, e também a atenção que ela deu não só em desenvolver o look para a competição, mas também que eu pudesse vestir posteriormente, que não fosse uma roupa só para desfilar, uma roupa realmente funcional”, destacou.

Potencial da moda inclusiva

Na plateia, o impacto se refletiu nos olhares, câmeras e aplausos. Emely Barbosa (23), que assistiu ao desfile, destacou dois looks que chamaram sua atenção, especialmente o que trazia a frase “Nada sobre nós sem nós”. “Eu nunca tinha participado, mas achei bem interessante tanto os modelos, mas também toda a produção ser acessível. Eu fiquei encantada com as roupas, eu queria usar quase todas”, afirmou.

Designer de moda e figurinista, Gleyson Portela atuou como um dos jurados, destacando o salto de qualidade da edição. “Tivemos mais participantes e também alguns looks se destacaram pela criatividade. Foi pensado também na ergonomia do corpo, o tipo do tecido. Alguns, utilizaram algodão, que é muito ideal para o nosso clima do Ceará, que é muito quente, clima tropical”.

Ele ressaltou que o principal desafio para a moda inclusiva ganhar escala ainda está no mercado. “Eu acredito que falta conscientização das empresas. Ter essa sensibilidade para esse público das pessoas com deficiência que é muito grande”. Gleyson, que já produz peças acessíveis por encomenda, defende mais incentivo de governo, faculdades e estilistas. “Se o mercado é fechado para esse público, o estilista tem que ter essa visão e ter um público específico e trabalhar à vontade”.

Para a coordenadora do Centro de Profissionalização Inclusiva para a Pessoa com Deficiência (Cepid), Regina Tahim, o concurso é uma oportunidade para “despertar um olhar diferente para a moda acessível”. “É você quebrar paradigmas, você tentar quebrar conceitos. Não só as barreiras arquitetônicas, mas também as atitudinais. Porque o lugar da pessoa com deficiência não é só no trabalho, não é só na escola, mas também no mundo da moda. É onde elas queiram estar”.

Além da passarela, o evento também envolveu alunos dos cursos de Fotografia e Cabeleireiro e Maquiagem do Cepid. A 6ª edição premiou três estilistas, com valores entre R$ 2 mil e R$ 4 mil.