Major da PMCE, Nara Ribeiro, fala sobre a importância dos trabalhos com a comunidade

10 de dezembro de 2025 - 09:42 # # # #

Ascom Supesp - texto, fotos e arte gráfica

Na entrevista feita para a edição de dezembro do Link Supesp, temos como porta-voz a major da Polícia Militar do Ceará (PMCE), Nara Ribeiro, 39, que atua como subcomandante do Comando de Prevenção e Apoio às Comunidades (Copac). A policial compartilhou com a equipe como foi o início na polícia e como é a atuação do Copac e a relação com o Grupo de Apoio à Vítimas de Violência (GAVV).

O GAVV é um grupo de atuação operacional do Copac, que foi formalizado por uma lei estadual em 2023, embora exista no âmbito da Polícia Militar desde o ano de 2013. O grupo possui equipes que atendem às Áreas Integradas de Segurança (AIS) e cada AIS possui uma equipe do GAAV.

A major Nara conta que iniciou a trajetória militar aos 19 anos, por meio de vestibular prestado na Universidade Estadual do Ceará (Uece), que na época era um concurso público para a formação de oficiais. “O nível superior era o curso de formação. Então, eu fiz três anos e a partir dessa formação eu saí como bacharel em segurança pública”, destaca a major Nara sobre o início na segurança pública.

Sobre as vivências na PMCE, a subcomandante do Copac ressalta o Regimento de Polícia Montada (RPMont) como a unidade onde permaneceu mais tempo, desde que iniciou na Polícia Militar. Lá, atuou na área de comunicação social. “É uma parte que eu aprendi a gostar demais. Acredito que, por conseguir uma conscientização da valorização do nosso trabalho por meio das divulgações feitas pela comunicação social, as pessoas viam como é relevante essa atividade”, conta a major sobre o começo na carreira.

Quando questionada sobre o Copac, a subcomandante ressalta também o GAVV. O grupo funciona como um pilar importante do policiamento comunitário, acompanhando e acolhendo vítimas de violência.

Papel do GAVV para a comunidade

Link Supesp: Como surgiu o GAVV?

Major Nara Ribeiro – O GAAV surgiu com a iniciativa de atuação, em uma área próxima da Aldeota (em Fortaleza), no acompanhamento das vítimas de violência, no pós-vitimização e acolhimento, auxiliando no retorno à segurança, dentro desse estado de vulnerabilidade que a violência acomete às pessoas. Então, acompanhava mulheres vítimas de violência, idosos, crianças, pessoas que passavam por situações de exposição à violência armada. A partir daí, o GAAV acabou sendo abraçado por outras unidades de polícia comunitária da PMCE até acabar funcionando formalmente no Copac.

Link Supesp: Como é feita a análise estatística dos territórios onde há mais denúncias de violência?

Major Nara Ribeiro – Na verdade, nós fazemos análise interna de dados, mas o Copac como um todo, desde a criação, recebeu muitos estudos estatísticos da Supesp. Existe esse link direto. Principalmente, relacionado aos territórios de alta vulnerabilidade que a gente atua com os outros grupos do Copac. Esses territórios foram selecionados por intermédio da Supesp na época. Com relação ao GAAV, na realidade, nós atuamos muito por meio de demanda direta.

“Hoje, o principal acompanhamento do GAAV é com mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, mas o grupo atende outros públicos vulneráveis” (major Nara)

Link Supesp: Como é que você enxerga esse link que é feito entre a superintendência, o Copac e o GAAV?

Major Nara – Como todo o sistema de segurança pública estadual, funciona de maneira integrada. Então, a Supesp esteve diretamente envolvida desde a criação do Copac e da instalação das bases comunitárias nos territórios atendidos. Toda escolha dos locais onde as bases iam funcionar e quais os territórios eram mais vulneráveis e precisavam da territorialização da polícia, foi feita com o apoio da Supesp. Nós solicitamos levantamentos do órgão e inclusive em nível de formação.

Link Supesp: A partir de que momento o caso foge da esfera do GAAV? Por exemplo, quando vocês precisam passar para outro grupo a resolução?

Major Nara – No GAAV, dentro da Polícia Militar, as demandas chegam para a gente já no final do percurso. A vítima de violência normalmente aciona a polícia pelo 190, então vai uma viatura emergencial que não é nossa. Em seguida, há o encaminhamento para uma delegacia. É após esse momento que o GAAV participa. O grupo foi muito pensado para esse pós-denúncia. A vítima que sofre violência é encaminhada para uma delegacia e, como para ela geralmente é muito difícil fazer a denúncia, às vezes se sente abandonada depois.

Existe uma disciplina específica que estuda o conceito de território, o envolvimento das comunidades com os locais onde estão, e para a gente que trabalha com polícia comunitária isso é essencial. É um suporte que a Supesp nos oferece.

Participação do apoio policial as comunidades

Link Supesp: Como acontece essa ação e apoio policial mais humanizado junto à comunidade?

Major Nara – A essência do policiamento comunitário é a participação da comunidade e o envolvimento com as políticas de segurança pública. Então, quando a gente fala de prevenção e apoio às comunidades, não são palavras vazias. De fato, elas exigem essa vinculação do policial ao território, passando por uma aplicação da doutrina de polícia comunitária, que é o policial ser sempre o mesmo que atua naquele território e, assim, criar um vínculo. Então, isso faz com que as pessoas que moram lá, fiquem à vontade para falar com os policiais.

Link Supesp: Major, como se caracteriza a violência contra a mulher? Ela costuma acontecer em qual contexto?

Major Nara – Falando especificamente sobre a violência contra a mulher, qualquer violência contra a mulher não é um fato isolado, ela é multifacetada. Muitas vezes, como é uma das nossas expertise do GAAV junto ao Copac, nós conseguimos identificar o que todas as normas e estudos sobre isso apontam: que a mulher sofre violências cruzadas. Não é só a violência doméstica e familiar, às vezes tem uma violência etária, em princípio com essa violência, uma violência racial.

“Porque mediar o conflito é uma das principais funções do policial militar” (major Nara)

Link Supesp: Quando você se depara com um conflito, qual é a sua primeira atitude para solucionar? Seja no Copac ou de maneira geral?

Major Nara – Nós focamos muito na prevenção feita pelo do núcleo de mediação de conflitos, algo também previsto em lei. Foi inovador na Polícia Militar enxergarmos possibilidades e caminhos para ver todo mundo satisfeito no final do atendimento de uma ocorrência por estimularmos a comunicação e o diálogo, e identificarmos os conflitos, desde a raiz dos interesses que estão por trás daquilo que se manifesta na hora da ocorrência. Às vezes são conflitos muito antigos entre vizinhos, entre familiares, e aqui no Copac eu, particularmente, consegui ver uma maneira diferente de resolver os conflitos sociais e entendi que o foco sempre é um conflito social.

Link Supesp: Como é a rotina das atividades com a comunidade? Sentiu alguma dificuldade de aceitação no início para mediar conflitos? Como foi essa recepção da comunidade?

Major Nara – Nós procuramos vencer muito essa barreira aqui por meio da vinculação do policial com a permanência no território. Notamos, nas comunidades que atendemos, no início, uma desconfiança de que aquela composição de policiamento comunitário não iria permanecer. “Mas daqui a pouco vocês vão embora e a gente vai ficar aqui à mercê de alguma violência”, falou uma vez o morador para mim. Apesar disso, desde 2022, nós percebemos que a permanência dos policiais sempre tem um resultado positivo. Mesmo que eventualmente algo que pareça, inicialmente, mais reativo para alguma comunidade, em uma situação mais conturbada, ainda assim conseguimos superar a resistência e temos recebidos bons relatos.

Link Supesp: Como foi sua atuação na comunicação do RPMont?

Major Nara – A PMCE tem um sistema administrativo que prevê essa figura do oficial de comunicação nas unidades. Então, toda unidade da Polícia Militar tem essa figura do P5, que chamamos de Policial 5, é essa parte de comunicação social. E desde a primeira unidade em que eu trabalhei, fui nomeada P5 da unidade, com exceção do Copac. Aqui, vim como major e iniciei na situação de subcomandante. Na cavalaria, eu era oficial de comunicação. Dessa forma, foi uma área que eu acabei aprendendo a gostar.

E eu espero que consigam ver o que eu vejo da minha instituição. Que nem sempre é visto de maneira positiva, mas é uma instituição maravilhosa, com uma função muito nobre.

Link Supesp: Quais casos mais lhe marcaram na trajetória da PM?

Major Nara – Me marcou muito uma conversa de acolhimento com uma mulher que relatou que sofria violência há mais de 15 anos. Ninguém da família a apoiava a denunciar e ela contou que a gente era o único apoio que ela tinha. Me emocionei muito com o relato dela sobre todas as violências que sofreu. No meu tempo na cavalaria, me conectei muito com os meus alunos dos projetos sociais. Com alguns, já adultos, trabalhando em hípica fora do estado, mantenho contato até hoje e me orgulho em perceber o quanto a PMCE transformou a vida deles, em detrimento do contexto de vulnerabilidade em que muitos viviam.