#MulheresQueInspiram: a presença feminina que faz a diferença

6 de março de 2016 - 13:00

A data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, se aproxima, fortalecendo uma luta histórica, de conquistas, de representação de força e sensibilidade que fazem diferença no mundo inteiro. Para marcar esta data, a Coordenadoria de Imprensa do Governo do Estado do Ceará inicia uma série de matérias com mulheres que fazem a diferença em suas casas, no seu bairro, na sua cidade, em todo o Estado do Ceará. Serão três capítulos com histórias marcantes e belas de mulheres que inspiram e contribuem para um mundo melhor.

 

Neste domingo, o primeiro especial da série vai contar a história de duas mulheres que, cada uma a seu modo, inspiram a mudança e luta por dias melhores. Selma Santiago, diretora do Theatro José de Alencar que revela sua trajetória de amor pela arte e Camila Silveira, que à frente da Coordenadoria de Políticas Públicas para Mulheres do Estado, conta como começou o envolvimento na luta pelos direitos da mulher.

SELMA TANTIAGO 21Selma Santiago: uma história de amor pela arte

Segundo ela própria define, já nasceu artista e produtora. Um espírito de criança preservado no corpo de uma mulher. Com orgulho, ela diz que faz arte e, quando não, sente a arte, transcendendo o espírito e fazendo viajar na sua sublimação. Essa é Selma Santiago que, guardando na memória momentos de afeto e criatividade no Theatro José de Alencar, assumiu a responsabilidade de coordenar a importante casa de espetáculos em 2015, justamente o ano em que o equipamento do Estado completou 105 anos. Mestre em Gestão Cultural pela Universidade de Barcelona, na Espanha, a afinidade com o universo artístico vem desde os tempos de colégio.

Selma trabalhou como coordenadora das atividades culturais da Petrobras, período em que introduziu o conceito e a prática de patrocínio cultural através de leis de incentivo. Foi presidente da Federação Estadual de Teatro Amador do Ceará (FESTA), onde fez uma grande mobilização em todo o estado, organizando grupos teatrais e propondo políticas para o setor. No extenso currículo, foi professora e coordenadora dos cursos de Gestão Cultural do Instituto Dragão do Mar, além de ter atuado na consultoria de diversos projetos para a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) e o Ministério da Cultura (MinC), onde atuou na Secretaria de Economia Criativa e no Programa Mais Cultura. 

 

Hoje, ela tem a missão de manter a tradição do TJA, que já recebeu em seus palcos grandes nomes das artes cênicas e da música brasileira, além de revelar para o Brasil talentos notáveis. “Recebi o convite com a certeza de que estavam me confiando a mais importante casa de espetáculos do Ceará. Acredito que o fato de conhecer esta casa e suas entranhas, desde antes do restauro de 1991, me fez ainda mais honrada com o convite, pois sabia que junto com a honra viria a responsabilidade de cuidar deste prédio histórico e de valor afetivo enorme para todo cearense. Com alegria, recebi a notícia como quem recebe um tesouro e se sente guardiã dele, mantendo sua beleza e seu encantamento sempre vivos”, diz ela.

SELMA TANTIAGO 26A relação dela com o TJA é antiga. E o começo ela relembra com muito carinho. “Em 1988, procurei o diretor do TJA para ter um espaço de ensaio para o espetáculo ‘A Koyza Extranha’, no qual era atriz e produtora. Entrei no Theatro e vi o quanto ele estava abandonado. Mas, conseguimos ensaiar no foyer, sob o teto descascado, com as tábuas do piso totalmente descuidadas. E assim fizemos nosso processo criativo, até que pediram para que desocupássemos o local pois haveria um restauro. Valeu à pena termos saído, pois em 1991, ele estava lindo!”, lembra ela.

Encantada pelo equipamento, quando as obras estavam sendo realizadas em 1991, ela procurou o então diretor, Oswald Barroso, para trabalhar lá. Fazia assistência de produção e comunicação. Fazia de tudo, inclusive foi uma das responsáveis pelo informativo chamado “O Muriçoca”. “As lembranças saltam para a alegria de ter participado do espetáculo de reinauguração com a encenação de ‘Eu e Dinha’, de Moreira Campos, sob a direção de Aberbal Freire Filho, onde interpretei a Dinha, e na sequência de também participar do primeiro espetáculo cearense a se apresentar no TJA após a reinauguração, quando apresentamos ‘O Auto de Inês Pereira’, com direção de Artur Guedes. São tantas memórias que me fazem ter um amor a este espaço para além da função de gestora”, conta ela.

Transgredir, expressar-se através da arte tem sido uma rotina na vida de Selma. A inquietude crítica e o desejo de transformação caminham juntos com o seu trabalho. “O que nos torna humanos, senão a nossa capacidade de amar, de se expressar e de criar? A arte vem exatamente como uma das mais perfeitas formas de criação, expressão e amor. Podemos viver sem algumas das consideradas necessidades humanas básicas, mas sem arte, nada faz sentido, seremos meras máquinas reprodutivas. Adoro quando uma mãe pergunta nordestinamente se o filho está ‘fazendo arte’. Por que, além de dizer o que sentimos através da nossa capacidade criativa, a arte também revela o que pensamos do mundo, quando transgredimos as convenções e vamos além”, conta.

Selma honra o seu papel na sociedade de mulher forte, influenciando as pessoas com quem convive. Segundo ela, a sensibilidade do sexo feminino é essencial para fazer a diferença. “O papel da mulher em todos os segmentos da vida pública é fundamental, pois nós mulheres sentimos antes de agir, pensamos com o coração antes da razão, o que nos torna gestoras mais harmoniosas de tantos conflitos que um cargo público enfrenta. Por nossa condição natural da maternidade, temos um dom que nos dá a capacidade de compreender os tempos para que os nascimentos possam acontecer, a habilidade de pressentir o que está ao nosso redor e a leveza no tratamento para com o nosso futuro. Sei que muito já se conquistou em nosso meio predominantemente machista, mas muito ainda há que ser feito. As mulheres ainda haverão de demonstrar ao mundo o quão humano pode ser o seu poder. E sem perder a ternura, jamais!”, disse (parafraseando Che Guevara).

O Theatro José de Alencar, aos olhos de Selma, é “um senhor de 105 anos que está em forma”. Tendo recebido artistas de renome, o local segue como um centro de experimentações e projeções. Ela, como diretora, assume o desafio de manter essa grandeza. “Temos a criatividade rica de nossos artistas para garantir uma programação de primeira qualidade, mas precisamos manter o TJA bem estruturado e devidamente atendido com relação ao seu entorno, para que nossa casa de espetáculos do coração se torne sempre um espaço de convivência e criatividade da cultura cearense”, defende.

 MVS0606Camila Silveira: uma vida de luta pelos direitos das mulheres

 

Uma luta que ultrapassa os séculos: os direitos da mulher na sociedade. Ao longo dos anos, muito foi conquistado para provar que o sexo feminino fizesse a diferença com participação ativa na vida pública. Camila Silveira há muito tempo participa dessa luta, sempre defendendo o acesso à memória, a verdade e a justiça. À frente da Coordenadoria de Políticas Públicas para Mulheres do Estado do Ceará deste abril de 2015, ela segue com o trabalho com muito amor pela causa, consciente de que muito há de ser realizado.

A vida de militância é antiga. Participou de movimentos estudantis nos anos 90, sempre focada na área da mulher. Trabalhou na ONG IJC (Instituto da Juventude Contemporânea) como educadora e uma das pautas era os direitos sexuais e reprodutivos da mulher. Milita na União da Juventude Socialista e participa da Escola de Formação Quilombo dos Palmares, famosa escola de educação popular do Nordeste. Sempre atuando na frente feminista, trabalhou na Coordenadoria Municipal de Juventude de Fortaleza antes de assumir a Coordenadoria de Políticas Públicas para Mulheres do Estado.

Segundo ela, a violência contra a mulher ainda é uma realidade a ser combatida. “Nosso desafio é que infelizmente queríamos ter um batalhão da Lei Maria da Penha, mas não podemos botar um policial dentro de cada casa. Mas a mulher pode denunciar. Estamos falando de tráfico de mulheres, de uma educação sexista, são 10 anos de Lei Maria da Penha, de 30 anos do Conselho do Direito da Mulher, 30 anos da Delegacia da Mulher, uma rede de equipamentos e ainda somos muito atingidas. Queremos mostrar que a mulher tem denunciado mais. Temos esse tripé nesse momento que é a participação política da mulher, a qualidade de vida e a educação”, disse.

Camila explica que o papel no Estado é acolher, proteger e libertar. “Quando a gente recebeu o desafio de assumir a Coordenadoria, recebemos a demanda de mapear e estudar porque nossa mulheres estavam morrendo tanto. Dissemos que não vamos nos deixar absolver pela violência, pela situação em que coloca a mulher como vítima. Buscamos autonomia econômica, de trabalho, educacional, cultura, lazer, qualidade de vida, saúde, mas o maior desafio é a vida das mulheres”, diz. Muito já se avançou mas muita coisa ainda pode melhorar, segundo ela, que acredita no encorajamento da mulher para fazer denúncias. “Hoje temos uma rede de enfrentamento, mas sempre é preciso avançar. Muitas mulheres precisam saber como se proteger”, disse.

 MVS0609Um dos principais projetos do Estado em parceria com o Governo Federal para enfrentar esse problema é a construção da Casa da Mulher Brasileira, que reunirá, no mesmo espaço, os serviços de delegacia especializada, juizados e varas, defensorias, promotorias, equipe psicossocial e orientação ao emprego e renda. “Captamos recursos R$ 8,3 milhões para a construção e manutenção da casa. Nós vamos revolucionar a vida das mulheres. Pegamos como exemplo de Campo Grande, em que no primeiro mês foram realizados 15 mil atendimentos. Não tenho dúvida que será um grande avanço. Queremos até que essa casa seja temporária, pois não queremos ver a vida inteira a mulher apanhando. Desejamos que ela tenha um início, um meio e um fim, que um dia as mulheres sejam libertas e não necessitem de um serviço especializado para atendimento único”, disse.

O lado humano do sexo feminino é uma característica forte. E para Camila, isso é refletido na vida pública. “Quando colocamos que a mulher tem que ter participação na política é porque sabemos que ela é capaz de uma elaboração mais coesa para essa política. Nós sabemos que ela tem maior sensibilidade. Hoje temos o exemplo da nossa vice-governadora, Izolda Cela, que coordena o programa de maior impacto na vida da sociedade cearense, o Pacto por um Ceará Pacífico. É uma educadora, uma mãe, e quando olhamos o caso do bairro Vicente Pinzón, foram implantadas 62 medidas protetivas contra mulheres e nenhuma foi morta. Foi também criado um Ronda especializado para a mulher, tudo isso é uma sensibilização”, disse.

Os desafios são grandes. Mas como mulher idealista, Camila também é sonhadora. “Se hoje temos 36 mil medidas protetivas no Ceará, nossa meta é garantir justiça, que a sociedade garanta a verdade, e que nada fique impune. Nossa expectativa é mostrar que somos intolerantes com isso. São 36 milhões de mulheres cearenses, é o nosso maior eleitorado. O nosso sonho é que lá na frente as mulheres digam ‘foi nessa gestão que a gente zerou o índice de violência, tivemos acesso à justiça'”, disse.

 

Fotos: Felipe Abud e Marcos Studart

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06.03.2016

 

Thiago Sampaio
Repórter / Célula de Reportagem

 

Ana Martins
Gestora de Célula / Monitoramento

 

Coordenadoria de Imprensa do Governo do Estado
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