Festival Dendicasa e Arte em Rede: editais auxiliam artistas, promovem e perpetuam a arte do Ceará
9 de abril de 2021 - 15:28 #artistas cearenses #Banda Sulamericana #cantora Luiza Nobel #coronavírus #Covid-19 #cultura #editais de cultura #Pandemia #Secult
Daniel Herculano - Ascom Casa Civil - Texto
Eduardo Abreu e Arquivo Pessoal - Fotos
Artista vive de público, de shows e de sua arte. No entanto, em meio à primeira onda da pandemia da Covid-19 no Brasil, as incertezas eram muitas e o setor de eventos parou presencialmente de março de 2020 para cá, com alguns suspiros. Para os cearenses da banda Sulamericana e para a cantora Luiza Nobel, a situação em abril e maio de 2020 era a de todo mundo dentro de casa, nada de shows presenciais, sem o contato do público ou oportunidades de mostrar sua arte ao vivo.
Foi quando o Governo do Ceará, através da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult), lançou os editais Festival Dendicasa e Arte em Rede, ambos com o objetivo de promover e movimentar a criação, difusão e economia artística e cultural do estado, no contexto de medidas de distanciamento social necessárias neste período de pandemia e no contexto de emergência de enfrentamento à Covid-19. Luiza Nobel foi contemplada com o Arte em Rede, enquanto a banda Sulamericana teve seu especial musical aprovado no Festival Dendicasa.
Festival Cultura Dendicasa: Arte de Casa Para o Mundo
“Aquela época, eu lembro bem, foi muito difícil pra todo mundo. Era abril de 2020, estávamos no meio da pandemia, todo mundo em casa já há mais de mês e muitas dúvidas quanto ao que estava acontecendo, de como iríamos sair disso tudo. Diferente de hoje, que mesmo em pandemia já temos uma luz no fim do túnel, as vacinas, e isso acaba sendo menos angustiante. O ano de 2020 estava muito incerto. Todo mundo pra baixo, sem saber o que fazer, e foi aí que comentamos de produzir algo online. E justamente nessa época que surgiu a oportunidade deste edital Dendicasa”, relembra Hugo Lage, guitarrista e produtor da banda Sulamericana.
Ele aponta que, com todos da banda trancados dentro de casa, esse era o momento ideal para esse tipo de material sair. Depois da liberação do edital, a Sulamericana enviou o especial em vídeo para a apreciação da Secult em uma semana. “Foi uma semana especial, pois naquele momento a gente até esqueceu da pandemia, ficou mais leve distraindo a cabeça com o que a gente mais gosta de fazer, que é tocar e produzir nossa música”, disse Hugo.
A primeira edição do Festival Dendicasa chegou para incentivar a sustentabilidade de artistas, grupos, coletivos, companhias e demais profissionais e empreendimentos culturais do Ceará. Com recurso de R$ 1 milhão, foram 1.700 inscritos e 400 projetos contemplados, distribuídos em 52 localidades diferentes (Fortaleza, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Crato, Caucaia, Quixadá, Barbalha, Aquiraz, Limoeiro do Norte, Sobral, Quixeramobim, Eusébio, Itapipoca, Russas, Varjota, Tianguá, Senador Pompeu, Paracuru, Pacajus, Morada Nova, Jijoca de Jericoacoara, Horizonte, Canindé, Umari, Tabuleiro do Norte, Pacatuba, Missão Velha, Maranguape, Lavras da Mangabeira, Jaguaribe, Ipu, Aurora, Acopiara, Várzea Alegre, Ubajara, Tejuçuoca, Santa Quitéria, Quixeré, Porteiras, Pentecoste, Nova Olinda, Monsenhor Tabosa, Meruoca, Jaguaretama, Iguatu, Icapuí, Guaramiranga, Guaraciaba do Norte, Granja, Cedro, Cariré e Acarape), e cada um deles recebeu o cachê de R$ 2.500,00. E a diversidade de municípios, também reverberou no material aprovado, com shows dos mais diferentes gêneros musicais, além de peças teatrais, aulas culturais e outras produções que totalizam 123 horas de conteúdo digital produzido pelos participantes.
Hugo pontua que na banda nem todo mundo tinha uma forma profissional de gravar as músicas em áudio, então foi improvisado para alguns, mas não faltou amor e carinho. “Sem câmera profissional, tudo com celular, mas como hoje as câmeras de celular são em HD, por isso não comprometeu o resultado. Sempre tem como ficar melhor, mas acredito que pelo retorno que tivemos e por ter passado pelo crivo do edital, ficou de muito bom gosto”, destacou.
O produtor conta que finalizou todo o áudio do especial musical em seu estúdio, mas o vídeo foi editado por um profissional do setor audiovisual, Deilson Magalhães, que recebeu todo o material sem precisar encontrar nenhum dos integrantes da banda. “Respeitando o distanciamento e isolamento social, ninguém se encontrou, e cada um do quinteto – além de mim, Lucas Espínola no vocal e guitarra, Tiago Vieira no baixo, Zylton Sena nos teclados e sintetizadores e Ian Antunes na bateria – fez sua parte da sua casa. Depois tudo foi enviado via transferência de arquivo na internet, e o Deilson, mesmo longe de todos fisicamente, teve uma grande felicidade na edição do material”, completou.
Para o vocalista da banda, o Dendicasa foi um edital super bem-vindo e salvou alguns boletos de integrantes da banda. “Recebemos na data agendada e sem maiores problemas. Ficamos bem felizes de sermos não apenas reconhecidos pelo nível do nosso trabalho artístico, que foi uma das prerrogativas, mas também de ser contemplado pelo edital e recompensado financeiramente por isso. Outra vantagem, é que esse material se perpetua, e até hoje somos muito elogiados em nossas redes sociais pelo musical “De Casa em Casa”, com 23 minutos de duração, daí o pessoal aproveita para matar a saudade da Sulamericana de forma online”, celebrou Lucas.
Confira o especial “De casa em casa”
Convocatória Arte em Rede
Mesmo com um propósito similar, a convocatória Arte em Rede não promovia especiais de média duração, e sim canções e clipes de artistas cearenses para criar essa rede que movimenta a arte autoral, promove a economia artística e cultural do Estado. Produzida no contexto de medidas de distanciamento social necessárias neste período de pandemia, a iniciativa contemplou a sustentabilidade do fazer artístico através de iniciativas também de artistas, grupos, coletivos, companhias e demais profissionais e empreendimentos culturais cearenses.
“Participar e ser aprovado em editais de cultura é uma experiência muito incrível, pois inclusive naquele momento nós tivemos de nos reinventar no campo das ideias. Sabemos que os editais são muitos concorridos, e todo mundo precisa ter esse acesso à política pública, por isso temos sempre que inovar. Assim tivemos a decisão de não fazer um show, espécie de live gravada, mas que o registro fosse um presente para os cearenses e o Ceará”, explicou a cantora Luiza Nobel.
Com 865 inscritos, a convocatória teve 165 projetos contemplados, que dividiram um recurso total de R$ 210 mil, com artistas distribuídos em 25 localidades diferentes (Fortaleza, Canindé, Nova Olinda, Cruz, Aquiraz, Cascavel, Quixadá, Pacatuba, Caucaia, Maracanaú, Juazeiro do Norte, Eusébio, Crato, Guaramiranga, Sobral, Tianguá, Tauá, Itaiçaba, Quixeramobim, Maranguape, Itapiúna, Itapipoca, Icó, Itapajé e Redenção).
Ainda sobre o produto feito e aprovado, a artista relembra que, na época, se notabilizou por fazer pequenas serenatas pela Capital cearense, e por isso decidiu fazer uma grande serenata em homenagem à Fortaleza. “Em período de confinamento, a gente estava só em casa mesmo, e, pensando nesse maior desejo de sair e estar junto do público de novo, e da saudade de passear pela cidade, eu pensei em fazer uma serenata para Fortaleza, e deixar esse presente e que ele fosse visto e revisto a qualquer momento como um aconchego. Fortalezenses como eu, e cearenses espalhados por aí possam matar a saudade da cidade, independente de onde estejam. A pandemia me afastou da cidade, mas nossa arte nos trouxe de volta para ela, mesmo virtualmente”, relembra.
Luiza finaliza a conversa enaltecendo seu fotógrafo e editor, Neto da Silva, que na sua visão, teve uma grande sensibilidade, da captação à montagem do vídeo. “A música tem espaço para brilhar entre as imagens, entre os nossos sentimentos, expressos no meu olhar, na minha voz, com o encontro da letra e acordes musicais numa cidade ensolarada e cheia de vida. E no Arte em Rede, acabamos por dividir o mote artístico com outros nossos, temos colegas que também passaram no edital e compõem um conjunto de artes nesse processo, que depois pôde ser visto por todos de forma online. Por isso é tão importante a existência dessas políticas públicas, e que cada vez mais todos tenham acesso, inclusive temos agora um edital de auxílio que só vem a somar nessa situação de pandemia”, finalizou a artista.