Pesquisadores da Funceme contam como preveem o tempo e estudam a natureza pela tecnologia dos satélites

30 de dezembro de 2021 - 16:51 # # # # # # #

Felipe Lima - Ascom Funceme - Texto
Tiago Stille - Ascom Casa Civil - Fotos Daniel Santos - Ascom Casa Civil - Vídeo


Raul Fritz e Manuel Freitas apresentam como é a rotina de trabalho diário no estudo das imagens captadas do espaço

Desde que os satélites artificiais surgiram na história da humanidade, a partir do lançamento do Sputink-1 pelos russos, em 4 de outubro de 1957, eles vêm sendo desenvolvidos e utilizados em uma ampla gama ao redor do mundo, dentre elas na Meteorologia. No Ceará, não é diferente. Hoje, as imagens fornecidas por satélites são instrumentos para análise do estado da atmosfera e também emissão de previsão de tempo. Os recursos constituem, portanto, uma ferramenta moderna, indispensável aos meteorologistas nas suas atividades diárias de análise e previsão do tempo.

“Muitos imaginam que os satélites meteorológicos possuem instrumentos como câmera GoPro aperfeiçoada para tirar fotos da nossa atmosfera. Mas, na realidade, eles carregam radiômetros, que são instrumentos eletrônicos especiais que observam determinados comprimentos de onda da radiação eletromagnética, por exemplo, a parte visível do espectro eletromagnético e aquilo que o olho humano está acostumado a ver para a acompanhar os sistemas meteorológicos atuantes, os tipos de nuvens que aparecem na atmosfera e que podem trazer chuva”, explica o meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Raul Fritz, que é autor do livro “Satélites Meteorológicos: Imagens, aplicações e curiosidades”.

As imagens fornecidas por satélites meteorológicos são de diversos tipos e variam com os canais espectrais usados pelos radiômetros. Elas estão na faixa do visível, que o olho humano está acostumado a ver, e também no infravermelho, que é aquela parte térmica de calor.

“Na parte do visível se assemelha ao que a gente vê. Com isso, nós conseguimos observar melhor as estruturas das nuvens, o seu formato, durante o dia com iluminação pelo sol… Porque, se está falando do visível, tem que haver reflexão da luz do sol para que a imagem se torne possível. Já o infravermelho é aquele que permite ver a parte de calor, a parte térmica, então a imagem se torna visível sem iluminação solar durante o período noturno. E uma complementa a outra”, diz Fritz.

O pesquisador da Funceme comenta ainda que é possível fazer realces nessas imagens, destacando certas particularidades importantes para o estudo das nuvens. No infravermelho, por exemplo, é possível realçar a temperatura dos topos das nuvens, pois sabendo o quão frios estão, pode-se ter uma ideia mais precisa se está havendo chuva ou não associada àquela nuvem observada na imagem do satélite.

“Então, existe uma ampla gama de aplicação das imagens fornecidas por satélites meteorológicos que auxilia sobremaneira um trabalho diário do meteorologista, à semelhança, por exemplo, no caso do médico, que, por muitas vezes, para fazer um diagnóstico de uma doença de um paciente, ele precisa observar imagens fornecidas por raio-x, por tomografia computadorizada. Então, à semelhança do que acontece na área da medicina, o meteorologista necessita da imagem de satélite que tem uma grande frequência temporal. Geralmente, são várias imagens disponíveis para ele para diagnosticar melhor o estado da atmosfera presente naquele momento, e assim, conseguir, a partir desse diagnóstico, fazer uma melhor previsão do que poderá acontecer proximamente, nas próximas horas ou dias. Portanto, tem uma importância fundamental, a utilização de malhas fornecidas por satélites meteorológicos, hoje em dia, no trabalho voltado à meteorologia operacional”, finaliza o meteorologista da Funceme.

Além do tempo

Erra quem pensa que os satélites são usados apenas na Meteorologia. Esta tecnologia também é destinada para estudos ambientais desde o início da década de 1970.

Hoje, existem satélites da União Europeia, da Administração Nacional do Espaço e da Aeronáutica (Nasa), da Ásia e também do Brasil. São diversos equipamentos que estão, não só distribuindo imagens de forma gratuita, como também sendo comercializadas.

“Para nós aqui (na área de Meio Ambiente da Funceme), precisamos de imagens que nos dê detalhes na superfície da terra. No caso, há um satélite americano que nos dá a visão de todo o Ceará. Agora, vamos supor que eu quero fazer um estudo para a Região Metropolitana de Fortaleza. Então, vou precisar de outro satélite que dê mais detalhes, porque para esse estudo eu vou precisar de informações mais detalhadas. Então, aqui nós temos um outro satélite chamado LANDSAT, ele está no espaço desde 1972. Hoje, nós temos o número 8, LANDSAT 8, utilizando essas imagens de forma totalmente gratuita para fazer diversos estudos. É um dos principais satélites utilizados no mundo para estudos ambientais. Além deste, há o europeu Sentinel, tem o 1, 2, 3, que também são utilizados de forma gratuita aqui na Funceme para fazer estudos ambientais”, explica o coordenador da área de Estudos Básicos da Funceme, Manuel Freitas.

Na área de Meio Ambiente da Funceme, as imagens de satélite são usadas para estudos de áreas irrigadas, monitoramento dos recursos hídricos, da cobertura e luz da terra, entre outros.

“Nós pegamos a imagem, geramos da alimentação de tons diferentes e, em seguida, nós fazemos mapeamentos, por exemplo. Então, são vários estudos, de vegetação, do risco de incêndios florestais, temperatura e umidade da vegetação. Aqui, são apenas alguns exemplos que hoje podemos dizer que os satélites são um dos principais produtos utilizados nos estudos ambientais não só aqui na Funceme, mas como também no mundo inteiro, acho que seria isso”, conclui Freitas.