Rodas de conversas nas escolas potencializam o protagonismo dos jovens e a prevenção às drogas

6 de abril de 2022 - 15:33 # # # # # # #

Camille Soares - Ascom SPS - Texto e Fotos

Projeto “Mais Papo, Mais Atitude” é coordenado pela Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos e contempla nove escolas de Fortaleza

A sala de aula se transforma em uma roda de conversa onde os estudantes podem expor suas opiniões e ouvir o que os colegas também têm a dizer. É assim que acontecem os encontros do Projeto “Mais Papo, Mais Atitude”, coordenado pela Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), através da Secretaria-Executiva de Políticas sobre Drogas. Atualmente, o projeto contempla nove escolas da Capital nos bairros Barra do Ceará, Pirambu, Vila Velha, Bom Jardim, Parque São José, Jardim das Oliveiras, Barroso e Granja Lisboa.

“As escolas são locais onde os estudantes estão formando ainda suas opiniões e se tornando cidadãos. A nossa atuação com o Projeto Mais Papo, Mais Atitude começa então a partir dai, dessa possibilidade de estabelecermos com eles um diálogo aberto, livre de preconceitos e julgamentos. Nas rodas de conversas estamos incentivando o exercício do senso crítico e da formação do caráter, que é crucial para que saibam lidar com os mais variados tipos de situação que venham ter que enfrentar”, lembra o secretário-executivo da Proteção Social da SPS, Francisco Ibiapina.

O psicólogo e coordenador do projeto, Lucas Ferreira, destaca que a ideia é atuar a partir da perspectiva da redução de danos e das políticas de prevenção às drogas. “Nós trabalhamos com a potencialização do protagonismo destes jovens que vivem em territórios onde a drogadição ainda é muito presente. Nossa ideia é ajudá-los a entender a si próprios e seu entorno nos debates de temas escolhidos por eles. A partir destes diálogos conseguimos abrir espaço para que eles exponham sem medos, frustrações, ansiedades e consigam através do grupo superar coletivamente suas dificuldades e estabelecer relações saudáveis ao longo da vida”, destaca o coordenador, que também ressalta que os encontros acontecem três vezes por semana em cada escola, tendo em vista que o projeto trabalha com três grupos distintos de até 20 alunos cada.

“Nós trabalhamos em parceria com algumas universidades que disponibilizam estudantes de psicologia para conduzirem os debates nas escolas em que atuamos. Atualmente, participam do projeto 16 psicólogos em formação que têm tanto o nosso acompanhamento semanal, quanto o de seus monitores na faculdade”, explica Lucas.

Na Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Poeta Patativa do Assaré, na Granja Lisboa o grupo de alunos é conduzido pelas estudantes de Psicologia, Rênia Patrício e Leilane Queiroz. “Antes de tudo nós realizamos uma escuta qualificada com os alunos e depois montamos os grupos que vamos trabalhar. No primeiro encontro definimos dez temas para discutirmos ao longo dos debates. Observamos sempre o feedback de cada turma para decidir qual abordagem da psicologia vamos utilizar e aos poucos vamos criando laços de confiança com eles”, conta Rênia Patrício.

Leilane Queiroz ressalta que alguns alunos se sentem tão confortáveis que buscam também uma conversa mais individualizada. “Muitos deles nos procuram para conversar sobre problemas que estão enfrentando em casa e esse desabafo acaba aliviando as tensões deles. Acredito que temos conseguido acessar a realidade deles, suas percepções de mundo, a partir dos debates, e estamos aos poucos, criando laços reais de confiança com as turmas inseridas no projeto”, pontua a estudante de Psicologia.

“Eu acredito que todo vício começa com um vazio, uma necessidade de afeto, carinho, ou mesmo financeira, e isso acaba se tornando algo maior que a própria força de vontade da pessoa de se recuperar” explica a aluna do 3° ano da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Poeta Patativa do Assaré, na Granja Lisboa, Júlia dos Santos (16). Bruno Lourenço (18), que também faz parte do projeto relata que dentro do grupo tem alunos ateus, evangélicos, católicos, e que está sendo um grande aprendizado debater com todos e aprender sobre a importância de respeitar a opinião alheia, mesmo quando esta é divergente da sua. “Quem acha que sabe de tudo, não sabe de nada, e isso é uma premissa que eu levo para minha vida. Está sendo muito bom participar desse grupo e poder escolher os assuntos que mais nos incomodam ou chamam atenção para debatermos juntos”, conta o estudante.

O diretor da escola, Messias Braga, lembra que o projeto tem tido tanto sucesso na proposta de engajar os alunos e facilitar a lida com problemas diversos, que alguns terminam o 3° ano e voltam à escola buscando participar dos debates e das conversas com as psicólogas. “Depois da pandemia, nós observamos que muitos alunos voltaram com ansiedade e outros transtornos, então, não pensei duas vezes antes de aderir ao projeto, e o que tenho percebido é uma melhoraria grande na saúde mental dos nossos alunos”, complementa Messias Braga.