Juntas somos mais fortes: “É uma soma de olhares unir-se a outras mulheres”, diz Maria Aparecida Façanha, secretaria executiva da Sesa

20 de março de 2023 - 16:26 # # # # #

Evelyn Barreto - Ascom Sesa - Texto e Foto

Paíta espera que seu legado maior seja o fortalecimento de uma gestão diversa, que tem o planejamento como norteador de resultados positivos

Ter exemplos de mulheres fortes ao longo da vida foi um importante fator para a trajetória de Maria Aparecida G. Rodrigues Façanha, a Paíta, como é carinhosamente chamada. O primeiro exemplo foi sua mãe, Djandira Fernandes Gomes Rodrigues, que, hoje, aos 92 anos, continua sendo presença e lembrete de resiliência para a titular da Secretaria Executiva de Planejamento e Gestão Interna (SEPGI), da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).

No início de 2023, o convite para encarar o desafio foi feito por uma mulher que, de acordo com a gestora, é uma de suas aliadas na vida profissional: Tânia Mara Silva Coelho, titular da pasta estadual.

Como resultado do seu trabalho, Paíta espera que seu legado maior seja o fortalecimento de uma gestão diversa, cujo planejamento é norteador de resultados positivos.

Nesta terceira entrevista da série Juntas somos mais fortes, conversamos com a servidora pública da Secretaria do Planejamento e Gestão do Ceará (Seplag) desde 1984 e mestranda em Avaliação de Políticas Públicas na Universidade Estadual do Ceará (Uece). Ela ainda soma experiências com elaboração e assessoramento do Plano Plurianual (PPA) em níveis estadual e municipal.

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Confira a entrevista:

Qual mulher é sua maior referência e por qual motivo?

Maria Aparecida Façanha (Paíta): É a minha mãe, pelo exemplo que foi e ainda é. Hoje com 92 anos, ela sempre foi uma mulher à frente do seu tempo. Grávida, encarou o desafio de fazer uma seleção pública para trabalhar no cartório da cidade em que morávamos – Guaraciaba do Norte, na região da Serra da Ibiapaba – e, ainda assim, nesse percurso, criou oito filhos, dos quais eu sou a quarta.

Para mim, ela é uma grande referência e me arrisco a afirmar que o que mais herdei dela foi a espiritualidade. Ela sempre foi religiosa, porém, mais do que isso, ela foi acolhedora e disposta a escutar. É engraçado relembrar porque, na adolescência, minhas amigas procuravam minha mãe para se aconselhar e eu sempre achei isso muito bacana. Ela é minha rainha.

Em sua trajetória profissional, estar aliada a outras mulheres fortaleceu seu percurso? Como?

Paíta: A herança mais rica que tenho é a educação. Vim para Fortaleza estudar e fazer faculdade de Economia, pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Naquele momento, tive que me virar. Cada vinda mensal da mamãe era uma festa para mim, porque ela sempre representou esse lembrete de resiliência e persistência.

Lá em casa, tivemos autonomia para escolher nossa carreira, nunca houve nenhuma pressão para fazermos curso A ou B. Logo, escolhi Economia porque eu tinha interesse em estudar a política, no ponto de vista do crescimento. E essa liberdade de escolha, posso dizer que norteou minhas relações e meu caminho, e minha mãe motivou essa autonomia.

Paíta e parte de sua equipe de coordenadoras. Da esquerda para a direita: Elessandra Silva (Gestão de Serviços Terceirizados); Carla Barroso (Planejamento e Gestão Orçamentária); e Ana Paula Berg (Gestão e Desenvolvimento de Pessoas)

Em sua trajetória profissional, estar aliada a outras mulheres fortaleceu seu percurso? Como?

Paíta: Eu sempre tive muitas amigas ao meu lado. Na faculdade, tive duas ou três como referência, a gente estudava e sonhava juntas. Mesmo no curso de Economia, no qual, naturalmente, havia menos mulheres, também tive homens ao meu lado que davam o mesmo incentivo. Mas é diferente, tive mulheres que eram referência para mim.

Uma economista que me ensinou a gostar de planejamento foi Neuma Ribeiro, profissional que ocupou muitos cargos importantes aqui em Fortaleza. Foi um exemplo de mulher para mim. Sempre busco olhar para mulheres como ela, porque há um sentimento de fé e solidariedade em comum. É uma soma de olhares unir-se a outras mulheres.

Você se lembra de algum momento marcante em que seu trabalho foi legitimado por outra mulher e isso otimizou o resultado?

Paíta: Não tenho dúvidas de que Tânia Maria Coelho, nossa secretária, foi providencial na minha carreira. Antes de assumir a SEPGI, a convite dela, eu não a conhecia. Certo dia, numa ligação, eu falei “ah, não, precisamos nos conhecer pessoalmente”, e isso mudou tudo.

Também me recordo de projetos de formação dos quais pude participar e que tiveram contribuições cruciais de outras mulheres. É claro que isso fortalece a iniciativa. Além de momentos mais relacionados à mobilização, porque a minha especialidade é em metodologias participativas e faz com que a gente sempre receba diversos convites para facilitar processos.

A Sesa tem, em sua maioria, um corpo de colaboradores composto por mulheres, especialmente em cargos de gestão. Que representatividade você almeja disseminar para elas?

Paíta: Sinto-me extremamente feliz e realizada quando chego à Sesa e vejo essas mulheres aqui, diariamente. Porque, antes de mais nada, temos o fato de realmente fortalecer essa questão da solidariedade entre as mulheres, do apoiar. Eu acho que existe um compromisso maior, uma expectativa de que o conhecimento precisa ser passado, a confiança e também o aprendizado.

“Sinto-me extremamente feliz e realizada quando chego à Sesa e vejo essas mulheres aqui, diariamente. Porque, antes de mais nada, temos o fato de realmente fortalecer essa questão da solidariedade entre as mulheres, do apoiar.”

Aqui eu faço muitas trocas, de aprender fazendo e ouvir, que é fundamental. Eu nunca fico muito nessa postura de distanciamento. Prefiro colaborar e acolher a ideia das outras. Tento passar confiança e competências não só técnicas, mas subjetivas, como priorizar o respeito e o ouvir, mirar em visões e exemplos de pessoas. Tem de ter o olho no olho. Eu me senti desafiada ao vir para cá e cheguei com muita vontade de ver e de fazer essa aposta. Ter mulheres nessa caminhada é ainda mais incentivador.

Hoje, temos diferentes legislações que fortalecem e protegem os direitos das mulheres. Em relação à Saúde da Mulher, que demandas precisamos estar atentas e sensíveis para garantir estes direitos?

Paíta: A questão da violência contra a mulher está sempre em pauta. Tem de estar na agenda pública, a violência não só física, mas psicológica. Como você garante o acesso à saúde, se, a todo momento, é vítima de um tratamento assim? A gente tem de dar as mãos para isso.

Do ponto de vista de outros atendimentos, como o pré-natal, acho que a política avança, mas a violência é terrivelmente inaceitável e um fator limitante no alcance.

Depois de quase 30 anos, temos novamente uma mulher à frente da Secretaria da Saúde e mais três executivas. Como você avalia esse protagonismo e a soma de esforços?

Paíta: Nada é por acaso. Eu avalio isso como uma mudança que está acontecendo. Acho que houve uma reação das mulheres para estudar, trabalhar, ir à luta, como é o nosso jeito de ser. Toda trajetória pode ser lenta, mas é profunda. De 1994 para cá, deve ter tido muitos motivos para hoje a gente estar com uma mulher na ponta e com várias outras por perto. Isso é uma conquista e uma reação positiva de nós mulheres. Acredito muito na lei do universo. Há um conspirar positivo.

Você pensa em deixar um legado na sua gestão? Qual?

Paíta: Quero mostrar que é possível fazer gestão na Sesa se dermos as mãos, se trabalharmos com foco. Todos sabemos que a Saúde tem o maior orçamento do Estado, mas não é fácil. Se a gente conseguir se organizar internamente, com maestria e valores, compromissos com o cidadão, com respeito e ética, acho que vamos fazer a diferença.

Eu digo que não dá para ser feliz sozinho. O meu propósito é aproximar o discurso da prática. Para planejar o ato de governar, precisamos de diversas mãos. Precisamos caminhar juntas.