Saúde mental: equipamentos sociais acolhem jovens e adultos através da escuta qualificada

25 de setembro de 2023 - 15:27 # # #

Sheyla Castelo Branco- Ascom SPS - Texto
Beatriz Souza - Ascom SPS - Fotos

“Hoje não deu certo, mas amanhã vai dar”, “Eu sou capaz”, “Não preciso ser forte o tempo todo”, são frases ditas por mulheres que fazem parte das rodas de conversas que acontecem, quinzenalmente, no Complexo Social Mais Infância do Curió, em Messejana. Nos encontros, elas falam sobre seus medos, angústias e também superações.

Cuidar da saúde mental ainda é um privilégio de poucos e para aproximar este tema e os cuidados com o estresse, frustração, ansiedade, depressão e diversos outros transtornos psicológicos que alcançam boa parte da população, a Secretaria da Proteção Social (SPS), através dos seus equipamentos sociais, vem realizando rodas de conversas multigeracionais e ofertando uma escuta qualificada para as pessoas atendidas nos Complexos Sociais Mais Infância, Centros Comunitários, ABC’s e Circos-escola.

Daiane Rodrigues, 31 anos, é uma das mães atendidas no Complexo do Curió que também participa das rodas de conversas. Ela é surfista, modelo, palestrante e dançarina. Sua história não é simples, pelo contrário, carrega muita superação. Daiane chega acompanhada do filho, João Pedro, de oito anos, que faz aulas de karatê no espaço. A roda de conversa inicia descontraída e um tempo depois vêm os desabafos coletivos, com muita cumplicidade entre o grupo.

Daiane frequenta o espaço há alguns meses e conta que o Complexo do Curió tem sido uma base importante para ela. “Eu crio meu filho sozinha e muitas vezes bate o cansaço. Tenho que lidar não só com as necessidades dele, mas também com as minhas. É muito precioso pra gente ter um espaço como esse, onde podemos deixar nossos filhos sem nenhum receio e também podemos desabafar com outras mulheres e com as assistentes sociais que acompanham o grupo. Foi muito bom compartilhar com as outras mães a minha história e de algum modo poder inspirá-las”, reflete Daiane, que passou por um trauma que mudou sua trajetória de vida.

Em 2015, dias depois do parto do filho mais novo, o João Pedro, 8 anos, ela descobriu uma infecção generalizada e precisou amputar as duas pernas e dois dedos da mão direita. “Após a cirurgia fui voltando e, aos poucos, entendendo tudo que tinha acontecido comigo. Naquele momento da minha vida não conseguia mais me conectar com nada, nem com ninguém. Entrei em uma profunda depressão. Fiz tudo que precisava para reabilitar meu corpo, mas minha cabeça ainda estava a mil e nada mais fazia sentido”, conta Daiane, que hoje cuida sozinha do João Pedro e só conseguiu se curar e contar sua história para inspirar outras pessoas depois que se reconectou consigo mesma através do esporte e do cuidado com sua saúde mental. Atualmente, Daiane faz palestras em órgão públicos, escolas e também é embaixadora dos projetos Felipe Amar é Vida (Escola e Surf adaptado); Método Rap (Reabilitação Ativa com Prótese) e da Associação Elos da Vida.

“É importante lembrar que saúde mental precede direitos básicos, como alimentação, educação, direito ao lazer. Nas periferias essas questões ainda são um desafio e os equipamentos sociais da SPS vêm atuando para que mulheres como a Daiane possam diminuir sua carga de tarefas e ter um lugar onde possam desabafar sobre suas dores, ansiedades e medos”, destaca a titular da SPS, Onélia Santana.

“Esse lugar é um refúgio para nós”

Na outra ponta da cidade, no Conjunto Palmeiras, jovens beneficiários do ABC conversam sobre bullying e quais as ferramentas para lidar com isto. As rodas de conversas acontecem duas vezes por semana e contemplam, separadamente, grupos de crianças, de 5 a 11 anos e adolescentes, de 12 a 17 anos.

João Eduardo, 17 anos, frequenta o ABC e o Circo Escola do Palmeiras desde os 6 anos de idade e conta que o espaço é um refúgio para ele. “Quando eu entro aqui, consigo deixar meus problemas do lado de fora e saio sempre mais leve. Não é que meus problemas sumiram, mas nas rodas de conversas eu aprendo a resolvê-los, a lidar melhor com eles. A gente vai criando intimidade e confiança com o grupo que fazemos parte, e isso é o que mais me fortalece atualmente”, explica João Eduardo.

Johnny Uchoa, 17 anos, faz parte do mesmo grupo de adolescentes que João Eduardo e conta que na pandemia teve uma profunda depressão acompanhada de um quadro de ansiedade. “Foi terrível enfrentar uma depressão em um momento de pandemia, me senti muito solitário e lembro que naquele momento eu só queria vir pro Circo e participar de algumas das nossas rodas de conversas, ver meus amigos”, desabafa o jovem.

Johnny só conseguiu se restabelecer quando voltou a participar das atividades do equipamento e das rodas de conversas do Grupo de Participação e Desenvolvimento Humano (GPDH). “Hoje eu me sinto mais forte, tenho com quem conversar sobre minhas dificuldades. Em casa, não consigo ainda me comunicar bem com meus pais, mas aqui eu me sinto confortável, sinto que as pessoas me escutam de verdade”, reforça.

Eliana Sousa é arte-educadora e acompanha os adolescentes nas rodas de conversas e nas atividades circenses. “Eles me relatam que aqui é a terapia deles, que os encontros têm fortalecido suas fragilidades. Essas conversas são terapêuticas para eles e pra nós, profissionais. Somos todos da periferia e nos identificamos em diversos pontos. Sempre que ouvimos o relato dos adolescentes, tentamos trazer um conforto em forma de palavras e damos o suporte necessário para que eles vençam aquela situação ou o transtorno que estejam enfrentando. São conversas muitas vezes dolorosas, choramos juntos e nos curamos juntos”, desabafa Eliane.

Neste mês de setembro, a SPS está realizando em seus equipamentos, diversas programações voltadas para o tema da saúde mental, dentre caminhadas, palestras e rodas de conversas com grupos de idosos, adultos, crianças e adolescentes.