Programa Lagosta Viva prevê aumento da exportação da lagosta inteira, ao mesmo tempo que preserva espécie

30 de setembro de 2019 - 11:11 # # # #

Moema Soares - Texto
Tiago Stille e Marcos Studart - Fotos

Matéria especial produzida pelo Governo do Ceará – com foco em um Ceará Inovador, Competitivo e Sustentável – mostra que o Ceará da pesca lidera exportações brasileiras e vende lagosta para o exigente mercado japonês e até para a Austrália, país que é o maior produtor de lagosta do mundo

Em 30 anos de pesca de lagosta, apenas nos últimos quatro Raimundo José (45) compreendeu que capturar o animal no tamanho legalizado, na profundidade em alto mar correta e especialmente que trazer ela viva, vai garantir a preservação da espécie, ao mesmo tempo que renderá muito mais lucro para ele e o sustento da família. O pescador faz parte do Programa Lagosta Viva, uma parceria do Governo do Ceará, através da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), com a iniciativa privada, e que tem como resultado a crescente exportação de pescado. O Ceará que pesca compete com grandes produtores internacionais e este ano de 2019 é líder no Brasil, em faturamento, na exportação de pescados – peixes e crustáceos, de acordo com dados do Ministério da Economia.

A pesca no Ceará vem crescendo acentuadamente desde o final de 2017. E somente de janeiro a agosto deste 2019, o Ceará exportou mais de seis mil toneladas, com faturamento de mais de US$ 47,1 milhões, um crescimento de 199% em relação ao mesmo período do ano passado. Com isso, ultrapassamos os estados do Pará, que no mesmo período exportou US$ 36,4 milhões, e Santa Catarina, com US$ 16,1 milhões. O destaque foi para a exportação de lagosta, que chegou ao montante de US$ 29 milhões em exportação no período e responsável por 61,52% do pescado exportado no Estado.

Uma das razões para esse crescimento é o programa Lagosta Viva. Enquanto o quilo da cauda é vendido a US$ 41,88 no mercado internacional, o quilo da lagosta inteira custa US$ 63,00. Esses valores refletem também na hora de pagar ao pescador. Seu Raimundo José já compreendeu bem isso e nos últimos anos só trabalha com lagosta viva, para vendê-la inteira às empresas de exportação. “Agora eu só trabalho com ela viva. A gente fica no máximo oito dias no mar, mantendo as capturadas vivas em espaços com água e comida. Achei melhor porque tá rendendo mais dinheirinho pra gente”, comenta o pescador, que garante só capturar o animal adulto. “A gente tem consciência que pra garantir a pesca por muitos e muitos anos, só pode capturar o animal adulto, pra nunca faltar”, diz consciente.

Como Seu Raimundo José, outros pescadores estão sendo conscientizados. Muitos ainda preferem ficar mais tempo no mar e trazer maior quantidade do pescado. Para ficar até 20 dias em alto mar, eles aproveitam apenas a cauda, conservada em gelo. “O programa Lagosta Viva prevê exatamente essa conscientização do pescador de que ele vai faturar melhor trazendo a lagosta viva, que tem maior valor agregado. Então ele reduz a quantidade capturada, mas aumenta a renda”, explica Pedro Henrique Martins Lopes, coordenador da Pesca e Aquicultura da Sedet.

Este ano foram exportadas 4,5 mil toneladas de lagosta, sendo 85% da exportação em cauda. O programa Lagosta Viva prevê um aumento da exportação da lagosta inteira de 1,5 mil toneladas em 2018 para 4 mil toneladas em 2023, uma previsão do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Para assegurar ainda mais a sustentabilidade da pesca, a Sedet está promovendo ações de capacitação em qualidade do pescado, treinamento dos pescadores em parceria com a Capitania dos Portos e o monitoramento da pesca nos principais municípios, como Camocim, Acaraú, Aracati, Beberibe, Icapuí e Fortaleza.

O empresário do ramo Paulo Gonçalves, vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (Sindfrios), explica que a conscientização também é no combate a pesca predatória. “Desde 2008 nenhum país no mundo recebe lagosta de tamanho ilegal. Começou nos Estados Unidos e agora é em todo mundo. A lagosta que é produzida, pescada e exportada é lagosta de tamanho legal, pescada de forma legal. Pra receber uma lagosta aqui na empresa, o barco me traz a licença, tiro nota fiscal no nome do dono do barco, com número da licença, ou seja, existe hoje toda uma rastreabilidade que dá segurança a legalidade do produto que as empresas trabalham, não só as de exportação, como as empresas de comércio local”, garante.

250 mil empregos

A indústria de pescado gera 250 mil empregos, entre diretos e indiretos, segundo o empresário Paulo Gonçalves. Para garantir o fortalecimento e crescimento do setor, é preciso investir também na conservação das espécies. “Hoje exportamos para o mercado mais exigente, que é o japonês, e também para Taiwan, Singapura, China, Hong Kong, Coreia do Sul. Vendemos lagosta no maior produtor de lagosta do mundo, que é Austrália. Para tudo isso, precisamos garantir a preservação da espécie, e a qualidade desse pescado”, garante.

Boa parte do pescado produzido no Ceará é exportada através do Porto do Pecém, no litoral oeste do Ceará. De janeiro a agosto de 2019 foram 8.739 toneladas de peixes e frutos do mar. Esse número é 15% maior em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram exportadas 7.589 toneladas de pescado.

“Toda essa produção chega ao Pecém devidamente acondicionada, inclusive em contêineres refrigerados. Também dispomos de câmaras frias para eventual fiscalização dos órgãos anuentes. E quando esse pescado é enviado para outros países, precisa ainda passar pelo nosso scanner. Ou seja, temos todo um cuidado para garantir as boas condições da carga”, explica Waldir Sampaio, diretor Executivo de Operações do Complexo Industrial e Portuário do Pecém.

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