Outubro Rosa: Saúde das mulheres lésbicas ainda é tabu na prevenção à doença

14 de outubro de 2020 - 17:04 # # # # # # #

Camille Soares - Ascom SPS - Texto
Arquivo Pessoal - Foto

No mês da conscientização sobre o câncer de mama, há públicos que ainda sofrem com o preconceito e a falta de informação. As mulheres lésbicas são um desses públicos que enfrenta dificuldades no combate à doença. O câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres, correspondendo a cerca de 25% dos casos novos de câncer a cada ano. Os dados são do Ministério da Saúde.

Na Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos, a avaliação da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para LGBT, é de que esses dados evidenciam que o corpo da mulher ainda é um tabu social. A jornalista, professora e ativista lésbica Lana Nóbrega fala sobre os tabus que ainda existem em torno da sexualidade feminina e a falta de preparo dos profissionais da saúde ao atender mulheres lésbicas.

“Nossos corpos ainda são vistos a partir de uma lente sexual heteronormativa. Ainda há muito despreparo dos profissionais da saúde, e isso se agrava neste cenário em que o preconceito tem sido referendado por autoridades públicas do nosso país. Eu, enquanto mulher lésbica, ouvi da ginecologista que estava me atendendo que eu não tinha vida sexual ativa por me relacionar com outra mulher, e isso é muito comum. Escuto muitos relatos de outras mulheres lésbicas que passam por situações extremamente constrangedoras nos atendimentos de saúde”, conta Lana Nóbrega.

A professora ainda lembra: “A invisibilidade da mulher lésbica ocorre porque vivemos em uma sociedade que não nos acolhe, que não nos dar lugar para existir dentro de nossas subjetividades. São muitas questões que perpassam nossas existências e que refletem essa baixa procura das mulheres lésbicas pelos serviços de saúde, pois acabam por nos excluir e constranger dentro de um serviço que deve nos acolher”.

Para a titular da SPS, Socorro França, inclusão é um tema primordial na SPS e que deve ser pensada de forma a abarcar todos os direitos. “É inadmissível que, ainda hoje, pessoas adoeçam pela vergonha de procurar os serviços de saúde assumindo quem são. Precisamos humanizar os atendimentos oferecidos e fortalecer uma rede de apoio para que as pessoas se sintam apoiadas, fortalecidas a buscar seus direitos”, observa.

A articuladora técnica da Coordenadoria de Políticas Públicas para LGBT, Lucivânia Sousa, destaca que uma das ações da campanha Ceará de Todxs é trabalhar a humanização do atendimento, nos mais diversos serviços. “Estamos tentando chegar o mais longe possível, difundindo informações, conscientizando e sensibilizando agentes e servidores públicos e a sociedade como um todo por meio de capacitações e rodas de conversas”, aponta.

A secretária-executiva de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Lia Gomes, explica que a campanha é uma ferramenta indispensável nesse processo de enfrentamento da lesbofobia e bifobia ainda existentes nos mais variados espaços da nossa sociedade. “A defesa dos direitos de pessoas LGBT é cada dia mais urgente, vivemos um tempo de disputas de narrativas e é preciso estarmos atentos na defesa destes direitos e na luta diária para que mulheres lésbicas, mulheres travestis e pessoas trans tenham acesso de fato aos serviços públicos de saúde”, destaca Lia Gomes.

Dados recentes indicaram que mais de 40% das mulheres que têm relações sexuais com outras mulheres (exclusivamente ou não) nunca realizaram um exame para detecção de câncer de colo uterino, e que cerca de 60% delas acredita que não transmite ou adquire IST (infecções sexualmente transmissíveis). Esses dados mostram o quanto a saúde das mulheres lésbicas ainda é negligenciada e o quanto é necessário criar espaços de diálogo e formar profissionais preparados para atendê-las.

“É necessário romper essas  barreiras nesses ambientes ainda tão heterocisnormativos e assim possibilitar que todos os corpos e corpas tenham acesso a saúde integral tendo suas especificidades acolhidas e respeitadas”, complementa Lucivania Sousa.