Mês da Mulher: trajetória de luta e amor à culinária resulta na realização de sonhos

8 de março de 2021 - 15:47 # # # # #

Bruno Mota - Ascom Seduc - Texto

Uma das maiores satisfações de Francisca Vieira Mota, de 61 anos, é receber um elogio por algum prato que tenha preparado. Quando um de seus “meninos” chega até ela e diz: “Tia, hoje a comida estava maravilhosa, a senhora se superou”, o sentimento imediato é de realização. “Tia Fransquinha”, como é conhecida, é merendeira na Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Maria Thomásia, em Fortaleza, desde 2012.

Nascida em Pentecoste-CE, Fransquinha vive em Fortaleza desde os 20 anos, para onde veio em busca de melhores condições de vida. Na capital cearense, conseguiu, com muito suor, garantir o próprio sustento e o dos quatro filhos trabalhando como empregada doméstica e também como zeladora. “Minha trajetória é de muita luta e superação. Criei meus filhos sem a presença do pai, mas graças a Deus venho conseguindo. Já tenho uma filha formada, que é funcionária pública, e os outros três também já estão com a vida feita, trabalhando em grandes empresas”, revela.

Tia Fransquinha confessa estar ansiosa para reencontrar os jovens no ambiente escolar, após a superação da pandemia de Covid-19. “Gostaria de estar trabalhando todos os dias, fazendo o que eu tanto gosto, que é preparar comida pros meus meninos. É uma satisfação tão grande encontrá-los na escola, ouvir eles perguntando o que vai ser a merenda e o almoço!”, conta.

“Para mim, o melhor lugar depois da minha casa é onde eu trabalho. Moro próximo à escola e sempre me encontro com eles. Quando pergunto se está tudo bem, eles dizem que sim, mas que estão sentindo falta da escola e, principalmente, da minha comida”, brinca Fransquinha.

Dedicação

A relação entre a merendeira e os alunos da EEMTI Maria Thomásia, entretanto, ultrapassa a questão de preparar alimentos saborosos e saudáveis. Da convivência, nasce espontaneamente uma afeição recíproca, que se estende para além do tempo de permanência dos estudantes na escola.

“A gente considera como filho. Trato todos bem, aconselho, e vejo que isso faz a diferença na vida deles. Depois que saem da escola, muitos vêm me dizer que não esqueceram do que eu disse e me agradecem. Até meu aniversário já foi comemorado junto com eles. Espero que logo, logo, a nossa vida volte ao normal. Estou com muita saudade dos abraços deles!”, anseia.

Realização

Para alcançar a plena satisfação no desempenho da profissão, assim como para obter a resposta positiva constante da parte dos alunos, Fransquinha ensina que é preciso ter amor pelo que se faz. “Pra gente fazer merenda, primeiramente, é preciso gostar. Ninguém faz comida boa sem gostar de fazer. Quando volto pra casa do trabalho, já fico pensando no que vou preparar no dia seguinte. Às vezes, faço receitas que os meninos nem conhecem, e a reação deles é muito boa”, observa.

Fransquinha aprendeu a cozinhar ainda no tempo em que trabalhava como empregada doméstica. Mas, o gosto pela culinária ganhou força mesmo quando ela passou a fazer parte de uma comunidade religiosa, que organizava, com certa frequência, almoços e jantares para grandes quantidades de pessoas. Naquele meio, passou a receber dicas de cozinheiras mais experientes, fazendo surgir uma forte identificação com o ofício.

Daquele momento em diante, Fransquinha tratou de fazer cursos e buscar os todos os meios possíveis para aprimorar suas técnicas. “Hoje, também faço bolos, chocolates e outras especialidades na área de culinária. E ainda tenho sonhos. Quando passar tudo isso que estamos vivendo, quero me programar para um dia montar o meu buffet”, projeta.

Incentivo

Com a intenção de inspirar outras meninas e mulheres a também se destacarem, nos mais diversos meios, Fransquinha lembra da própria trajetória, e defende a necessidade de cada uma acreditar no próprio potencial.

“A gente deve sonhar, mas sonhar mesmo. E realizar, com força e coragem, sem nunca desistir. Não vai ser fácil, mas nada é impossível. Eu busquei, trabalhei, lutei, e hoje já realizei alguns sonhos. Mas, tenho outros e sei que conseguirei realizá-los. A mulher não é sexo frágil, é uma guerreira. E quando nos juntamos, ficamos mais fortes ainda. Não é fácil criar sozinha quatro filhos, mas eu corri atrás, e hoje posso dizer que estou realizada como profissional e mulher”, finaliza.