Com vida dedicada à democracia, Eudoro Santana recebe Medalha da Abolição

16 de maio de 2023 - 14:18

Larissa Falcão - Ascom Casa Civil - Texto
Helene Santos e Cival Júnior - Fotos

Solenidade de entrega será realizada no dia 19 de maio, no Palácio da Abolição, em Fortaleza

Com uma sólida carreira política dedicada a defender ideais e pensar soluções para uma sociedade mais justa e participativa, Eudoro Santana, um dos quatro homenageados com a Medalha da Abolição 2023, afirma que o fortalecimento da democracia no Brasil é sempre encorajador e rejuvenescedor. “Sou feliz de ter dado contribuição [ao Ceará]. Espero poder ter energia para continuar dando contribuição para o meu estado e meu país. Agora, eu rejuvenesci porque saímos do desastre que o país estava vivendo [nos últimos quatro anos]. É muito grande a tarefa de reconstruir o Brasil na expectativa de ser um Brasil mais justo, mais solidário e mais igual”, destaca Eudoro.

Nascido em 1936 na cidade de Quixeramobim, no Sertão Central cearense, Eudoro Santana foi o filho primogênito do casal Walter Batista de Santana e Maria do Rosário de Albuquerque Santana. Formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará (UFC), especialista em Equipamentos de Petróleo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e funcionário público da Petrobras, Eudoro Santana também foi eleito deputado estadual quatro vezes e ocupou cargos federais e estaduais na administração pública. O homenageado é casado com a assistente social Ermengarda Maria de Amorim Sobreira e pai de quatro filhos: Tiago, Camilo, Andréa e Isabel.

“É uma grande emoção. Embora tenha recebido outras homenagens, o fato é que a Medalha da Abolição tem um significado especial. Isso me orgulha muito e me dá mais responsabilidade para continuar trabalhando. Eu sei que é difícil escolher alguém na sociedade. Tanta gente que colabora fazendo poesia, cinema, teatro, política. Eu dediquei 60 anos da minha vida a trabalhar pelo meu estado”, agradece.

Espírito democrático

A vocação para a liderança, iniciada na Juventude Universitária Católica, e o espírito público se fortaleceram ao longo do curso de Engenharia, em Fortaleza, e também no engajamento dentro do movimento estudantil na década de 1960. Eudoro foi vice-presidente da União Estadual dos Estudantes, orador do Centro Acadêmico da Escola de Engenharia da UFC e presidente do Diretório Central dos Estudantes da UFC.

“Eu digo que tenho 60 anos [de vida pública], mas posso dizer que foi mais. Aos 19 anos fui presidente do DCE da Universidade, levando a semente da Universidade para o Cariri, com a primeira faculdade. Ajudei na greve em que praticamente fechamos a Universidade. Uma luta para que os estudantes participassem da direção da Universidade. Isso evoluiu. No primeiro momento, ganhamos lugar no Conselho [Universitário] e eu fui eleito para ser o primeiro a representar os estudantes quando o reitor era o Martins Filho. Isso teve desgaste, perdi a oportunidade de fazer estágio nos Estados Unidos. Às vezes, as contribuições não podem ser medidas”, pondera.

Além do engajamento, o jovem engenheiro mantinha o sonho de ser funcionário da empresa estatal de petróleo criada em 1953, a Petrobras. “Eu sempre sonhei em trabalhar na Petrobras, até porque lutei jovem pela criação dela, porque achava, e continuo achando, que ela é uma das coisas mais importantes para o Brasil. [Em Salvador] Lembro que tinha o restaurante dos engenheiros, o hotel era só para engenheiros, e embaixo tinha o restaurante popular para os operários. Mas eu passei a fazer refeição no restaurante dos trabalhadores, porque era uma oportunidade para conversar e fazer política”, recorda.

A subversão, segundo ele, não foi muito bem vista e Eudoro passou a ser perseguido na empresa, o que resultou em sua demissão e retorno ao Ceará. Fora da Petrobras, o engenheiro, morando e trabalhando em uma empresa de cerâmica no Cariri cearense, ainda sofreu a repressão do regime militar, sendo sequestrado e levado para Recife em 1974, onde foi preso e torturado e, um mês depois, retornou à família. Na década de 1980, no processo de redemocratização do Brasil, ele foi anistiado e reintegrado ao quadro de funcionários da Petrobras.

“Apareceu o projeto Asimow, que era uma relação entre a Universidade da Califórnia e a Universidade Federal do Ceará, e eu fui convidado para ajudar a administrar uma empresa de cerâmica no Cariri. Uma coisa interessante é que a minha ligação com a terra, embora eu não seja agrônomo, sempre esteve presente. Esteve presente quando eu fui para a Petrobras e para [o setor de] cerâmica. Presente quando optei pela reforma agrária e o Incra, quando estive à frente da Agricultura conhecendo as problemáticas do campo e da seca, e também no Dnocs. Hoje, faço uma reflexão de que essas foram experiências importantes”, considera.

À luz da democracia

As experiências adquiridas ao longo da trajetória deram a Eudoro Santana uma visão ampliada para encontrar saídas e traçar estratégias para tentar melhorar a realidade das famílias mais vulneráveis e dos trabalhadores do semi-árido. Na administração pública, foi diretor-geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) durante oito anos; diretor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Ceará; e secretário de Agricultura e Reforma Agrária do Estado do Ceará.

“A minha preocupação sempre foi trabalhar as realidades da nossa região [Nordeste]. Esse foi o grande eixo do meu trabalho ao longo da minha vida pública. A agricultura no Nordeste sempre foi muito fragilizada em razão dos problemas climáticos. Mas [defendi] uma agricultura que fosse voltada para o pequeno agricultor, com tecnologias e buscar condições para conviver com a realidade nossa, que tem déficit de água, além de dar condições para produzir”, reforça.

Durante os quatro mandatos de deputado na Assembleia Legislativa, além do trabalho relacionado à reforma agrária e segurança hídrica, Eudoro também se preocupou em estudar profundamente o planejamento e orçamento público.

“No Parlamento, observei que não havia um planejamento para uma sociedade pensada a longo prazo. E, desde a eleição do governador Tasso Jereissati, comecei a trabalhar o plano de governo com uma visão mais ampla e de longo prazo. Hoje, é nítido que não se pode pensar um governo só em um período, tem que pensar em projeto [de Estado]. O governo é um pedaço de uma história de qualquer território, então, ele precisa cumprir sua responsabilidade, e preparar para outros que possam vir”, sublinha.

Ainda no Legislativo cearense, Eudoro assumiu a presidência do Instituto de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Ceará (Inesp) e foi secretário-executivo do Conselho de Altos Estudos da Assembleia Legislativa, onde manteve constante diálogo com a sociedade.

A expertise em dialogar e planejar também foi a matéria-prima de quando, recentemente, exerceu o cargo de superintendente do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), conduzindo a elaboração do planejamento estratégico para a Capital. O Plano Fortaleza 2040, que foi entregue em 2016, inspirou o Ceará 2050. Eudoro Santana também atuou no planejamento de campanhas políticas e transições governamentais.

Com a mente sempre atenta às questões do presente e às possibilidades do futuro, Eudoro defende que investir no desenvolvimento social e no potencial humano é sempre a melhor escolha para enfrentar as desigualdades e melhorar a vida no campo e nas cidades. “Eu acho que enquanto não se trabalhar isso a desigualdade no mundo, não só no Brasil, continua na medida em que o mundo tem crescido em conhecimento e tecnologia, que deveriam ajudar”, observa.

Para ele, o Ceará avançou muito nos últimos 20 anos, dando um salto qualitativo, com destaque para a continuidade das políticas públicas, o apoio à reforma agrária, o Porto do Pecém e o investimento em conhecimento, tecnologia e infraestrutura na área de Recursos Hídricos. Contudo, há um desafio perene: a convivência com escassez ou abundância de água no semiárido.

“Nós não podemos só esperar pela chuva. Temos que criar outras alternativas de água. Do reuso à cultura, com capacitação ainda na infância sobre a importância [dos recursos hídricos]. O que o mundo hoje faz é recuperar sua capacidade de produzir água. Ou seja, recuperar as bacias e reflorestar as nascentes, para criar água. Para mim, essa recuperação com o saneamento do semiárido é um grande desafio e o projeto do futuro”, conclui Eudoro Santana.

Medalha da Abolição

A comenda, instituída em 1963, é concedida pelo Governo do Estado em reconhecimento ao trabalho relevante de brasileiros para o Ceará e o Brasil. A solenidade de entrega será realizada no dia 19 de maio, no Palácio da Abolição, sede do Executivo Estadual.