“Passado, Presente e Futuro”: a trajetória dos sonhos de futuros profissionais da Segurança Pública

15 de janeiro de 2024 - 08:34 # # # # #

Ascom Aesp/CE - Texto e Fotos

O plano Real tinha somente quatro anos. Na Copa do Mundo, o francês Zinedine Zidane mostrava ao Brasil que a hegemonia do esporte mais popular do mundo poderia mudar de mãos. E, no Ceará, um período sem chuvas entrava para a história como uma das secas mais severas. O ano de 1998 era de transformações em todo o mundo, assim como no município de Milhã, a pouco mais de 300 quilômetros de Fortaleza.

Zona rural. Sem fornecimento de energia elétrica, o sítio dependia do Sol e da Lua para iluminar lares e olhares. Havia uma criança de sete anos, filha de agricultores, que caminhava cinco quilômetros para chegar à escola. A andança foi substituída por pedaladas na bicicleta que ganhara do pai, comprada com muito sacrifício, de modo a melhorar a rotina da filha.

A menina cresceu. Hoje, em Fortaleza, caminha pelos corredores da Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp/CE). Com orgulho, veste o fardamento do Curso de Formação para Inspetores e Escrivães da Polícia Civil do Ceará (PC-CE). A conquista foi fruto de uma vida baseada na educação.

O segundo episódio do quadro “Passado, Presente e Futuro” conta a história da aluna Arminda Paz Lima Neta, do Grupo 03 da Turma 2/2021 do Curso de Formação de Escrivães e Inspetores da Polícia Civil do Estado do Ceará. Trata-se de uma história de inspiração e transformação através do estudo.

Passado

Uma infância feliz. É como Arminda descreve, emocionada, os anos iniciais de sua vida. Filha de um casal de agricultores, é a mais velha dos três irmãos. Cresceu no sítio da família, cujo principal fonte de renda era a agricultura. “A gente era realmente muito unido, meus pais eram agricultores, nossa principal atividade era a agricultura familiar. Claro que os filhos se envolvem, ajudávamos meu pai a plantar milho e feijão. Para mim e para minha irmã, era na verdade, uma diversão. É tanto que nada disso é pesado para mim; na verdade, são minhas melhores lembranças”, conta a aluna.

A falta de eletricidade na região em que morava foi um dos percalços que Arminda encontrou pelo caminho. Ela aponta como era esse período e as facilidades que vieram junto à chegada da energia. “A gente estudava e morava em um local sem energia elétrica. À noite, geralmente quando tinha a lua cheia, a gente ia pra casa dos vizinhos porque ficava mais claro, era o período que a gente saía à noite. Também tinha lanterna, mas era pilha. Então, cessou a pilha, cessou a luz. A água da gente era água de pote, a nossa fonte de água era o açude, a gente pegava com jumento e abastecia. Quando a gente não estava estudando, a gente tinha algumas responsabilidades, como buscar água, essas coisas. Nós, como uma família, contribuímos de acordo com aquilo que a gente conseguia fazer. A gente ajudava nessa parte. Principalmente a botar água para casa. Ir lá com jumento, ancoreta, encher, trazer, tirar. No fim de 2002 para início de 2003, foi que chegou a energia elétrica lá. Foi uma alegria muito grande para a gente. Primeiro, descobrir as facilidades que tem, como, por exemplo, ter água gelada; enfim, luz elétrica, televisão”, conta a futura inspetora.

Apesar das responsabilidades coletivas da família, os pais sempre a incentivaram buscar uma melhoria de vida por meio dos estudos. E essa era a principal meta dela e dos irmãos. “Embora meus pais fossem agricultores, eles sempre diziam que nossa principal responsabilidade era estudar, eles não queriam que ficássemos limitados àquela realidade, eles tinham visão. E nós éramos cobrados por isso. A minha mãe trabalhava também como auxiliar de serviços gerais em uma escolinha. Eu ia para essa escolinha que a minha mãe trabalhava, mesmo sem estar matriculada, para aprender e já ter uma base. Quando eu cheguei para ser matriculada, eu já sabia quase ler; então, eles não me colocaram na alfabetização, já colocaram a primeira série, a minha primeira matrícula já foi primeira série, tanto é que eu terminei o ensino médio com 16 anos. Foi quando eu passei no vestibular e entrei na faculdade, a minha matrícula da faculdade foi com 16 anos. A escola ficava a cinco quilômetros de distância. Nessa época, nós não tínhamos transporte escolar, a gente ia a pé ou de bicicleta. E eu lembro assim, eu muito novinha, meu pai, a primeira coisa que ele fez foi comprar uma bicicleta, porque não tinha como me deixar. Ele acordava 3 horas da manhã pra ir pra roça”.

Já no ensino médio mudou-se para Quixeramobim, onde morou com as tias, para ter oportunidade de estudar em uma cidade maior. Fez vestibular para Direito. Durante o curso, passou em estágios do Tribunal de Justiça, da Justiça Federal e do Ministério Público. E foi durante a faculdade que conheceu seu marido. Em 2019 ficou grávida de gêmeos, e foram os filhos que deram o combustível para focar nos estudos e fazer o concurso. “Eu já tinha voltado a estudar, mas não com tanta disciplina. E, quando as crianças nasceram, eu senti realmente a necessidade de ter o emprego melhor. Então, assim, você tem que estudar de verdade. Foi quando eu comecei a estudar mesmo. Havia rumores do concurso da Polícia Civil. Eu já estava estudando para delegada, já tinha um objetivo para a carreira policial. E, pra mim, foi uma grande alegria ter sido aprovada. O TAF também foi um desafio muito grande pra mim. Mas, graças a Deus, deu certo todas as fases. Foi uma grande alegria passar nesse concurso aqui no meu estado, servir aqui no meu estado. Eu acho que tem um significado muito maior, muito mais relevante quando você está na sua terra, é a sua origem”, conta orgulhosa.

Presente

Para fazer o Curso de Formação, Arminda precisou mudar de cidade junto com os filhos. Ela conta com a ajuda de sua mãe para cuidar deles. “Meu marido é servidor público municipal em Quixeramobim. Ele está lá, sozinho, e a gente tá aqui. E minha mãe veio para ficar comigo e meus filhos”.

A aluna já nota o impacto do curso na sua vida e destaca também a qualidade dos profissionais de segurança pública que têm repassado o conhecimento dentro da sala de aula. “O curso é muito além do que é que a gente espera. Aqui, a gente aprende não apenas as técnicas, mas como pessoa mesmo a gente é muito transformado. Eu não prestava atenção quase em nada, não prestava atenção, nem para atravessar a rua, e hoje a minha postura é completamente diferente. Surpreendeu-me a vivência policial que os professores conseguem passar em sala, que a gente consegue pegar isso e internalizar e transformar nossas próprias atitudes, nossa forma de ver a sociedade, de ver o contexto que está ao nosso redor. Todas as disciplinas são excelentes, mas as disciplinas investigativas, principalmente de crimes organizados, crimes do “colarinho branco”, emocionam porque é uma área que eu gosto muito. E ver o quanto a polícia tem recursos, consegue chegar, tem meios, tem estrutura para investigar determinados crimes. Saber disso foi uma surpresa muito boa. E eu espero, um dia, chegar a trabalhar com algo do tipo, em algum momento”, relata Arminda.

Futuro

Para o futuro, a futura inspetora tem planos de continuar estudando e voltar à Aesp como professora ou como futura aluna de um Curso de Formação para Delegados. “Eu espero contribuir com a Polícia Civil da melhor forma que eu puder, espero ser uma boa policial, como eu vejo alguns professores. Quero chegar à Delegacia de Recuperação de Ativos (DRA), que é um conteúdo que eu trabalho há muito tempo e que tenho muita vontade de atuar como policial”, conclui Arminda.