Mulheres no Ceará Sem Fome: o farol da luta social sobre os invisíveis no Cais do Porto

6 de março de 2024 - 08:33 # # #

Ascom Gabinete da Primeira-Dama - Texto e Foto

A personagem da vez é a Dona Meire Calandrini, que coordena a Associação Beneficente Sol Nascente, onde funciona uma Cozinha Ceará Sem Fome

Cheiro de comida gostosa e o som do mar. Assim é a cozinha Ceará Sem Fome da Dona Meire Calandrini, no bairro Cais do Porto, em Fortaleza. Ela é a segunda personagem da série “Mulheres no Ceará Sem Fome”. Lá de onde ela prepara o arroz, o feijão e a “mistura” do dia, qualquer pessoa que chegue já consegue avistar, no quintal, a praia através de uma porta de madeira. A simplicidade aliada à natureza pintam o mais belo dos quadros.

A entidade onde funciona a cozinha é a Associação Beneficente Sol Nascente, na comunidade do Titanzinho. “Quase todos os dias tomo banho na praia, às 17 horas”, revela Meire sobre o privilégio de ter o majestoso mar tão perto de casa. Mas antes desse momento diário, muito trabalho é previsto no roteiro do dia a dia da cozinha Ceará Sem Fome.

Na unidade, que é coordenada por uma mulher negra e periférica, como ela mesma se descreve, várias pessoas se aproximam para receber a refeição, sempre por volta do meio-dia. A grande maioria composta por mulheres. Uma delas, uma jovem que até pouco tempo não tinha carteira de identidade. Agora, por intermédio de Meire, que tem auxiliado a adolescente, o documento deverá sair nos próximos dias. Essa importante informação corroborando com as falas do governador Elmano de Freitas, que denomina as cozinhas do programa como “iscas ativas”, ou seja, são espaços por onde o poder público chegará até essas pessoas ainda invisíveis.

“O Ceará Sem Fome agrega não só a alimentação. Acolhemos também aquela mulher dentro das necessidades dela. Têm umas que precisam tirar uma identidade, que é menor de idade e que já é mãe solo, por exemplo. Então, o programa não veio agregar só a questão de receber a quentinha, mas sim de ver aquela mulher que precisa de um ouvir, de uma atenção e de conhecer seus direitos”, destaca.

Refeições do dia já entregues aos beneficiários, agora Dona Meire senta um pouco e tem a oportunidade de contar parte de sua história. Ela fala que sua trajetória profissional iniciou no comércio de Fortaleza, na década de 90, onde sentiu muito preconceito. “Eu sentia o preconceito com o fato de eu ser negra. Mas isso nunca me abateu, não, sabe? Eu levantava a cabeça e dizia assim: eu vou à luta. Então, com um determinado tempo, eu comecei a estudar”, narra.

Após iniciar os caminhos do ensino superior, ela comenta que o engajamento com as causas sociais se tornaram ainda mais latentes. “Diante de tantas lutas de mulheres, de perguntas e do que a mulher queria, o que a mulher desejava e por que há muitos entraves no direito da mulher, eu, por ser periférica, negra, e por correr atrás do objetivo, então eu me vi assim: não, eu vou me formar. Aí, por incrível que pareça, eu me formei em serviço social”, comenta com orgulho.

A luta social e a formação profissional foram fundamentais, por exemplo, para que a Associação Beneficente Sol Nascente desse seus primeiros passos durante a pandemia da Covid-19. O trabalho foi fortalecido com a chegada do Ceará Sem Fome, em 2023. “A luta social já vem de sangue e o mais forte é a participação feminina”, destaca. Ela encerra deixando uma fala para todas as mulheres, especialmente aquelas que fazem o programa:

“É com muito prazer, muito amor e muito carinho, que eu digo a todas as mulheres do Ceará Sem Fome: um Feliz Dia das Mulheres. E que se amem, que se respeitem e que digam: eu sou mulher e eu mereço ser feliz”, finaliza.