“Passado, Presente, Futuro”: A trajetória dos sonhos de futuros profissionais da Segurança Pública

5 de março de 2024 - 09:31 # # # # #

Ascom Aesp-CE - Texto e Fotos

O oitavo episódio do quadro “Passado, Presente e Futuro” vai contar a história de Raquel de Lima Correia, aluna-soldado do Curso de Formação de Soldados da PMCE

Primeiro, uma indisposição. Depois, o diagnóstico de uma virose. Por fim, o exame positivo: gravidez.

Sonho para muitas mulheres, o momento não foi dos mais fáceis para a menina de Caucaia que queria ser soldado da Polícia Militar do Ceará. Já na Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp/CE), em pleno andamento do Curso de Formação Profissional da PMCE, a gestação mais do que surpreendeu, foi suficiente para o adiamento de um sonho. Hoje, de volta a esta Academia, novamente no Curso de Formação de Soldados, a militar começa a enxergar um novo futuro.

Passado

A família pouco numerosa era grande em união. O pai, mecânico, não era militar, mas comandava o lar com disciplina. A mãe, dona de casa, capitaneou com rigor a educação dos filhos. Raquel e o irmão foram crianças em um lar de proteção.

“Vim de uma família pequena. Éramos apenas meu pai, minha mãe, meu irmão e eu. Eu sou a mais nova. A infância foi tranquila. Lá em casa havia uma disciplina bem rigorosa, não militar, mas rigorosa”, recorda.

A menina cresceu e percebeu o mundo maior a seu redor em um curso de nível superior: Processos Gerenciais. Com o diploma na mão, porém, a realidade não foi das mais fáceis. “Nunca consegui trabalho na área, sempre trabalhei como vendedora”, detalha. Com o irmão já morando em outro estado, Santa Catarina, veio a ideia de estudar para concurso público. O curso preparatório foi interrompido pela pandemia. O estudo e a preparação, porém, seguiram em casa.

Foram tempos de muita dedicação. “Passei dois anos abdicando de fim de semana ao lado da minha família. Meu pai sentia muito isso, porque eu sempre fui muito apegada, por ser a caçula, sempre estava ali, na cola. “Vamos pra tal canto”. E eu dizia: “Não, vou estudar”. E ele começou a ver que realmente tava levando muito a sério. Então, quando houve a aprovação (no concurso da PMCE), eu – de início – não acreditei. Foi um momento bem marcante, quando eu vi lá meu nome, realmente no final de todas as etapas, e quando eu dei a notícia pra ele, todo mundo se emocionou. Sou a primeira militar na família”, complementa.

Uma vez aprovada e convocada, chegava o momento de a primeira militar da família dar início ao Curso de Formação. No entanto, logo nas primeiras semanas, houve alterações nos planos…“Com um mês de curso de formação, eu comecei a me sentir mal. Senti náuseas. O monitor me liberou para ir ao hospital. Lá, falaram que era apenas uma virose. Mas persistiu pelo segundo dia, voltei novamente à emergência, persistiram no mesmo diagnóstico, de que era somente uma virose”, pontua.

O que parecia ser um problema de saúde sem maiores preocupações logo se tornou uma mudança de rumo. De vidas, aliás. “Decidi por conta própria fazer o teste (de gravidez). Foi quando deu o positivo. Eu estava com uma gestação de quase dois meses”, resume. A mamãe do João Javi já estava com 30 anos. “Quando eu recebi a notícia foi um baque”, rememora.

“Tanto pra mim como pra minha família. Na verdade, para meus pais foi uma alegria. Nunca tinha falado em querer ser mãe, Então, ele (pai) tinha certa preocupação que ia ficar muito tarde. Mas a sensação em mim realmente foi aquele misto de emoção e, ao mesmo tempo, de preocupação, porque eu sabia que nos antigos concursos seria eliminada. Já nesse novo tinha acabado de mudar a legislação, mas você fica com aquela insegurança. Como é que vai ser, né? Acho que eu cheguei a ser afastada com um pouco mais de dois meses”, descreve.

Com o afastamento do Curso, todavia, veio uma oportunidade: a área administrativa da PMCE. “Tive realmente um verdadeiro contato com a Polícia Militar, que foi onde eu fui trabalhar no batalhão, na CGP (Coordenadoria de Gestão de Pessoas). Lá, fiquei à disposição da CODIP (Coordenadoria de Desenvolvimento Institucional e Planejamento), porque trabalhei diretamente com a coronel Asmenha (Torquato), alguns outros coronéis do setor, alguns sargentos. Foi quando eu realmente fui conhecer o trabalho da PM. De fora, a gente vê ali o policiamento ostensivo, a gente não entende muito bem como é o interno. Foi quando eu comecei a ver e me encantei mais ainda”, conta sorridente.

Presente

São muitos os sonhos que se avizinham…

“O meu retorno ao Curso de Formação, mesmo depois de três anos, está muito positivo, Eu estava parada, não estava estudando, e agora voltar a dar aquele aspecto bom novamente. Você volta à ativa, pega novamente o ritmo. Eu estou numa turma muito boa, e a gente vê os meninos bem estudiosos, e lhe anima também”, conta a mamãe.

“Em relação ao curso mesmo, é bem positivo. Percebo que é bem diferente. Até agora a gente está tendo profissionais, instrutores mesmos. A gente vê que tem uma pessoa que é de um conhecimento bem amplo”, narra.

Uma vez militar, ela já percebe um pouco do futuro que se aproxima.

“Você ser uma mulher militar, de início, tem meio que um preconceito da sociedade, que a gente acaba enfrentando. Quando você fala que você estuda para a carreira policial, as pessoas já lhe olham com um olhar diferente, um olhar meio crítico. E você está numa posição dessa, tem que impor um comando, essa seriedade”, afirma Raquel.

“Eu tenho a dizer que a mulher hoje dentro da corporação é bastante valorizada, bastante vista dentro da corporação e respeitada principalmente. E o que eu tenho a dizer é exatamente isso: não é porque você é mulher que você tem que estar lá embaixo, não é que você tem que se diminuir a nenhum cargo, a nenhum homem ou nada disso. Você tem que se impor e mostrar o que você é e o que você é capaz”, assegura.

Futuro

Gratidão é um sentimento que a aluna-soldado vai levar para a vida.

“O sentimento realmente é de gratidão. Pelo Estado, pela forma que ele trata a gente, do conhecimento que ele passa para a gente. Acho que quem está lá fora não tem noção. São seis meses, eu fiz dois praticamente, mas são seis logos meses de bastante conhecimento. Sobre a experiência: contribuir exatamente colocando em prática o que o Estado está me proporcionando, todo o conhecimento.

Aluna-soldado, ela já vislumbra a próxima década… Ela já terá sido promovida. E o João Javi será um garotão com oportunidades diferentes…

“Eu já vou ter virado cabo, né? Eu acho que hoje o meu principal objetivo na minha vida é proporcionar ao meu filho o que eu não tive”, resume a previsão.

“Os meus pais não tinham muita condição. Então, acho que, hoje, o que eu almejo exatamente é melhorar o meu currículo. Já sou formada, quero me especializar e poder proporcionar a vida melhor ao meu filho”, confessa.